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Mastite clínica em vacas leiteiras suplementadas com selênio e vitamina E (página 2)

M.S.V. Salles; M.A. Zanetti; G.R. Del Claro; A.S. Netto; R. Franzolin

A deficiência de selênio foi constatada em várias regiões do Estado de São Paulo, por meio do levantamento dos níveis de selênio nas forragens e nos concentrados (Lucci et al., 1984), assim como no soro sangüíneo de vacas leiteiras (Zanetti et al., 1984). Os volumosos conservados apresentam baixas concentrações de vitamina E (Thafvelin & Oksanen, 1966) e são amplamente utilizados na alimentação de rebanhos leiteiros. Durante o período pré-parto, o consumo de matéria seca diminui, assim como o consumo de vitamina E e selênio (Miller et al., 1995).

O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito da suplementação de selênio e de vitamina E, no pré-parto, sobre a prevalência de mastite clínica em vacas da raça Holandesa.

O experimento foi conduzido na Fazenda Copacabana, Município de Descalvado, SP. Oitenta vacas da raça Holandesa, de segunda a quinta lactação, foram pré-selecionadas durante o período seco, de acordo com a data prevista de parição, variando de 2/2/2001 a 23/3/2001. Todos os animais selecionados foram tratados com antibiótico intramamário específico para vacas secas, no momento da secagem.

As unidades experimentais foram sorteadas em quatro tratamentos, levando-se em consideração a ordem de parição e a contagem inicial de células somáticas: selênio _ 2,5 mg na forma de selenito de sódio; vitamina E _ 1.000 UI na forma de acetato de alfa tocoferol; selênio + vitamina E _ a soma do selênio e da vitamina E; controle _ ausência de selênio e de vitamina E. Com relação à prevalência de mastite clínica, os tratamentos foram agrupados e somados em função da presença e ausência de selênio e da presença e ausência de vitamina E.

A suplementação foi efetuada com selenito de sódio (P.A. Merck), diluído em fubá de milho, de modo que cada kg do suplemento continha 500 mg de selênio. O acetato de alfa tocoferol (BASF - Lutavit E 50%) também foi diluído em fubá de milho e a dose diária individual dos dois elementos foi pesada e armazenada em saquinhos de papel (13,5x7,0 cm). A suplementação iniciou-se 30 dias antes da provável data de parição, prolongando-se até a data do parto.

As vacas secas receberam silagem de milho (22 kg na matéria original vaca-1 dia-1 ), silagem de capim napier (5 kg na matéria original vaca-1 dia-1 ) e concentrado formulado e misturado na própria fazenda (4 kg na matéria original vaca-1 dia-1 ). Todos os ingredientes foram pesados em um vagão misturador e fornecidos aos animais pela manhã.

Amostras do volumoso e do concentrado, fornecidas às vacas secas, foram colhidas, quinzenalmente, diretamente do cocho, secadas em estufa a 65ºC, moídas e reservadas para posterior análise. Vinte por cento de cada amostra foi selecionado para a formação de um "pool" o qual foi submetido às análises de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), Ca, P de acordo com AOAC (1990), fibra em detergente neutro (FDN) (Goering & Van Soest, 1970) e selênio (Olson et al., 1975).

Quatro coletas de sangue foram realizadas em cada vaca, para análise do selênio, antes da suplementação, no dia do parto, 30 e 60 dias após o parto. As amostras foram extraídas da veia mamária, em tubos com vácuo, transportadas ao laboratório e centrifugadas por quatro minutos. O soro foi pipetado, acondicionado em eppendorfs de plástico e congelado a -20ºC. As análises para determinação do selênio foram realizadas após a digestão úmida com ácido perclórico 70% e posterior leitura fluorimétrica, seguindo-se a sensibilização por diamino-naftaleno (Olson et al., 1975).

O exame de Tamis e a observação de alterações no úbere (edema, hipertermia, hiperemia e sensibilidade) foram realizados semanalmente, à tarde, seguindo a rotina geral de ordenha. O teste consistiu em retirar os primeiros jatos de leite do quarto mamário sobre uma caneca de fundo telado para visualização de alterações no leite que caracterizam a mastite clínica (Radostitis, 1994).

O delineamento utilizado foi em blocos casualizados e os blocos foram formados de acordo com a ordem de parição. Os níveis de selênio no soro foram comparados em cada período de coleta utilizando Proc Glm do SAS (1982).

Os resultados relativos à mastite clínica foram avaliados por meio do Proc Glm do SAS (1982), considerando a presença e a ausência de mastite como números binários (resposta do tipo tudo ou nada).

O teor médio do selênio, na dieta basal durante o período experimental, foi de 0,47 mg kg-1, valor superior ao encontrado nas fazendas do Estado de São Paulo na década de 80 (Lucci et al., 1984).

Antes da suplementação, os níveis séricos do selênio foram semelhantes entre os tratamentos (Tabela 1) e superiores àqueles encontrados por Zanetti et al. (1984), por apresentar maior concentração de selênio na dieta basal. Esses níveis denotam insuficiência do mineral, uma vez que o valor recomendável para o aumento da resistência da glândula mamária é de 0,080 mg mL-1 (Weiss et al., 1990). No momento do parto, ou seja, um mês após a suplementação, as vacas que receberam selênio ou selênio associado à vitamina E apresentaram níveis séricos superiores (p<0,05) ao grupo controle (0,082; 0,085; 0,069 mg mL-1, respectivamente), alcançando os níveis recomendados, mostrando que o período de suplementação foi suficiente. Estes resultados são semelhantes aos obtidos por Zanetti et al. (1998), que encontraram aumento significativo nos níveis séricos do selênio após 30 dias de suplementação com o mineral.

Trinta dias após o parto, os níveis séricos do selênio se igualaram. Tal fato pode ser explicado pelo término da suplementação e pela alteração da dieta de todos os animais, pois, estando em produção, todos os grupos passaram a receber maior quantidade de concentrado por dia, e, conseqüentemente, maior quantidade de selênio.

Não foi encontrado efeito do selênio e da vitamina E na prevalência de mastite clínica (Tabela 2). No entanto, os tratamentos vitamina E e selênio apresentaram incidência de casos 50% e 31% inferiores ao grupo controle (Tabela 2). Smith et al. (1984) verificaram redução de 37% na incidência de mastite clínica atribuída à suplementação com 0,74 g de vitamina E.

Batra et al. (1992) não detectaram diferenças na ocorrência de mastite clínica entre o grupo controle e o grupo suplementado com 1.000 UI de vitamina E por dia. Por outro lado, Weiss et al. (1997) observaram redução de 88% na mastite clínica, quando utilizaram doses mais elevadas dessa vitamina.

Costa et al. (1997) e Malbe et al. (2003) não obtiveram resultados positivos sobre a prevalência de mastite clínica quando suplementaram vacas com baixas doses de selênio.

Erskine et al. (1990), trabalhando com vacas acometidas por Staphylococcus aureus, não encontraram efeito da suplementação com 2 mg de selênio por dia sobre a severidade dos casos e a duração dos sintomas da doença. Resultados mais significativos foram obtidos quando doses mais elevadas de selênio (Weiss et al., 1990; Paschoal et al., 2003) e de vitamina E (Weiss et al., 1997; Valle, 2000) foram utilizadas.

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 Artigo original: "Pesq. agropec. bras., Out 2005, vol.40, no.10, p.1043-1046. ISSN 0100-204X" 

Juliana Jorge Paschoal; Marcus Antonio Zanetti; José Aparecido Cunha
mzanetti[arroba]usp.br

Universidade de São Paulo, Fac. de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Avenida Duque de Caxias Norte, nº 225, CEP 13600-000 Pirassununga, SP. E-mail: julianajp[arroba]yahoo.com.br , mzanetti[arroba]usp.br , jcunha[arroba]usp.br



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