Educação, cognição e subjetividade: contribuições psicopedagógicas e humanísticas.



"Tudo caminha, tudo flui, nada está imóvel.

O universo é com um rio: ninguém se banha duas vezes no mesmo rio".

Heráclito

Desde os meus primeiros estudos e escritos sobre Psicopedagogia, minha atenção sempre está voltada à constituição do sujeito cognoscente. O sujeito que conhece nasce com, ou renasce com (cognoscere = nascer com). Muitas são as questões que se entrelaçam na construção da subjetividade humana, oriundas dos diversos campos do conhecimento que privilegiam o ser humano, tais como a Psicologia, a Psicanálise, a Sociologia, a História, a Antropologia e a Filosofia, que trazem complexas contribuições ao nosso tema.

Conhecer é um aspecto fundamental na constituição do sujeito humano e este processo ocorre nas interações que este sujeito estabelece com os outros e com o mundo. Quando se conhece, o sujeito de faz outro, mesmo sendo o ser único que é. O sujeito vai se estruturando como tal na medida em que vivencia estas interações, num movimento permanente e dialético originado no início de sua própria vida e que ocorre gradativamente a partir do desenvolvimento do seu pensamento.

Sem o pensamento, o sujeito não pode buscar soluções para os problemas a serem enfrentados. Com o pensamento, o sujeito enfrenta a vida, busca de alternativas, propõe soluções, vislumbra novas possibilidades. Na constituição do sujeito enquanto ser pensante é vital que o cérebro seja utilizado em sua plenitude para que este sujeito, de fato, pense.

De acordo com as pesquisas mais recentes, sabemos que nosso cérebro possui zonas e áreas com funções distintas, mas que interagem entre si. Para que haja o pensamento, as diversas dimensões do cérebro devem estar interligadas e funcionando de modo simultâneo, objetivando a construção estruturada do pensamento.

Sara Paín, no seu livro "A função da ignorância" chama nossa atenção para a questão aqui levantada. Segundo esta autora, nossos mecanismos de pensamento são estruturados em duas dimensões distintas, mas complementares: a primeira é a dimensão da objetividade, fundada no campo do possível e vinculada pelos movimentos da ação e da lógica, instaurada na realidade - no que pode ser considerado como real-, mas que esta fora de cada sujeito.

A segunda dimensão é a subjetiva, fundada no campo do afeto e do desejo: desvinculada da lógica pura e voltada à nossa diferenciação como sujeitos únicos e singulares, é elemento fundamental para a constituição de nossas subjetividades e de nossas identidades.

É ainda Paín que nos lembra que precisamos

"nos dar conta de que estamos situados na encruzilhada entre duas formas de construção de pensamento. Há um sujeito que deve aprender e, na aprendizagem, constituir-se como sujeito. Ele conta como um aparelho para elaborar pensamentos sobre a realidade e com um aparelho para fabricar fantasias, que, embora cindidos, interpenetram-se".

Assim, posso afirmar ser essencial que a Educação, como um todo, se perceba neste contexto: o humano se constitui na pluralidade de suas subjetividades e as instâncias objetivas e subjetivas devem estar inerentes nos processos comunicacionais onde se pretende transmitir e construir conhecimentos. A construção e a transmissão do conhecimento vinculam, de modo inconteste, estas duas dimensões. SCOZ (2000) corrobora com este pensar quando afirma que a "transmissão do conhecimento também é a transmissão de nossas formas de ser e de crer, as estruturas simbólicas transmitem-se ao mesmo tempo que o conhecimento científico".

A objetividade e a subjetividade se constituem, portanto, como dois modos através dos quais o nosso pensamento funciona, de modo simultâneo e independente, como afirmei acima. De modo funcional e integrado, na construção do pensamento, objetividade e subjetividade devem estar ligadas, para facilitar a aprendizagem do sujeito. De acordo com PAÍN (1999), é fundamental a que se tenha uma separação nestes processos: objetividade e subjetividade acontecem paralelamente e de modo independente, para que a aprendizagem se efetive, se estruture. É necessário que objetividade e subjetividade existam de modo paralelo, mas sem se misturarem.

Se porventura essas duas dimensões se confundirem, ocorre o que esta autora denomina de estado confusional, um impeditivo ao ato de aprender, sendo decorrente deste processo o aparecimento das chamadas "dificuldades de aprendizagem". Para que este estado confusional não aconteça de modo demasiado, é necessária a construção de um novo cotidiano escolar, espaçotempo em que as diferenças devem ser respeitadas e valorizadas. Em trabalho recente, ressaltei que, no campo educacional, a proposta é a de fazer

" com que cada sujeito valorize o seu percurso e valide positivamente a sua experiência e a do seu grupo, percebendo que cada um de nós é portador de uma unicidade vivencial diferenciada e que, por isso mesmo, deve ser considerado como elemento de crescimento para si mesmo e para o próprio grupo. São as diferenças que fazem com que o movimento das experiências vividas seja incorporado como conhecimento efetivo. A construção da subjetividade humana é processo contínuo, sem interrupção, permanente. Nossa aprendizagem acontece de fato quando, diante do novo e do desconhecido, nos posicionamos de forma aberta e receptiva. Mas para tal, é preciso estarmos animados, motivados, desejosos de assimilarmos novas informações, de transformá-las em conhecimento, nos apropriando de seus conteúdos e com isso, elaborarmos construções de novos saberes."


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.