Considerações sobre a arte rupestre no estado da Bahia, Brasil



  1. Resumo
  2. Apresentação
  3. Tradições rupestres no brasil
  4. Aproximações etno-históricas na área
  5. Breve perfil da arte rupestre do sertão baiano
  6. Conclusão
  7. Bibliografía

RESUMO

Grande parte do Estado da Bahia se insere na bacia hidrográfica do São Francisco e na Cordilheira do Espinhaço, onde passaram e viveram grupos humanos vinculados culturalmente com grupos andinos como se evidencia nas suas línguas, costumes, artefatos e arte rupestre. Neste artigo tentaremos identificar algumas expressões rupestres locais, situando-as no contexto mais amplo das tradições da Arte Rupestre brasileira, quando defrontaremos com evidencias que sugerem cronologias e funções diferenciadas incluindo memoriais de mitos, rituais ou simples anotações de teor prático. O presente texto é fruto da tradução e atualização revisada da sua versão original inglesa, apresentada no Congresso da Associação Internacional de Arte Rupestre, IRAC, realizada em 1999 na Universidade de Ripon,Wisconsin, EUA.

APRESENTAÇÃO 

A geomorfologia sul-americana é dominada pela cordilheira Andina, no Oeste, o platô das Guianas e a planície Amazônica, ao Norte e o Escudo Brasileiro no Leste/Sudeste. Na banda Leste do escudo Brasileiro (Planalto Central), paralelamente á costa marinha, eleva-se a cordilheira do Espinhaço, origem de rios que descem ao mar e ao cráton sãofranciscano, onde flui o maior rio com curso inteiramente brasileiro. Este rio nasce em Minas Gerais, dirigindo-se ao Nordeste, onde deságua, deixando atrás uma bacia de 600 mil km2 fronteiriça ás bacias amazônica e platina. Estas bacias possuem algumas nascentes originadas na cordilheira dos Andes.  

A cordilheira do Espinhaço formou-se no Proterozóico, após a elevação de arenitos de uma antiga costa marinha. A bacia sedimentar do rio São Francisco, por outro lado, resultou de um afundamento da crosta terrestre, motivado pelas mesmas pressões que elevaram o Espinhaço e pela subseqüente sedimentação de um mar quente e raso que invadiu esta depressão no Paleozóico. Esta sedimentação recobriu as formações calcárias erodidas no Devoniano: o cinza "Salitre", na Bahia e o achocolatado "Bambuí", em Minas Gerais. Depois de liberadas da lama ocre rica em nódulos de hematita que os recobria, estes "karsts" foram usados pelos homens da pré-história local para produzirem a sua variada arte rupestre.

Nas terras altas, prevalece o clima AW de Koppen (quente e úmido), onde crescem árvores de [grande] porte. Nas terras baixas, encontra-se o clima Bsw (quente e seco, na mesma classificação), com uma estação chuvosa entre novembro e março e um clima seco o resto do ano. Nestas terras baixas prevalecem as caatingas -"mata clara, rala", em Tupi - que perde toda a sua folhagem na estação seca, mantendo seus caules e raízes vivos até as próximas chuvas, quando tudo verdeja, liberando fortíssimos aromas perfumosos que atraem [miríades de] insetos que fecundam as suas flores. Apesar da aparente aridez da caatinga, esta esconde diversos espécimes vegetais e animais úteis á alimentação humana.

De acordo com Ab"Saber, emérito geógrafo da USP (1989), o clima local atingiu as atuais feições por volta de 11000 AP, substituindo outro clima mais ameno, onde abundante vegetação fornecia alimento para espécimes da megafauna. Hoje extinta, esta população incluía paleocavalos, paleolamas, tigres de dentes sabre e preguiças gigantes, cujos fósseis são abundantemente encontrados em grutas e caldeirões locais. Alguns estudiosos atribuem esta alta concentração de ossos, nestas cavidades, a fenômenos de tanatocenose, espécie de suicídio coletivo de animais inadaptados a novas condições ambentais, como ainda hoje ocorre com certas espécies de baleias. A. Bryan e A.Cartelle, escavando na área, encontraram ossos fósseis da megafauna apresentando possíveis marcas de antropização por artefatos líticos. M.C.M.C. Beltrão e H. de Lumley, por outro lado, numa gruta baiana, identificaram um artefato lítico com marcas de uso, associado a ossos de megafauna datada de 300 000 AP. Por terem vivido, na área, por milênios, os tatus gigantes que também cavavam túneis, é possível que tal artefato seja de uma datação mais recente, tendo deslizado para níveis estratigráficos inferiores, o que poderia ter perturbando a sua interpretação.

TRADIÇÕES RUPESTRES NO BRASIL

Devido á imensidão do território brasileiro, pelo menos seis grandes tradições de arte rupestre foram ali determinadas:

1)A mais sulina foi reconhecida por M. Ribeiro (1979) que chamou-a de Meridional - aparentemente uma extensão de tradições pampeanas, incluindo petroglifos lineares simples, círculos, ângulos e triângulos;

2) Num conjunto de ilhas no litoral catarinense, o padre Rohr (1969) reconheceu uma tradição costeira com petroglifos triangulares e séries de pontos paralelos;

3) Pouco mais ao norte, de São Paulo ao Nordeste, estão presentes sítios da Tradição Geométrica, incluindo temas das duas tradições anteriormente mencionadas, além dos "lagartiformes" - um tema de distribuição transcontinental e presente em quase toda a bacia do Pacífico, da Costa Oriental Africana ao Sudoeste Asiático, Oceania e costa americana. A representação do lagarto do painel gravado no Sitio Fracarolli, perto de Itapeva, São Paulo, apresenta a mesma cabeça pontuda, triangular, dos lagartiformes do Cerro Colorado, Norte do Chile;


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