Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 


Níveis de prevenção em saúde (página 2)

Ana Catarina Peixoto Rego Meireles

·    provas cutâneas e radiografia do tórax para o rastreio e diagnóstico precoce da tuberculose.

4. Prevenção Terciária

Este tipo de prevenção tem como objectivos: 1) limitar a progressão da doença, circunscrevendo-a, 2) evitar ou diminuir as consequências ou complicações da doença como as insuficiências, incapacidades, sequelas, sofrimento ou ansiedade, morte precoce, 3) promover a adaptação do doente ás consequências inevitáveis (situações incuráveis), e 4) prevenir recorrências da doença, ou seja, controla-la e estabiliza-la.

Para atingir estes objectivos, é frequente (e necessária) a intervenção associada da medicina preventiva e da medicina curativa. Com efeito, é muitas vezes difícil individualizar os seus papéis e sobressai, não raras vezes, a prevenção exercida fundamentalmente através de terapêutica, controlo e reabilitação médicas. Não obstante essa situação, há múltiplos exemplos de acções de carácter não médico e que são fundamentais para a potenciação da capacidade funcional do indivíduo, melhoria significativa no seu bem-estar, reintegração familiar e social e até diminuição dos custos sociais e económicos dos "estados de doença". Senão veja-se:

·    realização de sessões formativas/educativas nas escolas e locais de trabalho para eliminar atitudes fóbicas em relação a indivíduos seropositivos para o VIH

·    reintegração de trabalhadores na empresa que por algum tipo de incapacidade (pós-traumática, sequelas de politraumatismos, etc.) não possam voltar a realizar o mesmo tipo de actividades

·    educação, formação e apetrechamento necessários á autonomia de indivíduos invisuais.

5. Prevenção Quaternária

Trata-se dum nível de prevenção recentemente introduzido − "o 5º nível". Apesar de desconhecido ou não aceite por muitos, este nível de prevenção assenta num conjunto de evidências e argumentos de contexto muito actual e premente.

É sabido que a população − concretamente dos países mais desenvolvidos − se encontra em progressivo envelhecimento, e que tal facto determina o aumento de doenças crónico-degenerativas, doenças do foro oncológico, com necessidade de cuidados assistenciais de toda a ordem, designadamente continuados e paliativos. Nesse sentido, a alteração da estrutura familiar e da dinâmica social também contribuem para a institucionalização dos idosos, internamentos mais prolongados (até em fase terminal), decorrendo também uma maior solicitação de assistência.

A inovação científico-tecnológica − médica, cirúrgica, laboratorial, etc. − é cada vez mais "veloz" no seu surgimento, e também mais exigente na verificação experimental, financiamento e cumprimento de normas para introdução no "mercado", entre outros aspectos.

As maiores expectativas das populações face á saúde − exigência de mais e melhores cuidados de saúde − e a prática duma "medicina defensiva", conduzem á avultada realização de exames complementares de diagnóstico e aplicação de possibilidades terapêuticas, cada vez mais caras e sofisticadas, que podem ultrapassar o apropriado e racional.

É atribuído "estatuto patológico" a factores de risco e situações fisiológicas. Ao se estabelecerem limiares de intervenção cada vez mais baixos gera-se uma "epidemia de riscos", e consequente alargamento do consumo de cuidados de saúde e mercado farmacêutico.

O "patrocínio da doença" pela indústria farmacêutica, através de campanhas dirigidas ao público, e beneficiando da sobrestima da clínica e dos factores de risco, resultam em "marketing do medo" promotor de consumo.

A "dessacralização" dos clínicos devido a um público mais activo na sua saúde, que aceita menos passivamente a autoridade médica, e que é mais permeável a outras influências menos credíveis (porque parciais) como a já referida indústria farmacêutica, informação e publicidade em media tendenciosos, além do excesso de informação que o público não sabe gerir, leva a uma aquisição de produtos e serviços de modo mais avultado.

Como consequência de todos estes factores e realidades, resultam uma sociedade dependente e "hipermedicalizada", a "rotulagem" indevida e a "epidemia de riscos", efeitos secundários da utilização excessiva (iatrogenias), custos crescentes e desperdício em saúde.

Perante este cenário, a prevenção quaternária tem como objectivos:

·    evitar o excesso de intervencionismo médico e suas consequências (ou iatrogenias)

·    detectar indivíduos em risco de sobretratamento ("hipermedicalização"), para os proteger de novas intervenções médicas inapropriadas

·    sugerir, subsequentemente, alternativas eticamente aceitáveis por forma a curar sem dano

·    capacitar os utentes, enquanto consumidores de cuidados de saúde, quanto ás implicações (individuais, sociais, económicos) do consumo inapropriado

·    salientar a importância de "análise das decisões clínicas" no aumento da qualidade do acto médico, no complemento e reforço do julgamento e decisão clínicos, na utilização dos métodos de diagnósticos e tratamento, na prescrição criteriosa e adequada técnico-cientificamente, na racionalidade económica e do acto médico.

Em suma, este nível preventivo visa, genericamente, evitar ou atenuar o excesso de intervencionismo médico − actos desnecessários ou injustificados, "passivos" ou "activos".

Para alcançar aueles objectivos, nomeiam-se como alvos de intervenção quer os profissionais de saúde, quer o público utente em geral.

Os profissionais de saúde deverão reforçar a análise do processo de decisão em situações de incerteza. Para tal, têm, como instrumento actualmente muito proposto, a epidemiologia clínica, fundamento da "medicina baseada na evidência" ou "medicina baseada na prova", além da aplicação dos princípios da proporcionalidade e da precaução − isto é, os ganhos potenciais de qualquer intervenção devem ser ponderados face aos respectivos riscos.

Relativamente aos utentes, há que os capacitar, enquanto consumidores de cuidados de saúde:

·    quanto ás implicações (individuais, sociais, económicas) do consumo inapropriado

·    quanto á aceitação e uso de informação necessária e suficiente para poderem tomar decisões autónomas, sem falsas expectativas

·    quanto ao conhecimento das vantagens e desvantagens dos métodos de diagnósticos e tratamento propostos

·    quanto á promoção de fontes independentes de informação em saúde.

Bibliografia

Imperatori, E; Giraldes, M R. Metodologia do planeamento da saúde: manual para uso em serviços centrais, regionais e locais. Lisboa: Escola Nacional de Saúde Pública; 1982.

Pineault, R; Daveluy, C. La planificación sanitaria: conceptos, métodos, estrategias. 2ª edición, Barcelona: Masson (Salud y Gestión); 1990 [Tradução do original em língua francesa: La planificacion de la santé: concepts, méthodes, stratégies. Montreal: Agence d`Arc].

Last, J M. Um dicionário de epidemiologia. 2ª edição, Lisboa: Departamento de Estudos e Planeamento da Saúde; 1995.

Beaglehole, R; Bonita, Rprevenção; Kjellström, T. Basic epidemiology. 1st edition, Geneva: World Health Organization; 1993.

Almeida, L M. Da prevenção primordial á prevenção quaternária. Revista Portuguesa de Saúde Pública. 2005;23(1):91-6.

Excerto da dissertação "Níveis de prevenção: conceito e contributo do médico de saúde pública", efectuada na Administração Regional de Saúde do Norte, IP, no âmbito do Internato Médico de Saúde Pública

Glossário (Wikipedia)

Prevenção primordial é o conjunto de actividades que visam evitar o aparecimento e estabelecimento de padrões de vida social, económica ou cultural que se sabe estarem ligados a um elevado risco de doença.

Prevenção primária é o conjunto de acções que visam evitar a doença na população, removendo os factores causais, ou seja, visam a diminuição da incidência da doença. Tem por objetivo a promoção de saúde e proteção específica. São exemplos a vacinação, o tratamento de água para consumo humano, medidas de desinfecção e desinfestação, ou acções para prevenir a infecção por VIH − como acções de educação para a saúde e/ou distribuição gratuita de preservativos, ou de seringas descartáveis aos toxicodependentes.

Prevenção secundária é o conjunto de acções que visam identificar e corrigir, o mais precocemente possível, qualquer desvio da normalidade, de forma a colocar o indivíduo na situação saudável, ou seja, têm como objectivo a diminuição da prevalência da doença.Visam o diagnóstico, o tratamento e a limitação de danos. Um exemplo é o rastreio do cancro do colo uterino, causado pela transmissão sexual do HPV.

Prevenção terciária é o conjunto de acções que visam reduzir a incapacidade de forma a permitir uma rápida e reintegração do indivíduo na sociedade, aproveitando as capacidades remanescentes. Como exemplo, podem-se citar acções de formação a nível de escolas e locais de trabalho que visem anular atitudes fóbicas em relação a um indivíduo infectado pelo VIH. Outro exemplo, a nível da saúde ocupacional, seria a reintegração de um trabalhador na empresa, caso não pudesse continuar a exercer, por razões médicas, o mesmo tipo de actividades.

Prevenção quaternária é o conjunto de acções que visam evitar a iatrogenia associada ás intervenções médicas, como a sobremedicalização ou os "excessos preventivos".

 

 

Autor:

Ana Catarina Peixoto Rego Meireles

a.catarina.meireles[arroba]gmail.com

É natural do Concelho de Vila Verde, Distrito de Braga.

Concluiu a Licenciatura de Medicina em 2004, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Em 2005 foi Interna do Ano Comum nos Hospitais de Universidade de Coimbra.

Em 2006 ingressou na Especialidade de Saúde Pública, estando a frequentar o Internato Complementar na Unidade de Saúde Pública de Braga.



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.