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Reengenharia brasileira (página 2)

Reinaldo Toso Júnior

" O setor privado parece se deixar seduzir pela fácil realização de jamborees de cultura administrativa importada, pagando-se pequenas fortunas para assistir ao que poderia ser lido em livros. Isso é que é preguiça!"

BEHRENS, 2004

Sull e Escobari (2004) explicam que o mercado nacional é muito instável, "turbulento", tornando difícil a aplicação de técnicas e estratégias originalmente criadas em mercados mais estáveis e duradouros. Deve-se considerar que não são os mercados ou os negócios mais estáveis que fazem as nações desenvolvidas, em sua maioria anglo-saxãs, a Globalização trouxe a mudança rápida de mercados, mas o que nos dias de hoje permite um melhor planejamento é a manutenção de regras mais estáveis (governos, leis, OMC, etc.)

No Brasil, e porque não na Argentina ou na Bolívia como exemplos dos problemas recentes com o Mercosul e com os Hidrocarbonetos respectivamente, o que torna o "jogo" mais dinâmico são as constantes mudanças legais, as "regras", que se alteram muito sem contar os riscos econômicos típicos da América Latina.

A própria dificuldade dos EUA ao propor a ALCA para o Brasil representa esta situação, muitas vezes os EUA reclamam por não saberem bem o que o Brasil realmente quer e o mesmo aplica-se na questão internacional, como a rodada da cúpula Árabe-Latino Americana onde explicamos e não explicamos o que assinamos, enquanto os EUA e o mundo indagam sobre os compromissos assumidos pelo Brasil, o Brasil comemora não o que foi tratado, mas o encontro em si, quem se lembra da missão comercial brasileira na China?.

Talvez seja este um dos contrapontos culturais, entramos em negociações sem muito bem saber o que queremos, mudando de objetivos após cada rodada e "sentindo" a situação a cada momento, típico de quem não pode se dar ao luxo de planejar muito bem o seu futuro. O mesmo ocorreu com o processo sucessório na Presidência da República ao elegermos a esquerda, uma "virada de mesa", mas não foi bem assim, a esquerda continuou o trabalho da direita, só que quem não percebe bem como é o Brasil se dá mal, em Rodrigues (2005) com Martín Escobari em entrevista á Gurusonline relata-se o caso da venda da Ambev por causa dos receios da eleição de 1989.

Na questão da competitividade existe outra diferença interessante: como o brasileiro vê a organização, que as empresas precisam ter lucros para sobreviverem parece óbvio, mas apenas para sobreviver, o brasileiro coloca as empresas privadas contra a parede: elas devem ter o objetivo de gerar empregos. O que é mais fácil mudar a cultura de um povo ou adequar as empresas a cultura deste povo? (170 milhões de habitantes).

" Pesquisa da revista "Exame" mostra que para 93% da população, o objeto supremo de uma empresa privada é a geração de empregos. A segunda missão, de acordo com 60% das respostas, é ajudar a desenvolver o País. O item menos citado -apenas 10% -foi o lucro."

ADMINISTRADOR PROFISSIONAL, 2005

Uma das maiores discussões sobre a Reengenharia e sua sobrevivência foram os resultados pobres obtidos pelas empresas que empregaram nominalmente a reengenharia e na prática fizeram outra coisa. Na cultura brasileira o nosso jogo de cintura (RODRIGUES, 2005) é uma estratégia de sobrevivência, mas mal empregado o "jeitinho brasileiro" acaba transformando-se em atalhos mal planejados. Esta insistência em burlar as regras são o resultado de um caldeirão de misturas culturais, econômicas e sociais: flexibilidade, adaptabilidade (as boas) e limitações de conhecimentos e recursos (as ruins).

Se a reengenharia é um redesenho dos processos de negócios da organização, dos sistemas a ela associados e da estrutura organizacional para obter um salto substancial na performance dos negócios existem muitas razões para o empresário brasileiro empregar a reengenharia, pois toda vez que ele consegue com sucesso reverter uma situação negativa "reinventando" seu próprio negócio, dentro das normas legais, ele praticou a reengenharia.

Razões para a prática da reengenharia no Brasil não faltam, pois os baixos resultados de performance, mudanças na base de negócios, concorrência feroz e perda da competitividade assolam as empresas brasileiras rotineiramente, melhor dizer ciclicamente, e os problemas podem começar a surgir desde uma disputa acionária familiar ou até de uma promulgação de um decreto mal elaborado na virada do ano, mas a reengenharia não pode ser confundida com as outras práticas ou ações isoladas.

Hammer e Champy (1994) caracterizam o principal da reengenharia como sendo uma análise e alteração profunda em áreas chaves do negócio envolvendo a estratégia, processos, tecnologia, organização e cultura. Talvez um dos nossos maiores receios seja não ousar e se contentar em obter 80% dos resultados quando comparados aos outros (anglo-saxões, por que não dizer?) que obtiveram 100% de resultados favoráveis na mudança.

Na prática isto quer dizer que enquanto um é mais duro e inflexível na busca dos objetivos o outro (o latino) é mais maleável por questões de sobrevivência, o que se deve impor são objetivos reais de serem alcançados e adequados as necessidades e disponibilidades e assim não desperdiçar as oportunidades. As oportunidades em mercados instáveis são momentos que se perdidos custarão muito caro no futuro, como listado no Martín Tool Box - dez segredos, na entrevista de Martín Escobari á Gurusonline (RODRIGUES, 2005): "capturar o momento certo".

Segundo Hammer (1997) o repensar com o radical redesenho do processo de negócios deve trazer consideráveis melhoras na performance da organização ou não valeria a pena ser feito, pois as mudanças (de uma reengenharia corretamente empregada) serão profundas. Aqui cabe uma alerta quanto a disciplina, não podemos confundir flexibilidade e tolerância com indisciplina e não alinhamento aos objetivos, se os objetivos são impossíveis então estes devem ser reformulados ou deve-se rever a maneira de se chegar aos objetivos e não "contornar a situação" de maneira a fugir do problema sem resolve-lo. Esta é a maior crítica que se pode fazer a indisciplina do brasileiro: não resolver problemas e contorna-los infinitamente, e isto é uma ameaça ao processo de reengenharia se não mudada esta postura.

CONCLUSÃO

A reengenharia pode ser uma ferramenta para atender aos problemas crônicos das organizações brasileiras ao se efetuar a mudança nas áreas chaves por meio da concentração das energias e dos esforços de todos, visto que o cenário instável obriga as empresas brasileiras a constantes manobras de sobrevivência que poderiam ser transformadas em oportunidades de negócios.

Mas sem a disciplina e a energia necessária para que a mudança seja um processo por completo ou a ignorância na totalidade do problema por quem a implementa poderá trazer resultados completamente opostos aos desejados pela reengenharia (HAMMER, 1997) quando a reformulação é parcial e os resultados atingidos são parciais (o contentar-se com 80% dos 100% almejados conforme parágrafos anteriores).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA ESTADO. Dólar fecha no nível mais baixo desde abril de 2002. Economia. O dólar comercial encerrou abaixo dos R$ 2,4000, em queda de 1,08%, cotado a R$ 2,3840. Disponível em:  http://www.estadao.com.br/economia/noticias/2005/mai/27/142.htm, acesso em  28/05/2005.

ADMINISTRADOR PROFISSIONAL. Jornal. Para brasileiro, missão da empresa é gerar emprego. São Paulo: CRA-SP, ANO XXVIII, nº. 227, Maio de 2005.

BEHRENS, Alfredo. Isso é que é preguiça!. Perdido está o administrador que esquece o seu muiraquitã. Datado de 04/06/2004. Disponível em http://newsleader.blogs.com/, acesso em 28/05/2005.

HAMMER, Michael. A realidade da reengenharia. Entrevista. Reengenharia, Processos. São Paulo: HSM Management, revista, Maio - Junho de 1997.

HAMMER, Michael. e CHAMPY, James. Reengenharia: Revolucionando a Empresa em Função dos Clientes, da Concorrência e das Grandes Mudanças da Gerência. Rio de Janeiro: Campus, 1994.

MEMORIAL DO IMIGRANTE. Memorial do Imigrante: As cores do mundo estão aqui !!!. Disponível em:  www.memorialdoimigrante.sp.gov.br. Acesso em 28/05/2005

MTI Corporation. Main Products Line. Single Crystals and Substrate. Online shopping price list for crystal substrate A-Z. SiO2 ( quartz ) Ø4" x 0.50 Price 1 side polish US$

150.00.  Disponível em: http://www.mticrystal.com/s2y.html, acesso em 28/05/2005.

RODRIGUES, Jorge Nascimento. Os truques do Jogo de Cintura: Management Made in Brazil. Disponível em:  http://www.gurusonline.tv/pt/conteudos/escobari.asp#sabermais. Portugal, Lisboa,  Produções C3iM Lda., Fábrica Digital, Lda., 1999. Acessado em 28/05/2005.

SINDICATO RURAL DE MARINGÁ. Cotações. Mercado Físico. Cotação: SOJA (Disponível no Atacado) -27/05 13:00 MAX Paranaguá/PR 33,60; MIN Maringá/PR  30,70. Disponível em: http://www.sindrural.com.br/cotacoes.php, acesso em 28/05/2005.  Dólar comercial, posição de 27/05: 2,3840. Disponível em:  http://www.sindrural.com.br/agronegocios.php, acesso em 28/05/2005.

SULL, Donald N. e ESCOBARI, Martín. Entrevista com Don e Martin. Sucesso Made In Brazil. Datado em Março de 2004. Disponível em:  http://www.sucessomadeinbrasil.com.br/entrevistas.htm, acesso em 28/05/2005.

Jundiaí, 29 de Maio de 2005

 

 

Autor:

Reinaldo Toso Júnior
tosojr-prof[arroba]yahoo.com.br

Wisconsin International University
Doutorado
Administração De Negócios
Teoria E Prática Da Reengenharia
W1027



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