Ração concentrada para bovinos -sistemas em uso e nova perspectiva baseada na cinética de saturação enzimática de Michaelis-Menten e Lineweaver-Burk



1. Introdução

Os padrões alimentares têm sido utilizados por quase dois séculos nos cálculos de rações para os animais domésticos (FLATT, 1988). Entretanto, o novo sistema de recomendações nutricionais para bovinos de corte dos EUA (NRC, 1996) e o sistema Cornell -CNCPS 3.0 (RUSSELL et al., 1992; SNIFFEN et al., 1992; FOX et al., 1992) apresentam programas de cálculo de rações para uso em microcomputadores, que só permitem formular rações para atender os requerimentos nutricionais de energia e proteína. O sistema Britânico (AFRC, 1993) não dispõe de programas para formulação de rações e somente em 2001 (NRC, 2001) e em 2003 (CNCPS 5.0) foram divulgados programas para formular rações para atender às exigências de energia, proteína, minerais e vitaminas dos bovinos.

Os sistemas de avaliação de alimentos e exigências nutricionais de bovinos de leite e de corte (AFRC, 1993; NRC, 1996; NRC, 2001; e Sistema Cornell – CNCPS) foram desenvolvidos em países de clima temperado, como os Estados Unidos e Inglaterra, com animais, alimentos e sistemas de produção diferentes daqueles aqui encontrados. Nos Estados Unidos, a produção de leite é obtida basicamente com vacas Holandesas puras, confinadas e consumindo silagem de milho e ração concentrada. A produção de gado de corte ocorre com bovinos Bos taurus, puros ou mestiços, a pasto e com grande participação de terminação em confinamento. No Brasil, a situação é totalmente diferente, conforme apresentado a seguir.

2. Realidades da produção de carne bovina e produção de leite no Brasil

O Brasil possui a segunda maior população bovina, o maior rebanho comercial do mundo -cerca de 185 milhões de cabeças em 2002, e foi o maior exportador mundial de carne bovina em 2003, com 30,2 milhões de cabeças abatidas (IBGE, 2003). Há predominância de gado Zebuíno e seus mestiços, criado basicamente em pastagens e suplementado apenas com misturas minerais (SOUSA, 1985), devido ao menor custo de produção em detrimento do menor desempenho animal.

Em 2002, cerca de 2,43 milhões de animais receberam suplementação de terminação a pasto e 1,91 milhões foram confinados (ANUALPEC, 2003), ou em outras palavras, cerca de 8,0 e 6,3%, respectivamente, dos animais abatidos, considerando o total de animais abatidos semelhante ao do ano de 2003. Na fase de terminação no período da seca, há aumento de 18% no peso corporal (370 para 450 kg), ou seja, 80 quilos em oitenta dias, dos quais no máximo a metade é proporcionada pelo uso de concentrado (estímulo de 0,5 kg/animal/dia com uso de 4 kg de ração). Baseado nestas informações, pode-se verificar que no máximo 1,3% da carne bovina brasileira ((8,0%+6,3%) * 18/100 * 1/2) é produzida pelo uso de ração ou suplemento concentrado durante a fase de terminação.

O sistema de produção de leite predominante no Brasil também é com bovinos mestiços Holandês com raças zebuínas, sob pastejo, e sem ou com uso limitado de ração concentrada, devido à mesma onerar o custo de produção. Este fato pode ser constatado uma vez que aproximadamente 65% da produção de leite em Minas Gerais -representativa da produção Brasileira, é obtida por produtores com produção menor que 200 litros/dia; 59% dos produtores produzem menos de 50 litros/dia; e a produtividade em litros/vaca ordenhada/ano é de 897 litros (897/365 = 2,5 litros/vaca/dia) (SEBRAE-MG/FAEMG, 1996).

Uma excelente publicação intitulada "O Pesquisador, o Estatístico e a Sociedade", apresentada por MATOS (1993), deve ser lida e analisada pelos pesquisadores, em termos do desenvolvimento de pesquisas que verdadeiramente levem à melhoria da produção agrícola e melhoria das condições de vida dos agricultores brasileiros. Estes são muitas vezes discriminados pelos baixos índices de adoção de tecnologia e produtividade, mas que ao mesmo tempo são os que conjuntamente contribuem para que o Brasil seja atualmente o maior exportador mundial de carne bovina - 1,4 milhões de toneladas por ano (USDA, 2004), e o sexto maior produtor de leite do planeta - 21,1 bilhões de toneladas por ano (TANABE & SOARES, 2003).

MATOS (1993) afirma que "a identificação incorreta da unidade experimental, falta de conhecimento a respeito de meios para reduzir o erro experimental, completa falta de identidade dos tratamentos avaliados, ênfase excessiva em testar hipóteses em detrimento de estimativas dos efeitos dos tratamentos estudados são os principais problemas detectados em trabalhos publicados nas revistas científicas". Relata ainda que "muitas vezes estes descuidos têm levado a conclusões errôneas e a recomendações equivocadas, as quais, em vez de contribuir, podem até prejudicar o desenvolvimento do setor agropecuário do país".


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