Saber popular sobre dores nas costas em mulheres nordestinas



  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Métodos
  4. Resultados e discussão
  5. Conclusão e sugestões
  6. Referências

RESUMO

Analisar e compreender o pensamento e a ação das pessoas que referem dores nas costas tornam-se atos relevantes, no momento em que podem fazer parte da explicação e da cura de sua doença. Trata-se de estudo qualitativo, com enfoque antropológico, realizado nos meses de janeiro a fevereiro de 2005, com mulheres na faixa etária entre 45 a 58 anos, com dores crônicas nas costas, que participavam de um grupo de apoio à saúde de mulheres no climatério numa instituição de ensino em Fortaleza, Ceará. Foram realizadas nove (9) entrevistas etnográficas em profundidade, explorando suas perturbações, estratégias de enfrentamento, noção de qualidade de vida e barreiras para atingi-la, além de aspectos relacionados às dores na coluna. Observou-se que a dor envolve problemas e soluções de ordem cultural, psicoespiritual, socioeconômica, política e educacional. Apesar de os informantes terem baixo nível de escolaridade, apresentaram uma visão holística de saúde, mecanismos de enfrentamento e busca da cura. Atividades relacionadas ao seu dia-a-dia podem ser traduzidas como risco cultural e por isso precisam ser consideradas. Conclui-se que há necessidade de rever o contexto sociocultural, econômico, político e ambiental para desenvolver ações educativas na promoção da saúde.

Palavras-chave: Cultura, Dor nas costas, Mulher

Popular knowledge related to back pain in northeastern Brazilian women

ABSTRACT

Analyzing and understanding people's conceptions and actions regarding back pain is relevant since they can be part of the disease's explanation and cure. The nature of this study is qualitative with an anthropological focus. It was carried out from January to February, 2005 with nine women between 45 and 58 years of age with chronic back pains who participated in a health support group for menopausal women in a teaching institution in Fortaleza, Ceará. Nine (9) in-depth ethnographic interviews were conducted with key informants exploring their problems, worries, coping strategies, their notion of quality of life and barriers to achieving this, especially as related to back pain. It was observed that back pain encompasses problems and solutions ranging from psychological, socioeconomic and political to educational aspects. Despite informants' low educational levels, they present a holistic view of health and a rich coping and cure-seeking experience. Because daily life activities can be considered as cultural risk, they need to be considered. It is, thus, necessary to consider the socio-cultural, economic, political and environmental context, in order to develop educational actions to promote health.

Key words: Culture, Back pain, Women

Introdução

Entendemos que a dor modifica e limita aspectos da qualidade de vida, porquanto impõe ao seu portador mudanças que causam transtornos pessoais, conflitos sociais e perdas afetivas, familiares, da autonomia e interrupção de projetos de vida. Em 1969, o antropólogo Zborowski1 descobriu a dimensão sociocultural de conviver com a dor crônica e, mais recentemente, em 1992, os antropólogos Good e Mary-Jo DelVecchio2 exploraram, com maior profundidade, a experiência humana com dor crônica. Apesar desses estudos, ainda persistem grandes lacunas na nossa compreensão sobre essa experiência humana em relação a esta sensação dolorosa em contextos culturais variados.

Schmidt et al.3 referem que cerca de 80% da população, em algum momento de sua vida, já experimentaram a queixa de dores na coluna e a incidência e a prevalência deste sintoma são de tal modo freqüentes que devem ser estudadas como desordens epidêmicas, sociais e que causam grandes prejuízos econômicos, pois é a queixa mais reiterada nos serviços de saúde, a principal causa de afastamento do trabalho e de benefícios requeridos à Previdência em razão da deficiência causada.

As algias da coluna podem estar relacionadas a problemas de ordem postural, em decorrência das atividades diárias; de fatores ambientais inadequados - sejam familiares, profissionais ou de estudo; de mudanças de estrutura corporal, como o estado de gravidez e obesidade; da permanência por prolongado tempo em incorreta posição sentado, em pé ou no ato de dirigir veículo automotor; do tipo de trabalho e nível de atividade física; em razão de comportamentos sedentários4. Nas mulheres no climatério, a insuficiência ovariana secundária ao esgotamento dos folículos primordiais leva a uma diminuição dos hormônios sexuais que, por sua vez, tornam a mulher susceptível a uma série de doenças, dentre as quais os sintomas mais freqüentes relatado por elas são as sensações álgicas da coluna espinhal5. Além disso, variáveis genéticas, psicossociais, econômicas, acesso às políticas sociais, educacionais e de saúde, precárias condições de vida e de saúde, também podem influenciar no agravamento da sintomatologia, conforme referem Bringuente et al. 6.

Assim, fazem-se necessárias ações em torno da Promoção de Saúde, principalmente no nível primário de atenção, para que haja um controle dos custos, cada vez mais crescentes na assistência médica e que não correspondem a resultados igualmente significativos, partindo de uma abordagem mediante a qual se reconheçam diferenças entre as pessoas; a identificação e ação sobre os fatores de risco na comunidade; acompanhamento e identificação dos problemas enquanto não estão resolvidos7.


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