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Responsabilidade social: um possível subsídio para aplicação dos direitos trabalhistas (página 2)

Dayse Coelho de Almeida

O desmantelo do sistema de políticas públicas no campo social é que surge como conseqüência nefasta. Isto é característica marcante da influência, na seara política, da ideologia neoliberal, iniciada logo após a abertura democrática brasileira, inicialmente por Fernando Collor de Mello e concretizada por Fernando Henrique Cardoso, hoje ainda permanecendo alguns traços com o atual presidente Luís Inácio Lula da Silva. Todos os últimos anos foram marcados por um processo de privatização, investimentos mínimos (apenas o que a Lei de Responsabilidade Fiscal preconiza). A proposta neoliberal, em suma, é desresponsabilizar o Estado, repassando seus deveres de cunho social à iniciativa privada - Estado mínimo.

A maré capitalista parece governar os rumos das empresas, de outra forma não poderia ser, ao passo que a concorrência e a abertura de mercado volatilizaram o capital. Conquistar novos mercados ou manter os que já possui tornou-se fundamental para a empresa continuar existindo no mundo capitalista/globalizado. A responsabilidade social deixou de ser apenas um dado localizado nos gastos da empresa, mas contabilizada, também nos lucros7 . Isto ocorre, porque o cidadão (consumidor) tem suas atitudes minuciosamente analisadas e pesquisadas pelas grandes corporações e, através de pesquisas foi observado que o fator responsabilidade social, cada vez mais, influencia na compra/escolha do produto.

A criação de selos como "empresa amiga da criança", "empresa que contribue para o meio ambiente ecologicamente equilibrado", "produto feito sem degradação ambiental" ou com "madeira reflorestada" têm sido inseridos nos produtos como estratégia (eficaz) de marketing e como se sabe, o produto tem que se tornar singular, diferenciado dos demais concorrentes e nisto, a responsabilidade social tem desempenhado, por vezes, fator de desempate entre produtos.

O marketing social é a nova tendência da publicidade e propaganda, estruturando-se em conceitos éticos, nos direitos humanos e na justiça social. Certamente este é um dos fatores que influenciam a adoção de programas sociais pelas empresas, além de incentivos fiscais e isenção de impostos, existe o lucro por incremento da imagem, que por sua vez, provoca aceitação das marcas, aumento do consumo e cotação na bolsa de valores positiva. Além dos motivos humanísticos, os motivos econômicos também são bastante expressivos.

E há quem seja incisivo ao afirmar que:

Segundo Robert Dunn, da BSR, no futuro o comportamento ético vai deixar de ser uma opção. "Agir de forma socialmente responsável não vai ser mais um diferencial", diz Pereira Neto, do Instituto Ethos. "Quem quiser se manter no mercado vai ter de se mexer". Num cenário provável em que consumidores, ao escolher um detergente, penderão para a marca da fabricante que se aplicou em respeito à natureza e aos funcionários, não haverá espaços para amadorismos ou negligências. "Historicamente as sociedades ocidentais tendem a ceder mais direitos do que responsabilidades às empresas", afirma Deborah Leipziger, autora de Corporate Citizenship. Isso está mudando. "No passado, nenhuma sociedade teve tantos centros de poder como a de hoje", afirma Peter Drucker. O guru da administração moderna deixa uma questão pertinente em aberto: "Quem é que vai tomar conta do bem comum?" é bem provável que a resposta esteja no papel social cada vez mais decisivo das empresas.8

A percepção do cidadão, acerca da imagem da empresa e do produto, tem reflexo direto na sua escolha sobre os produtos e empresas que irá favorecer. O consumidor, mais crítico e consciente, evoluiu e deu um salto de quantidade e qualidade dos requisitos para a compra. Fatores como qualidade, favorecimento da saúde e responsabilidade social estão inseridos neste contexto valorativo do consumidor. Desta forma, ser uma empresa socialmente responsável passou a ser uma exigência do sistema capitalista da economia de mercado, podendo inclusive ser fator determinante para o sucesso ou fracasso de um produto, como bem expõe GRAJEW9 .

A responsabilidade social pode e deve ser usada para favorecer os direitos trabalhistas. Os sindicatos poderiam incentivar campanhas de boicote a produtos oriundos de empresas que desrespeitam normas de segurança e saúde do trabalhador, ou agem em desconformidade com os direitos trabalhistas vigentes, criando um selo "Empresa amiga do trabalhador", por exemplo. E não só nas causas trabalhistas, mas em causas também difusas, como meio ambiente, produtos saudáveis e outros. Este seria um ponto de congraçamento entre os sindicatos e a sociedade como um todo. Afinal como nos informa AMOROSO:

O estudioso norte-americano Lester Salamon, da Universidade de Hopkins, já vem apontando há algum tempo que a responsabilidade social não surgiu por simples benevolência empresarial, mas, antes de tudo, pela necessidade crucial de estratégias de melhoria das condições de vida das pessoas que trabalham nas empresas e, também, de soluções para problemas da comunidade em que elas estão inseridas. é importante ressaltar que isso não pode se confundir com marketing, mas com o papel do empresário como transformador social e da empresa como seu instrumento.10

Se houver um esforço combinado de forças, toda a sociedade sairá ganhando, inclusive no sentido de reivindicar políticas públicas e a ação estatal no ámbito social, retomando as rédeas do destino da nossa sociedade e galgando um futuro mais humano e digno para todos. Fica lançada a semente da responsabilidade social no engajamento e proteção dos direitos trabalhistas, como forma de garantir a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho, princípios constitucionais da maior magnitude.

NOTAS DE RODAPé CONVETIDAS

1. AMOROSO, Sérgio. Responsabilidade Social: menos marketing e mais ações. Jornal Valor. 20 de agosto de 2003.
2. No clientelismo, os detentores do poder não buscam a solução dos problemas sociais, mas sim a sua perpetuação, fomentando a dependência da população em relação ao Estado, reforçando o ciclo vicioso que lhes garante lograr êxito em eleições e manter o status quo.
3. LIMA, M. Responsabilidade Social: apoio das empresas privadas brasileiras à comunidade e os desafios da parceria entre elas e o terceiro setor. In: Resposabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Peirópolis, 2002. p. 103 - 142.
4. Exame. As 100 melhores empresas para você trabalhar. 2000 (edição especial). p. 170.
5. Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Manual de responsabilidade social das empresas: primeiros passos. Disponível em: www.ethos.com.br. Acesso em 11 dez 2005.
6. OLIVEIRA, F. Relações Públicas e a comunicação na empresa cidadã. In: Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Peirópolis, 2002, p. 195 - 228.
7. Responsabilidade Social das Empresas - Percepção do Consumidor Brasileiro, Pesquisa 2002 está disponível no site www.ethos.org.br, na área de "Publicações".
8. Tudo pelo Social? Texto publicado no órgão laboratorial do Curso Abril de Jornalismo em Revista, revista PLUG 2000, v. 17, p. 36-41, julho de 2000.
9. GRAJEW, Oded. Responsabilidade social empresarial na visão do consumidor. Publicado em 15 set. 2002. Disponível em:
www.conar.org.br/html/artigos/responsabilidade%20social.htm Acesso em: 11 dez. 2005.
10. AMOROSO, Sérgio. Responsabilidade Social: menos marketing e mais ações. Jornal Valor. 20 de agosto de 2003.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMOROSO, Sérgio. Responsabilidade Social: menos marketing e mais ações. Jornal Valor. 20 de agosto de 2003.
Exame. As 100 melhores empresas para você trabalhar. 2000 (edição especial).
GRAJEW, Oded. Responsabilidade social empresarial na visão do consumidor. Publicado em 15 set. 2002. Disponível em:
www.Conar.org.br/html/artigos/responsabilidade%20social.htm Acesso em: 11 dez. 2005.
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Manual de responsabilidade social das empresas: primeiros passos. Disponível em: www.ethos.com.br. Acesso em 11 dez 2005.
LIMA, M. Responsabilidade Social: apoio das empresas privadas brasileiras à comunidade e os desafios da parceria entre elas e o terceiro setor. In: Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Peirópolis, 2002. p. 103 - 142.
OLIVEIRA, F. Relações Públicas e a comunicação na empresa cidadã. In: Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Peirópolis, 2002. p. 195 - 228.
Responsabilidade Social das Empresas - Percepção do Consumidor Brasileiro, Pesquisa 2002. Disponível em: www.ethos.com.br. Acesso em 11 dez. 2005.
Tudo pelo Social? Texto publicado no órgão laboratorial do Curso Abril de Jornalismo em Revista, revista PLUG 2000, v. 17, p. 36-41, j

 

 

Autor:

Dayse Coelho de Almeida

monfalco[arroba]yahoo.com.br



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