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Os efeitos dos transgênicos sobre a saúde (página 2)

Antonio Inácio Andrioli

Andrioli, A./Fuchs, R. (2008): Transgênicos: as sementes do mal. A silenciosa contaminação de solos e alimentos. São Paulo: Expressão Popular.

Andrioli, A. (2007): Biosoja versus Gensoja: Eine Studie über Technik und Familienlandwirtschaft im nordwestlichen Grenzgebiet des Bundeslands Rio Grande do Sul/Brasilien. Frankfurt am main: Peter Lang.

Aventis. (2001): Aventis Annual Report 2000. Download: <http://www.aventis.com/main/order_center/download/ave_annualreport_2000_short_en.pdf> 20.07.2003)

Carrel, S./Rowell, A. (2005): When fed to rats it affected their kidneys and blood counts. So what might it do to humans? We think you schould be told. The Independent, London. Download: <http://news.independent.co.uk/science_technology> (22.05.2005).

Malatesta, M./Caporaloni, C./Gavaudan, S./Rocchi, M./Serafini, S./Tiberi, C./Gazzanelli, G. (2002): Ultrastructural morphometrical and immunocytochemical Analyses of hepatocite nuclei from mice fed on genetically modified soybean. Cell Structure and Function, Vol. 27, Nr. 4: 173-180.

Parodi, A. M. (2005): Transgênicos: perigo da ausência de testes assusta. Jornal A Notícia, Joinville, 28.04.2005. Download: <http://www.an.com.br/anverde/especial1/pag02.htm> (30.04.2005).

[1] Pistola de DNA, com a qual células com partículas de metal são pressionadas, para que determinado gene penetre o genoma de uma planta.

Parte 2

No Brasil, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comprovaram em 74% das amostras, resíduos de até 14 miligramas do herbicida por Kg de soja, o que supera, em muito, o limite determinado pela legislação brasileira de agrotóxicos (Skalisz, 2005).[1] Como cerca de 80% da soja se destinam á ração animal e a legislação da União Européia abriu mão da respectiva rotulagem para carnes, ovos e leite, uma análise dos efeitos de resíduos de glifosato na soja sobre o organismo de suínos, vacas e aves seria de grande importância, especialmente com relação aos interesses dos consumidores de tais produtos.

3. Como reage o ser humano diante dos transgênicos?

Continua uma incógnita saber se os efeitos sobre os testes com ratos são aplicáveis ao organismo humano. Independente disso, a questão dos resíduos de Roundup e de seus efeitos sobre a saúde humana, no caso da soja transgênica, é de especial importância. Desde o início dos anos de 1990, o Roundup é aplicado como herbicida no Brasil, o que permitiu a introdução do "plantio direto"[2] nas lavouras. No caso da soja transgênica, é possível aplicar o Roundup durante o período do crescimento vegetativo, o que, conjugado á superdosagem, em função do surgimento de crescentes resistências das ervas daninhas, aumenta a probabilidade de resíduos no grão.

O herbicida Roundup é composto de glifosato, sal de isopropilamina, polioxietileno-amina e água. A OMS avalia como baixa a toxicidade aguda do glifosato, se comparada a outros agentes. Em testes, entretanto, foram constatados danos na saúde de mamíferos, que indicam tanto para efeitos colaterais do agente ativo quanto para efeitos dos demais componentes de Roundup e sua combinação com outras substâncias no solo e em organismos vivos. O Roundup contém até 15% da substância POEA (Polioxietileno-amina), responsável pelo efeito surfatante, isto é, a redução da tensão superficial para que o agente do herbicida possa melhor penetrar no tecido da planta. O efeito dessa substância aditiva, segundo Kaczewer (2002), é responsável pela destruição das funções do fígado e dos rins, em animais. Como a maioria dos estudos deste herbicida foram realizados com o agente ativo, isoladamente em laboratório, negligencia-se a totalidade da fórmula de Roundup, cuja toxicidade aguda, em testes com ratos, mostrou-se muito mais forte se comparada com o agente isolado (Cox, 1998; Martinez; Brown, 1991).

4. Câncer e danos reprodutivos

Especialmente os estudos que se concentram nas possíveis reações do Roundup no solo são muito importantes. Foi constatado que, durante a decomposição do produto no solo, pode ocorrer a formação de uma substância cancerígena, ou seja, o formaldeído, e que o glifosato, em combinação com nitratos do solo, se converte em nitroso-glifosato, uma substância há muito conhecida como causadora de carcinomas (cânceres) de fígado (Kaczewer, 2002) Importantes são também os efeitos crônicos do glifosato, que se devem especialmente ao contato cutâneo com o produto. Isso não afeta apenas seres vivos de pele fina, permeável, como sapos, mas também os seres humanos. Em função de seus estudos na Suécia, Hardell e Eriksson estimam haver uma relação entre o contato de longa duração com glifosato e efeitos cancerígenos, tais como o Linfoma não-Hodgkin (NHL)[3] (Hardell; Eriksson, 1999).

Outro campo que ocupa o centro das pesquisas refere-se aos efeitos do Roundup sobre o sistema reprodutor de mamíferos, pois verificou-se, em experiências com ratos, uma diminuição da libido, bem como um menor volume de sêmen ejaculado (Yousef et al., 1995). Isto se explica pela contenção da síntese de esteróides e da ação da proteína reguladora StAR (steroidogenic acute regulatory protein) presente em resíduos de Roundup (Walsh et al., 2000). No Brasil, isso foi confirmado por Eliane Dallegrave, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que, em seus estudos, chegou aos seguintes resultados, envolendo  problemas reprodutivos em ratos cobaias, que tiveram contato com o Roundup: a) maior parcela de espermatozóides anômalos, b) menor produção diária de espermatozóides e c) alterações no desenvolvimento do tecido testicular (Dallegrave et al., 2003).

Os estudos disponíveis sugerem que os efeitos do Roundup, em uso crescente, são intensificados em conexão com a soja resistente a herbicidas. O herbicida veio a ser o maior causador de intoxicações no Brasil, com 11,2% de todos os casos entre 1996 e 2002 (Benatto, 2002). Conforme o Ibama, a venda do agente ativo glifosato no Rio Grande do Sul, entre 1998 e 2001 (período de introdução da soja transgênica), aumentou de 3,85 toneladas para 9,13 toneladas anuais. Os casos de intoxicação oficialmente registrados aumentaram, entre 1999 e 2002, de 31 para 119, segundo o Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul (Ibama, 2003).

Referências

Benatto, A. (2002): Sistemas de Informação em Saúde nas Intoxicações por Agrotóxicos e Afins no Brasil: situação atual e perspectivas.  Campinas: UNICAMP.

Cox, C. (2003): Glyphosate (Roundup). Journal of Pesticide Reform 18: 3-17. Downoload: <http://www.pesticide.org/gly.pdf> (30.10.2005).

Dallegrave, E./Mantese, F./Coelho, R./Pereira, J./Dalsenter, P./Langeloh, A. (2003): The teratogenic potential of the herbicide glyphosate-Roundup® in Wistar rats.  Toxicology Letters,  Vol. 142: 45-52.

Hardell, L./Eriksson, M.(1999): A case-control study of non-Hodgkin lymphoma and exposure to pesticides. Cancer 85: 1353-1360.

Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. (2003): Relatórios de consumo de ingredientes ativos de agrotóxicos e afins no Brasil - anos 1998 a 2001.  Brasília: IBAMA.

Kaczewer, J. (2002): Toxicologia del glifosato: riesgos para la salud humana. En: La Producción Orgánica Argentina 60: 553-561.

Martinez, T. T./Brown, K. (1991): Oral and pulmonary toxicology of the surfactant used in Roundup herbicide. Proceedings of the Western Pharmacology Society 34: 43-46.

Skalisz, R. (2005): Contaminação tóxica da soja transgênica. Folha de Londrina, Londrina, 16.07.2005.

Walsh, L./Mccormick, C./Martin, C./Stocco, D. (2000): Roundup inhibits steroidogenesis by disrupting steroidogenic acute regulatory (StAR) protein expression. Environ Health Perspect, Nr. 108: 769-776.

Yousef, M. I./Salem, M. H./Ibrahim, H. Z./Helmi, S./Seehy, M. A./Bertheussen, K. (1995): Toxic effects of carbofuran and glyphosate on semen characteristics in rabbits. Journal of Environmental Science and Health, Vol. 30, Nr. 49: 513-534.

[1] Em função do debate da liberação da soja transgênica, em 2004 o limite legal foi elevado de 0,2 mg/Kg para 10 mg/Kg. Ao mesmo tempo, foi reformulada a regulamentação do glifosato como agrotóxico na legislação sobre defensivos agrícolas, pois antes sua aplicação em culturas era proibida durante sua fase de desenvolvimento vegetativo. Até então o herbicida total era usado também para secar artificialmente a soja, em função do ataque do inseto Nezara viridula, que introduzia uma substância que impedia o amadurecimento da soja atingida, dificultando assim a colheita. A proibição referia-se ao perigo da transferência de resíduos do produto aos grãos da soja.

[2] Antes da semeadura, foi aplicado o herbicida total para eliminar toda a vegetação e, a seguir, poder semear diretamente, isto é, sem uso de arado e de grade.

[3] Uma enfermidade que desenvolve células cancerígenas malignas no sistema linfático.

 

 

 

Autor:

Antônio Inácio Andrioli

andrioli[arroba]espacoacademico.com.br

Professor do Mestrado em Educação nas Ciências da UNIJUÍ - RS e da Universidade Johannes Kepler de Linz (Áustria). Doutor em Ciências Econômicas e Sociais pela Universidade de Osnabrück (Alemanha)

URL: www.andrioli.com.br

Artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico www.espacoacademico.com.br



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