Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 


Estrangeirismos: por que proibi-los? (página 2)

Graziela Alves

(...) Em termos de língua, ainda vivemos culturalmente numa fase pré-científica e, portanto, dogmática e obscurantista (FARACO, 2001, p. 38-39)

2 LÍNGUA E LINGUAGEM

Muitas análises, discussões, comentários se tem feito sobre a língua no Brasil, não só a língua falada ou escrita, mais também suas variantes, a norma padrão (culta), sobre os conceitos de linguagem, sobre a questão da dominação, de se ter uma língua única e pura, sobre a identidade nacional, e mais recentemente essas reflexões têm se voltado mais particularmente sobre o uso de estrangeirismos, tendo-se até criado um projeto de lei que o proíbe no Brasil. Esse projeto na verdade é fruto da imaginação do deputado Aldo Rebelo.

Mas antes de se fazer comentários, análises dessas pesquisas e reflexões feitas, por diversas pessoas da sociedade, incluindo desde os estudiosos da língua, como os lingüistas, professores de língua portuguesa, como também de políticos, jornalistas e demais pessoas leigas no assunto, pessoas que usam do senso comum para tratar de um assunto que é de interesse nacional, mas que requer o mínimo de conhecimento da língua para que possa ser congruente, é mister deixar claro alguns conceitos do que fora citado supra, para que se possa melhor entender esse "problema", se é que se pode assim dizer.

Para Oliveira (1974), p. 13) "Linguagem é um sistema de sinais de que o homem se serve para comunicar-se dentro de seu meio social." Já língua, segundo o mesmo autor, "(...) é um repertório coletivo de sinais, pelo qual o ser humano realiza a comunicação (...)."

Portanto, percebe-se que para que haja comunicação é preciso que se faça uso de alguns sinais que possam ser entendidos tanto pelo emissor, quanto pelo receptor da mensagem. Essa comunicação pode ocorrer utilizando mímicas (expressões faciais, corporais, gestos) ou pela linguagem verbal (escrita ou falada).

Cada sujeito se expressa da forma que lhe for mais conveniente respeitando ou não à norma dita culta (padrão) da língua, e é essa execução individual da língua no ato da comunicação que constituirá o discurso. Cada indivíduo pode ter um discurso diferenciado, o mais importante é fazer-se entender. Principalmente na linguagem falada, que não requer muitas regras, não segue muito o padrão dito correto, pois parte da individualidade de cada um.

Por isso, é que falar, na visão de Oliveira (1974, p.13) "(...) vem a ser peculiaridade expressiva própria de uma região e que não apresenta o grau de coerência alcançado pelo dialeto: o falar gaúcho, o falar carioca".

Muitos preconceitos lingüísticos e exclusão social têm surgido devido à utilização correta ou não da língua portuguesa no Brasil, muitos ainda não admitem que existem variações, considerando assim qualquer desvio da norma culta como erro. Estes defendem a língua portuguesa, como se ela ainda fosse a mesma dos tempos de Cabral.

Para Hinskens et al. (2000 apud RIZZATTI et al., 2002, p. 63) "A variação é uma característica essencial da língua (...) heterogeneidade e variação não são anormalidades, mas parte da condição normal da língua". 

3 ESTRANGEIRISMOS

Como já dito anteriormente, não só essas variantes, os dialetos, têm sido objeto de estudo e pesquisas, mas principalmente o uso (tido como exagerado por alguns) de estrangeirismos no Brasil. Mas, afinal, o que são estrangeirismos?

Tomando-se uma definição mais denotativa do termo, tem-se no Minidicionário da Língua Portuguesa, que "estrangeirismo: palavra, locução ou construção frasal própria de língua estrangeira". (XIMENES, 2000, p.325)

Sugerindo um conceito mais amplo, tem-se que estrangeirismo é uma forma de empréstimo, é a utilização de elementos de outras línguas na "nossa nacional". No caso brasileiro, seria o uso de palavras e expressões, do inglês, francês, espanhol,... no português. (GARCEZ; ZILLES apud FARACO, 2001).

Toda a discussão começa tendo como base o projeto de lei (nº 1676/99), do deputado Aldo Rebelo, que declara que o uso de estrangeirismos no Brasil seria prejudicial ao patrimônio cultural brasileiro, pontuando também que a língua portuguesa estaria sendo descaracterizada e ameaçada, já que esta é pura e faz parte da identidade nacional do Brasil. Assim, esse projeto visa a proibição do uso de qualquer palavra ou expressão estrangeira por qualquer indivíduo, incluindo estrangeiros que morem há mais de um ano aqui. 

3.1 NA PERSPECTIVA DA LEI

Primeiramente, antes de se ater aos quesitos que proíbem o uso de estrangeirismos no Brasil, e de se fazer essa análise, é importante ressaltar que esses estudos feitos a favor dessa proibição, já estariam totalmente descartados ou desconfigurados por não seguirem o que manda a lei maior que rege a vida da população do Brasil, a tão (ou pouco) conhecida, Constituição Brasileira, que afirma no seu artigo 5º, que trata que: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: observe agora alguns dos principais parágrafos do citado artigo:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de bens sem o devido processo legal;

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; (disponível em: . Acesso em: 05 set. 2004.)

Bem, apenas com o suporte da lei que garante a liberdade de expressão, seria o suficiente para vetar o projeto de lei nº 1676/99, ou qualquer outra manifestação que quisesse por hora proibir o uso de palavras ou expressões estrangeiras no Brasil. Mas, no entanto, deseja-se fazer um estudo um pouco mais profundo da questão.

3.2 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PROJETO DE LEI Nº 1676/99 DO DEPUTADO ALDO REBELO

é fato que a língua, sendo um organismo vivo, está sujeita a sofrer mudanças, transformações. Ela não é estática, inerte, imutável, até mesmo por ela depender da participação do indivíduo; isso ocorre com todas as línguas. Desde o primeiro dia que "foi implantada, ensinada, inculcada" a língua portuguesa no Brasil, ela já começou a sofrer mutações, pois os indivíduos que ensinavam nem sempre eram os mesmos, portanto cada um tinha o seu modo próprio de falar e ensinar possuíam uma bagagem lingüística própria, pode-se assim dizer, individual, e também os colonizados, por mais 'humildes" que pudessem ser, já tinham consigo incorporados outros conhecimentos lingüísticos. Portanto é impossível que se diga que a língua portuguesa é pura, única e "antialérgica'' a mudanças.

Marcos Bagno acrescenta que:

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato, a ciência lingüística já demonstrou fartamente que as línguas não se desenvolvem, não progridem, não decaem, não evoluem, nem agem conforme qualquer uma dessas metáforas, que implicam um ponto final específico e um nível de excelência: as línguas simplesmente mudam (...) (BAGNO apud FARACO, 2001, p. 70).

Na verdade, segundo David Crystal (citado por Marcos Bagno), "a língua muda porque a sociedade muda" (BAGNO apud FARACO, 2001, p.70).

Se os cidadãos retroagirem na história brasileira, perceberão e chegarão à seguinte conclusão: de que a língua oficial do país deveria ser o tupi guarani, língua dos índios que aqui viviam quando os portugueses chegaram, pois a língua que chamam de brasileira é na verdade um empréstimo, vendo por essa ótica a língua portuguesa no Brasil, tida como "nossa", já é um estrangeirismo desde 1500.

Outro ponto que é interessante que se analise, é a dificuldade na distinção do que é ou não é estrangeirismo, pois na verdade, nenhuma língua surge do acaso, todas têm influências de outras línguas. Então será que estrangeirismos são apenas as palavras ou expressões que se estão ulitizando agora, ou se for verificar mais profundamente, perceberar-se-á que a própria língua portuguesa é um empréstimo, portanto, um estrangeirismo, pois "adotamos" o português, como sendo a língua pura e única do Brasil (língua mãe), mas antes ela era a língua de Portugal, que por sua vez, surgiu com o latim vulgar, e toda a história da evolução da língua que se conhece.

Distinguir, na verdade, o que são, ou não são estrangeirismos já não é uma tarefa simples de se fazer, já que a língua portuguesa é uma miscelánea de outras línguas e culturas.       O citado anteriormente é corroborado por Pedro M. Garcez e Ana Maria S. Zilles, que tratam o seguinte:

(...) Desse modo, um primeiro exame de possíveis critérios que conferem a um empréstimo lingüístico o caráter de estrangeirismo nos mostra que nem sempre é claro o status de um elemento emprestado. Status, por exemplo, é termo latino e, portanto...?? seria português, pois, afinal, o português veio do latim? ou seria estrangeirismo, já que se trata de termo erudito, tomado emprestado do latim depois que o português já era português? (...) (GARCEZ; ZILLES apud FARACO, 2001, p.18).

Esse foi apenas um dos exemplos mostrados, mas existem muitos outros. Não se pode deixar de falar também nas variantes que se tem dentro da própria língua portuguesa falada no Brasil. Muitas palavras têm a escrita e a pronúncia totalmente diversas umas das outras, e se está falando e escrevendo a mesma língua (portuguesa). Já não se pode dizer que a nossa língua é pura, única, liberta de influências. Se duvidar muitos que vivem dentro do Brasil não conseguem entender outros, também brasileiros, devido às diferenças dialetais.

Muitos tratam que o uso de estrangeirismos dificultaria a compreensão da mensagem por todos, mas será que se as pessoas falarem e escreverem em português, também conseguirão atingir todos de maneira igual? é claro que não, nem todas as pessoas às vezes têm acesso a um linguajar jurídico, médico, mais rebuscado, muitas vezes as pessoas se sentem analfabetas, iletradas ao lerem textos em português, porque não conseguem entendê-los, e nem por isso estão usando estrangeirismos, então cai por terra o comentário de que o uso de palavras e expressões estrangeiras estaria dificultando a comunicação. (GARCEZ; ZILLES apud FARACO, 2001)

Será que todos os brasileiros, falantes da língua portuguesa, conseguem ler ou entender, um projeto de lei, um contrato, uma bula,... Com certeza existem problemas na comunicação dos brasileiros, mas isso não se deve ao fato de alguns usar expressões estrangeiras ou não. Não se trata de que língua se está falando, mas sim o nível. O que falta ao brasileiro é mais informação e acesso a uma boa educação, com boas escolas, bons livros,... Poderia até ter certo sentido o que o deputado Aldo Rebelo cita se no Brasil tivéssemos todas as pessoas alfabetizadas, letradas, ou melhor, donas de um conhecimento de senso comum e técnico que conseguisse persuadir, compreender e participar de todos os eventos e debates que exigissem um conhecimento de tal assunto. Se todos entendessem tudo em português, daí até se poderia levar em conta tais argumentações do projeto de lei.

Outro fato que é bastante plausível de discussões é como seriam feitas essas proibições (de usar expressões e palavras de origem estrangeiras), quantos fiscais seriam necessários para fiscalizar, e como fiscalizar? Teria, que no mínimo ter um fiscal para cada brasileiro, vinte e quatro horas por dia, pois só assim para poder ter um certo "controle" sobre a língua das pessoas. Falar é um ato natural, não é uma lei que vai impedir as pessoas de se comunicarem da forma que lhes for mais conveniente. Que multa seria aplicada? E será que todos esses fiscais saberiam diferenciar o que são ou não são estrangeirismos? é uma questão realmente difícil de se controlar, para não dizer impossível. Sem falar é claro dos fiscais que precisaria para fiscalizar os próprios fiscais, quem iria garantir que eles também não fossem cometer tais "deslizes" perante a lei. (ZILLES, apud FARACO, 2001)·.

Chega até ser ridículo, alguém querer que se aprove esse tipo de projeto proibindo as pessoas de se comunicarem livremente, com tantos problemas mais graves que o Brasil tem, por que eles não vão se preocupar com a economia, com a distribuição igualitária de renda, com a moradia, com a seca, com a fome, com a educação. Não se pode desprezar aqui, é importante ressaltar, alguns pontos que o deputado deixa claro no projeto, onde o mesmo cita a importáncia de se investir na educação dos brasileiros, mas o maior problema é que esse não é o ponto principal do seu projeto, mas sim, a proibição do uso de estrangeirismos.

Feita a leitura do projeto de lei do deputado Aldo Rebelo, onde o mesmo trata da defesa da língua portuguesa do Brasil, uma língua "pura e única" (o deputado esqueceu é lógico do processo de invasão e usurpação na implantação da língua no Brasil), tem-se a impressão de que os brasileiros devam ser como Policarpo Quaresma, personagem principal do livro Triste Fim de Policarpo Quaresma, do autor brasileiro Lima Barreto, pois parece que os brasileiros têm que ser genuinamente defensores dos costumes e língua locais, assim como o personagem do livro. Se fosse assim, as pessoas não poderiam aceitar os acordos internacionais, não poderiam aceitar os termos em latim usados há muitos anos na linguagem jurídica e outros termos da "nossa" língua portuguesa.

Do modo citado anteriormente, os cidadãos não poderiam aceitar a instalação das multinacionais no território brasileiro, as pessoas não poderiam sequer usar a Internet explorer, só porque existem muitos termos em língua estrangeira.  Se todos parassem para pensar, será que tudo que vestem, comem são genuinamente nacionais? Alguns produtos podem até ser produzidos no Brasil, mas será que não teve em nenhum momento do processo de produção, participação de algum produto ou máquina estrangeira? Realmente viver no Brasil sua nacionalidade não é fácil. Não é possível na verdade viver assim. De forma direta ou indireta, as pessoas estão usufruindo bens, produtos, serviços ou expressões de línguas estrangeiras. Não dá para se viver querendo ser cem porcento nacional. Se for assim, as pessoas acabarão como Policarpo Quaresma, tendo um triste fim.

Não há mais como negar essas influências e esses empréstimos, na verdade, o Brasil não tem uma identidade, se é que algum dia teve, o Brasil é um país de terceiro mundo, dependente da economia externa e por que não se pode dizer, dependente dos Estados Unidos. Antes de se pensar na defesa da "nossa" língua, porque não se trabalha para que a economia brasileira se liberte, porque não se pensa na proteção da Amazônia?

Não se pretende, é claro, falar que não se deve ser ufanista, gostar, orgulhar-se de seu país, vestir a camisa, como se diz popularmente, muito pelo contrário, nota-se que isso é extremamente necessário, mas para que se tenha esse sentimento ufanista é preciso antes de qualquer coisa garantir uma distribuição de renda mais humanizadora. Somente no momento em que se tiver uma sociedade mais justa, onde todos possam ter acesso aos bens básicos mínimos para se viver é que se pode estar pensando na defesa do Brasil.

Outro ponto positivo no uso de estrangeirismos de forma natural é a facilitação que isso traz aos professores de língua estrangeira no Brasil, pois as crianças e as pessoas de modo geral já estão familiarizadas com o idioma (estrangeiro), e isso facilita a aprendizagem da nova língua.

Não se pode também negar, que o uso de estrangeirismos é o reflexo de um mundo globalizado, como já dito anteriormente, não se pode fechar as portas às transformações, e não se pode negar, principalmente no uso de anglicismos, que o Brasil é cliente dos Estados Unidos, e que o uso dessas expressões e palavras estrangeiras é algo desejável. (GARCEZ; ZILLES apud FARACO, 2001)

Mas não há o que temer, anglicismos e demais estrangeirismos existem em toda e qualquer língua. O que, mais preocupa alguns brasileiros, e principalmente políticos, é a perda da força, do poder sobre as massas. Muitos acham que com a "invasão" desses estrangeirismos, estariam dando força a outras culturas se instalarem aqui. Na verdade, a defesa da língua é apenas uma válvula de escape para não querer admitir que o Brasil está sob domínio externo há muito tempo, sendo assim, com essa bandeira da nacionalidade levantada, os políticos conseguem tirar a culpa das suas costas, dizendo que o problema, a culpa é do povo que deixou sua língua ser dominada. é lamentável, mas é o que fica mais claro em todas essas discussões fascistas e xenófobas. 

Para Garcez; Zilles (apud FARACO, 2001) quem critica o uso de estrangeirismos na verdade tem medo da pluralidade e da diversidade.

Se o Brasil está levando o seu patrimônio cultural à decadência, ou perdendo sua identidade nacional, como alguns dizem, de quem é a culpa? Será a língua, a grande vilã dessa história? Com certeza não são os falantes, pois se fosse assim, os brasileiros já seriam franceses, quando no início do século passado, a moda no Brasil, e principalmente, no Rio de Janeiro, era 'imitar" os franceses. O que aconteceu? Como resultado restaram alguns poucos vocábulos oriundos da referida língua apenas e ninguém deixou de ser brasileiro por isso.

Não há o que temer, pois na maioria das vezes, o uso de estrangeirismos é apenas mais um modismo dos falantes, e sendo assim, acabará por permanecer somente o que for congruente, necessário (que não são muitos) e o restante cairá no desuso. Não tem como haver essa violência à cultura brasileira, pois as pessoas de um modo geral usam essas palavras e expressões estrangeiras sem saberem nem de onde elas vêm, que peso elas possam ter, etc. Portanto não há motivos para se preocupar com a desculturalização brasileira.

Um dos fatores que os defensores da língua portuguesa pura utilizam ao tratarem do uso dos estrangeirismos é a questão da exclusão social, estes dizem que somente as pessoas que tiveram oportunidade de estudar a língua estrangeira é que têm acesso e entendem o uso desses estrangeirismos, o que é uma grande mentira, pois as pessoas sabem os significados das expressões pelo próprio contexto a que elas estão inseridas, portanto isso não caracteriza exclusão social, pois todos têm a capacidade de entender. (GARCEZ; ZILLES apud FARACO, 2001).

Muitos falam de preconceito, de exclusão ao tratarem do uso de estrangeirismos no Brasil, mas isso é simples de observar se as pessoas forem observar outros exemplos: uma propaganda de cerveja quer atingir as pessoas que gostam de beber, portanto ela estaria excluindo as pessoas que não podem ou não gostam de beber cerveja, mas, no entanto, ninguém critica essas empresas de exclusão e preconceito.

As pessoas se distinguem socialmente pela linguagem, este é um fator diferenciador, de status social, e não é o uso de estrangeirismos que favorece isso, a exclusão social da língua pode ocorrer de outras formas, mas não pelo uso dessas palavras e expressões estrangeiras.

Acreditar que o Brasil é monolíngue, que "nossa" língua é pura, é aí que reside o maior preconceito e maior forma de exclusão social no país. (GARCEZ; ZILLES apud FARACO, 2001)

Alguns tentam convencer os cidadãos brasileiros de que esses se deixam "colonizar", convencer com mais facilidade do que outros países, mas isso é uma grande mentira, pois se encontra diversos países que também usam estrangeirismos e mesmo assim ninguém critica que eles são facilmente colonizados. Isso já virou um mito popular. (BAGNO apud FARACO, 2001).

As pessoas costumam criticar o uso de estrangeirismos no Brasil, mas mal sabem eles que o "nosso" português, também é usado como estrangeirismos em outros países, e nem por isso esses países criaram leis que o proibissem. (BAGNO apud FARACO, 2001).

Alguns indivíduos costumam também confundir língua oficial com identidade nacional, uma coisa não tem relação direta com a outra. Existe a língua oficial para que haja uma harmonia na comunicação interna do país, mas querer dizer que essa língua oficial é a que marca, que caracteriza a identidade de um país, daí já é um grande equívoco.

As pessoas que defendem a existência de uma língua única e pura estão de certa forma negando, e, portanto excluindo, as diferentes raças e culturas que aqui no Brasil existem. (BAGNO, apud FARACO, 2001).

Na verdade a existência de expressões e palavras estrangeiras em outra língua, não a torna mais frágil, inferior a outras línguas e nem afeta o patrimônio cultural da nação, ao contrário, o intercámbio de culturas é um progresso para a civilização. (SCHMITZ, apud FARACO, 2001).

Para também corroborar o que foi acima dito, José Luiz Fiorin (apud FARACO, 2001, p. 104-105) sugere o seguinte "(...) a presença de estrangeirismos na língua portuguesa de nenhuma forma ameaça a cultura brasileira, amplamente definida, como literatura, música, teatro, folclore e dança".

Para se falar bem a verdade, o projeto de lei do deputado Aldo Rebelo faz referência e crítica principalmente aos termos estrangeiros provenientes da língua inglesa. Mas será que não seria interessante que as pessoas também começassem a entender um pouco mais dessas expressões? Já que o Brasil é de certa forma um cliente dos Estados Unidos e também porque, querendo ou não, mais tarde essa será por excelência a língua oficial de todos os países, pois ela já é a líder nos negócios e nas transações comerciais, ela é tida como língua universal.

Sobre o assunto, escreve Paulo Coimbra Guedes que:

(...) não é o inglês o veículo da civilização e da cultura tecnológica contemporánea? Não seria bom para nós dominarmos essa civilização e essa cultura? Não teríamos ao inglês (e ao francês e ao alemão e ao espanhol e ao russo e ao japonês, e ao árabe e ao chinês e ao...) o mesmo direito que temos ao português, que é o direito que temos à cultura e à civilização? Precisamos do inglês não para a fazeção de entortar a língua para simular uma autêntica pronúncia californiana, mas para ler a respeito de tudo o que está escrito em inglês e interessa para nós. (GUEDES apud FARACO, 2001, p. 139-140).

O projeto do deputado Aldo Rebelo ao invés de querer proibir o uso de estrangeirismos, deveria proibir a entrada de produtos estrangeiros e incentivar as pessoas a consumirem os produtos internos, mas isso, parece algo difícil de se concretizar, pois o governo incentiva a importação de produtos com suas leis fiscais, tornando esses mais acessíveis do que os nacionais. A política tributária em quase nada se volta a favor dos brasileiros. (POSSENTI apud FARACO, 2001).

Segundo Possenti (apud FARACO, 2001, p.168) "(...) para proteger de fato nossa língua temos que tornar nossa economia poderosa e nossa cultura tão charmosa que nenhuma outra nos tente (...)".

Na verdade, na verdade, os que criticam o uso de estrangeirismos são os mesmos que não enxergam os dialetos, as variantes da norma culta padrão, são os mesmos nacionalistas exagerados, xenófobos, fascistas, que querem em nome de qualquer coisa, colocar a língua como sendo o único caminho para se proteger a cultura e ordem no país. (SCHMITZ apud FARACO, 2001)

         O acima citado fica também comprovado na visão de Einstein (citado por Fiorin), que salienta o seguinte: "O nacionalismo é uma doença infantil. é o sarampo da humanidade". Segundo Wells (citado por Fiorin), "A nossa verdadeira nacionalidade é a humanidade" (FIORIN apud FARACO, p.107).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se pode querer negar, como já também explicitado no corpo do artigo, a importáncia em se valorizar a língua, a cultura e tudo que na verdade as pessoas usufruem diariamente, só que não se pode é querer fazer política em cima das manifestações da língua falada no Brasil. Todos vivem em uma sociedade democrática, portanto estar proibindo as pessoas de agirem e pensarem livremente é um absurdo.

Cada indivíduo sabe discernir o que é importante e deve permanecer e o que deve ser descartado, não é o uso de estrangeirismos que vai fazer com que os indivíduos percam o apreço pelo Brasil.

Como já fora analisado anteriormente seria inviável controlar o modo de falar das pessoas, não haveria como investigar também, e se a lei funcionasse, ela seria retroativa? Muitos teriam que mudar o nome de seus estabelecimentos, enfim, seria uma enorme confusão.

Existem outros problemas mais importantes para os cidadãos se preocuparem no momento do que saberem se podem ou não usar estrangeirismos, o que o povo quer saber é de uma distribuição de renda mais justa e honesta, onde todos possam ter acesso aos bens mínimos para se viver bem, incluindo é lógico uma boa educação.

Na verdade, o que desnacionaliza o Brasil não são o uso de estrangeirismos, mas sim outros fatores, citados por John Robert Schmitz:

(...) o que desnacionaliza é a venda por preços irrisórios de empresas brasileiras em boa situação financeira aos interesses estrangeiros, o que desfigura a nação é a desonestidade, a impunidade, e a diferença de poder aquisitivo entre as classes sociais, o que coloniza é a submissão às determinações dos fundos e agências internacionais" (disponível em: http://www.letras.ufrj.br/abralin/forum/tema01_txt08.thm Acesso em: 12 set. 2004)

Pontua-se, outrossim, a necessidade de se haver mais estudos na área da lingüística no Brasil, e mais do que essa pesquisa é preciso antes de tudo, que se abra mais espaço de divulgação aos trabalhos técnico/científicos, que são os únicos capazes de confrontarem com sabedoria os ditos populares, do senso comum, que muitas vezes são os que ainda prevalecem.

5 REFERÊNCIAS

FARACO, C. A. Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001.

MELLO. P. R. B. De. Apresentação de trabalhos de conclusão de curso. 4. ed. Joinville: AUPEX, 2004.

OLIVEIRA, P. de. Enciclopédia do ensino integrado e supletivo. 6. ed. São Paulo: Li-bra Empresa Editorial, 1974.

RIZATTI, E. C. Et al. Conteúdos e metodologia do ensino da linguagem caderno pedagógico 1 C. A linguagem oral e a linguagem escrita. Florianópolis: UDESC/FAED/CEAD, 2002.

SCHMITZ, J. R. Em Defesa da Língua Portuguesa: Defende-la de quem e de quê? Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2004.

TEXTO CONSOLIDADO ATé A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 43 DE 15 DE ABRIL DE 2004. Título II. Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Disponível em: Acesso em: 05 set. 2004.

XIMENES, S. Minidicionário Ediouro da Língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Ediouro, 2000.

 

 

Autor:

Graziela Alves

grazialves[arroba]ibest.com.br

Licenciada em Letras (Português/Inglês) pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI e Pós-Graduada em Práticas Pedagógicas Inovadoras com Enfoques Multidisciplinares no Ensino Fundamental e Médio pela Faculdade de Educação de Joinville - FEJ, graduanda em Educação Especial e Práticas Inclusivas pelas Faculdades Integradas da rede Univest  e Diretora Geral de Educação da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de São João Batista.



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.