Adorno: educação e emancipação

Enviado por Nildo Viana


Resumo: Para Adorno, a educação deve, simultaneamente, evitar a barbárie e buscar a emancipação humana. Ele questiona a educação autoritária e pensa uma educação emancipatória, mas, ao não apresentar um projeto de transformação social global, deixa de lado uma compreensão da totalidade da sociedade repressiva e realiza um isolamento do processo educacional, atribuindo a ele um papel transformador que dificilmente pode realizar isoladamente.

Na história do pensamento educacional contemporâneo, Theodor Adorno é um nome de destaque. Nosso objetivo no presente texto é expor a concepção de educação de Adorno de forma crítica, visando resgatar, simultaneamente, suas contribuições e seus limites.

Adorno analisa a educação a partir dos conceitos de barbárie e emancipação (Adorno, 1995). Ele tem como preocupação fundamental a questão da barbárie. Adorno define a barbárie da seguinte forma:

"Suspeito que a barbárie existe em toda a parte em que há uma regressão à violência física primitiva, sem que haja uma vinculação transparente com objetivos racionais na sociedade, onde exista portanto a identificação com a erupção da violência física. Por outro lado, em circunstâncias em que a violência conduz inclusive a situações bem constrangedoras em contextos transparentes para a geração de condições humanas mais dignas, a violência não pode sem mais nem menos ser condenada como barbárie" (Adorno, 1995, p. 159-160).

Adorno identifica barbárie e nazismo, pois este seria um caso de manifestação da barbárie. Durante o nazismo, a violência física se torna algo banal, e as pessoas passam a se identificar com ela, mesmo ela estando desvinculada de objetivos racionais.

O papel da educação, tal como visto por Adorno, é impedir a volta da barbárie, isto é, o retorno do totalitarismo, do nazismo. Este retorno é uma possibilidade existente e é justamente por pensar assim que a preocupação de Adorno se centra na questão da barbárie. As condições histórico-sociais que engendraram o nazismo ainda existem e por isso é preciso impedir o seu ressurgimento. Se a possibilidade do retorno da barbárie existe, então a educação assume um papel importante no sentido de prevenir e impedir tal retorno. A preocupação de Adorno é em evitar a barbárie.

"Qualquer debate acerca das metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão" (Adorno, 1995, p. 119) .

A análise de Adorno mostra uma forte influência de Freud e sua concepção sobre o processo civilizatório (Freud, 1978a). Freud coloca que a civilização produz e reforça o anticivilizatório. Adorno parte desta tese e afirma que esta tese freudiana é fundamental para se realizar uma reflexão sobre Auschwitz e tentar evitar o seu retorno.

Mas, na atualidade, evitar o retorno da barbárie é extremamente difícil através da alteração dos pressupostos objetivos, que geraram e são as condições de possibilidade do nazismo. Diante deste quadro, Adorno justifica sua posição segundo a qual a ênfase deve recair sobre os aspectos subjetivos. Quais são estes aspectos subjetivos? São aqueles que remetem à psicologia dos envolvidos no holocausto, mas não nas vítimas e sim nos perseguidores:

"É preciso buscar as raízes nos perseguidores e não nas vítimas, assassinadas sob os pretextos mais mesquinhos. Torna-se necessário o que a esse respeito uma vez denominei inflexão em direção ao sujeito. É preciso reconhecer os mecanismos que tornam as pessoas capazes de cometer tais atos, é preciso revelar tais mecanismos a eles próprios, procurando impedir que se tornem novamente capazes de tais atos, na medida em que se desperta uma consciência geral acerca destes mecanismos. Os culpados são unicamente os que, desprovidos de consciência, voltaram contra aqueles o seu ódio e sua fúria agressiva. É necessário contrapor-se a uma tal ausência de consciência, é preciso evitar que as pessoas golpeiem pra os lados sem refletir a respeito de si próprias. A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica. Contudo, na medida em que, conforme os ensinamentos da psicologia profunda, todo caráter, inclusive daqueles que mais tarde praticam crimes, forma-se na primeira infância, a educação que tem por objetivo evitar a repetição precisa se concentrar na primeira infância"(Adorno, 1995, p. 121-122).

Assim, na perspectiva de Adorno, a primeira infância assume papel primordial. Embasado na psicanálise freudiana, Adorno afirma que a formação do caráter do indivíduo ocorre durante a primeira infância. O processo civilizatório provoca uma pressão e um sentimento de claustrofobia que é exasperado num mundo administrado. Isto provoca uma busca em superar isto e a violência é uma das formas como se tenta concretizar tal "fuga da civilização".


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