Espártaco e a política na Antigüidade

Enviado por Michel Silva


  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Os escravos e a política
  4. Os gladiadores em luta
  5. Imagens de Espártaco
  6. Referências

Resumo:

Pretende-se neste artigo, partindo de uma breve reconstrução das lutas políticas travadas em Roma no final da República, localizar a importância das rebeliões escravas, em especial a liderada pelo gladiador Espártaco. É nosso objetivo demonstrar a perda do conteúdo histórico e político nas construções posteriores feitas da imagem de Espártaco, no contexto de "fim da história".

Palavras-chave: Espártaco; República romana; escravismo antigo; luta de classes.

Introdução

Espártaco é quase sempre apresentado como uma personagem de pouca importância na história política romana, ofuscado pelo nome dos "grandes" homens, como Júlio César e Crasso. Embora tenha conseguido fazer com que seu nome seja (pelo menos) lembrado, é apresentado como figura marginal, deslocada do contexto social e político em que viveu. Hoje, Espártaco é visto mais como um símbolo da luta contra a opressão da escravidão do que como um homem real. Deixou de ser o escravo que, quando se levantou contra Roma, foi um dos fatores que abalaram a política do período e desnudaram muitas das contradições da sociedade romana. Espártaco se tornou apenas uma personagem, tão real quanto o Werther de Goethe ou o Dedalus de Joyce.

Podemos encontrar as raízes desse esvaziamento histórico e político da figura de Espártaco nas lutas entre grupos e classes sociais, da Antigüidade aos dias atuais. Da forma como na maioria das vezes são apresentadas, essas lutas sociais parecem não ter uma base concreta; podem ser resumidas a simples problemas morais. Dessa forma, por exemplo, a busca de melhores condições de trabalho e aumento de salário não expressam um antagonismo na sociedade mas apenas diferentes pontos-de-vista. Nesse sentido, não se admite a possibilidade de contradições intrínsecas à sociedade – muito menos luta de classes – mas apenas disputas de interesses, que podem (e devem) ser resolvidas e harmonizadas.

Ora, assim sendo, nada mais normal que construir heróis que expressem tal harmonia, ou seja, que não procurem no conflito e na rebeldia, mas na conciliação e nos acordo entre as diferentes partes, a resolução dos problemas. Um exemplo desse tipo de herói está no filme Matrix, que começou com um grito de "acorde", em sua trilha sonora, fazendo eco à juventude que se rebelava em 1999 em Seattle, para encontrar, no terceiro filme, uma saída que não rompe nem supera nada. Toda a ordem cíclica, explicada com tranqüilidade pelo Arquiteto, não é abalada e, mesmo que Neo tente, não será superada nunca, pois trata-se de um sistema perfeito cuja lógica, muito bem estruturada, funciona como uma perfeita engrenagem. Supostamente, o sistema econômico capitalista é também insuperável, cíclico e perfeito.

O gladiador Espártaco que vemos hoje está inserido nesse contexto ideológico. Em livro relativamente recente, Perry (1999, p. 98-103) consegue contar o período do declínio da República em Roma sem sequer mencionar as rebeliões de escravos ocorridas nos séculos II a.C. e I a.C. Sua descrição da política prioriza unicamente os nomes que ocuparam funções de governo e no parlamento ou militares. O texto, além de mencionar personagens como os irmãos Graco, fala do acordo, celebrado em 60 a.C., que daria origem ao triunvirato formado por Júlio César, Crasso e Pompeu. Curiosamente, nem sequer é mencionado o fato de Crasso e Pompeu terem sido os responsáveis pela derrota do exército de Espártaco, em 71 a.C. Se comparado ao texto de Perry, Giordani (1968, p. 55) não apresenta diferenças substanciais. Uma única diferença é o fato de a revolta de Espártaco ser mencionada, embora não seja narrada, com o objetivo de descrever a rivalidade entre Crasso e Pompeu e a personalidade vaidosa deste.

Roldán Hervás (1995, p. 220-1), mais cuidadoso, não apenas narra resumidamente a revolta organizada sob a direção de Espártaco como descreve o processo de revoltas populares (não apenas as dos cativos) que estavam acontecendo em Roma. Embora se dedique apenas a narrar fatos, sem expor uma análise mais detida, fica evidente que enxerga os processos políticos relacionados ao declínio da República de uma forma mais complexa do que a mera disputa entre alguns "grandes" homens. Parece-nos, inclusive, que Roldán Hervás (1995), nos eventos que incluem Espártaco, Crasso e Pompeu, parte dos fatos que narra Plutarco (1991, v. 3, p. 312-18) no mais importante (e talvez único, se considerarmos que os textos posteriores conhecidos são em grande parte devedores deste) relato sobre Espártaco.


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