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A questão do emprego continua no século XXI (página 2)

Reinaldo Toso Júnior

Se por um lado no mundo desenvolvido ocorre a discussão do fim das relações tradicionais do capital e do trabalho e se gerencia os conflitos e as ansiedades causados pela ausência de um modelo que substitua o sistema atual até que se defina um caminho, no Brasil ainda discute-se a inserção das pessoas na economia formal.

O desemprego no Brasil age como um excludente profundo e formador da base da carestia brasileira e aliado a este há o subemprego, o mercado informal de trabalho, e a baixa remuneração do trabalhador brasileiro tanto no mercado formal como no informal. Estes são os desafios internos que o País tem de enfrentar rumo á globalização da sua força de trabalho (RIO FUENTES 1997).

Além da polêmica da reforma trabalhista e sindical no Brasil os problemas do desemprego são estruturais, há uma razoável oferta de emprego para mão de obra especializada (CASE e BOTELHO 2001).

A questão é que além do desenvolvimento industrial no Brasil estar em um outro contexto industrial: concentração de mercado em poucas empresas, concentração de poder decisório, baixa gestão profissional na cúpula de comando (BETHLEM 2001); existe uma grande diferença salarial entre as funções executivas e técnicas, isto acaba desprestigiando as últimas.

O problema que se tenta delinear é que a força laboral, que realiza as etapas fabris fundamentais de toda a atividade industrial-técnico necessária á produção de bens industriais, serviços e comércio, é justamente a menos preparada para a competitividade global.

Não se pode pensar no Estado ou nas Instituições Particulares formando mão de obra de nível superior para substituir a mão de obra desqualificada que hoje ocupa esta

No ensino médio é que se desenvolvem as ferramentas para complementar a integração plena do indivíduo na sociedade, tanto nos aspectos éticos e sociais como nos científicos.

"O ensino médio tem que ser uma educação de base científica e tecnológica, mas que concilie o conteúdo humanístico necessário e as exigências da sociedade tecnológica. é preciso que tenha uma concepçäo curricular interdisciplinar e matricial, e deve se caracterizar pela terminalidade, ou seja, o ensino médio tem que corresponder á conclusäo de uma etapa educacíonal universal para toda a populaçäo".

IBAÑEZ 2001, p.70-71

O autor deste artigo presenciou em 2001 no interior do Estado de São Paulo em uma empresa de tecnologia uma situação interessante:[1]

Foi aplicada uma pesquisa sobre necessidades de treinamento entre os funcionários de uma linha produtiva de equipamentos eletrônicos, cerca de 80 operadores de linha de montagem. O resultado da pesquisa retornou que quase 100% dos funcionários gostariam de fazer um curso superior de Engenharia na área específica e nenhum pediu um curso técnico do nível médio ou equivalente.

Ao final a empresa teve de direcionar os desejos de treinamento conforme sua necessidade, selecionando alguns para o nível superior e não todos, e a justificativa prática para isso foi: o que fazer com 80 engenheiros em uma linha de montagem?

Este resultado interessante é para ilustrar que a força laboral, e como foi dito anteriormente, matriz da indústria, serviços e comércio, é tão pouco remunerada diante de certas profissões "do nível superior", que os trabalhadores desprezam a formação técnica.

CONCLUSÃO

Uma solução paliativa é provisória adotada pelo Governo para os profissionais desempregados são os programas de requalificação do FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador, que permite ao trabalhador desempregado receber treinamento para que volte ao mercado de trabalho mais competitivo.

Esta solução é provisória pelo fato de que alguns empregos "deixam de existir", exigindo um novo reposicionamento do trabalhador diante do mercado. Até mesmo o SENAI, criado em 1942 para profissionalizar a mão de obra da indústria de base, passou por mudanças para atender as transformações do mercado (Portal do SENAI).

Cabe ao Estado criar condições para a geração de mais empregos e dar continuidade em seus programas de capacitação competitiva, de maneira ampla e profunda, mas a criação destas condições deve ser ampla, incluindo reformas estruturais e legislativas

Cabe ao gestor de recursos humanos, dentro dos limites e do alcance da organização valorizar a mão de obra técnica e assim evitar o desequilíbrio profissional dentro da empresa.

A questão da limitação da empresa é reforçada pelo fato de caber ao Estado o papel de se questionar se o contexto da inclusão social permite ao indivíduo se auto-sustentar por meio do trabalho.

A qualificação técnica para o trabalho é paliativa pela razão de que não é possível permanentemente vincular o desemprego á qualificação do trabalhador, uma vez superada esta etapa há ainda a necessidade de se criarem postos de trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Jundiaí, 11 de Julho de 2004

 

 

Autor:

Reinaldo Toso Júnior

tosojr-prof[arroba]yahoo.com.br

Wisconsin International University
Doutorado
Administração De Negócios
Rh E Administração
W1027


[1] O nome da empresa foi omitido por questões de sigilo comercial. A empresa é do ramo eletrônico situada na região de Campinas - SP e é de médio porte.



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