Ecoética e o principio da responsabilidade de Hans Jonas. Aplicação à Saúde Pública



  1. Introdução
  2. Retrospectiva histórica
  3. Hans Jonas e a ecoética
  4. Saúde pública e ambiente
  5. Bibliografia

«Assim como os meus antepassados semearam para mim antes de eu nascer,

também eu semearei para aqueles que se seguirem a mim.»

Antigo texto hebraico

1. Introdução

Durante toda a História da Humanidade até á época medieval, a Natureza afigurou-se como duradoira e permanente, que sofria ciclos e alterações mas era sempre capaz de recuperar sem dificuldade, inclusivamente das pequenas agressões que o Homem lhe causava com as suas localizadas intervenções.

Esta concepção mudou radicalmente com a ciência moderna e a técnica dela derivada. O Homem passou a constituir, de facto, uma ameaça para a continuidade da Vida na Terra. Não só pode acabar com a sua existência como também pode alterar a essência do Homem e desfigurá-la mediante diversas manipulações.

Tudo isto representa uma mutação tal no campo da acção humana que nenhuma ética anterior se encontra á altura dos desafios do presente. Torna-se necessária uma nova ética: uma ética orientada para o futuro. Tal não significa que seja concebida para que a pratiquem apenas "os homens de amanhã". Ao contrário, trata-se duma ética que deve reger precisamente os "homens de hoje" por forma a garantir que haja "os homens do futuro".

Hans Jonas dedicou-se a esta problemática, tendo proposto uma filosofia baseada no Princípio da Responsabilidade, apresentando um novo paradigma ético, vocacionado para o nível colectivo e para acção dos agentes político-sociais, grandes responsáveis e contribuintes para "regrar e orientar da acção humana", "uma ética actual que se preocupa com o futuro, que pretende proteger os nossos descendentes das consequências das nossas acções presentes".

Este documento de reflexão circunscreve-se á Natureza Ambiental extra-humana e á Ecologia no sentido referente ás relações entre o comportamento humano e as consequências da intervenção sobre o Ambiente Natural.

Tal se deve ao facto de se pretender analisar de que forma o pensamento de Hans Jonas se pode aplicar e constituir útil com instrumento de pensamento e acção na Saúde Pública, designadamente, no âmbito da Saúde Ambiental.

O Ambiente Natural é fundamental no garante da saúde das comunidades, sendo o objectivo último da Saúde Pública trabalhar de modo que, para além de sobreviver, as populações vivam com qualidade de vida, bem-estar… enfim, saúde plena.

Para tal há que partir para a elaboração, implementação e avaliação de políticas e planos de acção onde indicações éticas e orientações de pensamento baseados na Responsabilidade deverão ser assumidos e praticados.

2. Retrospectiva Histórica

A cada período da história, seu contexto político, social, cultural, científico e filosófico. Convém revisitá-los para nos revisitarmos enquanto Humanidade. Eis o caminho da compreensão ou procura do (nosso) sentido.

2.1 Pré-Modernidade

A civilização e intervenção na Natureza caminham juntas desde sempre. Contudo, não obstante a sua "ilimitada capacidade de invenção", o Homem não causava dano algum quando se "atrevia em investidas nos reinos maiores do mar, céu e terra". A Natureza mantinha-se intacta.

A abordagem do mundo extra-humano era eticamente neutro quer a nível de objecto (a acção afectava escassamente a ordem da Natureza permanente), quer a nível de sujeito da acção (acção empreendida devia-se á necessidade do homem e não com vista ao progresso pelo progresso, com esforço e compromisso da Humanidade). O bem e o mal residiam nas proximidades da acção, na sua praxis e seu alcance imediato. O longo curso das consequências devia-se á causalidade, ao destino ou Providência. Em suma, a actuação sobre os objectos não humanos não constituía um âmbito de relevância ética.

Outrossim, de relevância ética, era o envolvimento do homem com o homem (ética antropocêntrica), no momento e contexto ou habitat social. Assim o exigia o "artefacto da cidade" (morada construída para a sua própria Humanidade). O "artefacto social" aumentou tensões no relacionamento interpessoal, pelo que a inteligência e engenho necessitaram de se associar á política, moral e ética.

O braço-curto de acção do poder humano não exigia grande capacidade preditiva. A ética debruçava-se sobre o aqui e o agora, com as situações que se apresentam entre os cidadãos, com as repetidas e típicas situações da vida pública e privada: "ética próxima". O homem bom era o que agia com virtude e sabedoria, segundo os preceitos da honra, justiça, caridade.

2.2 Modernidade

A ciência moderna nasceu nos séculos XVI-XVII e na Europa. Ao procurar factores culturais, ideológicos, sociais, económicos que determinaram esta emergência, assume-se que o cunho da sociedade e do tempo exigia mais que uma ciência "desinteressada e ociosa", como acontecia até então. Não só a especulação devia desembocar na prática, como o critério do saber tornava-se por si só operativo.

Prevalecia o sentido utilitarista e a perspectiva de obtenção de tecnologia progressivamente avançada. Procuravam-se leis universais demonstráveis e um pensamento assente na razão.


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