Música e razão no Ocidente: alguns comentários sobre Os fundamentos racionais e sociológicos da música, de Max Weber



  1. Resumo
  2. Weber e as ciências humanas
  3. O universo dos estudos sobre música
  4. Principais conceitos
  5. Principais idéias
  6. Algumas conclusões
  7. Referências Bibliográficas

Resumo

A escala de solmização, o canto polifônico, o temperamento, etc. Podemos articular esses fenômenos singulares dentro de um panorama compreensivo? O que a história da música ocidental é capaz de contar sobre a nossa própria visão de mundo? O sociólogo Max Weber deixou uma série de "anotações organizadas", intituladas postumamente Os fundamentos racionais e sociológicos da música[1]que nos apresentam algumas reflexões sobre estas questões. Este artigo se dedica a esclarecer alguns de seus aspectos.

Palavras-chave

Max Weber, racionalização da música, racionalismo ocidental, desencantamento, música ocidental.

Abstract

The solmization system, the polyphonic chant, the temperament, etc. Can we articulate this phenomenon inside a comprehensive perspective? What the history of Occidental music can tell us about our own world vision? The sociologist Max Weber left a few "organized notes", named The rational and social foundations of music, that present some reflections about this questions. This article is dedicated to clarify some of its aspects.

Keywords

Max Weber, rationalization of music, occidental rationalism, disenchantment, occidental music.

Gabriel Sampaio Souza Lima Rezende (Doutorando em Musicologia pela Universidade de Granada/ Espanha)

Panorama geral do contexto em que surgiu a obra Os fundamentos racionais e sociológicos da música

Weber e as ciências humanas

Max Weber (1864-1920) viveu na Alemanha em um período caracterizado por profundas transformações ocorridas a partir da segunda metade do século XIX. À fracassada revolução de 1848 (devemos destacar que, neste ano, aproximadamente 75% da população alemã era rural) seguiram as guerras pela unificação territorial e uma explosão desenvolvimentista impulsionada pelo crescimento econômico, pela industrialização e pela urbanização. Fritz Ringer observa que

"A industrialização alemã, tão logo se acelerou por volta de 1870, foi particularmente abrupta. As tensões sociais e culturais que gerou foram incomumente graves e, sobretudo, os acadêmicos alemães reagiram às perturbações com uma intensidade tão desesperada que começou a aparecer em tudo o que diziam e escreviam, fosse qual fosse o assunto, o espectro de uma era moderna "sem alma"."[2].

A experiência dessa nova realidade por parte da intelectualidade alemã implicou em mudanças determinantes nas bases do pensamento científico. A onda de industrialização estimulou o desenvolvimento da pesquisa pura e aplicada no campo dos processos naturais. Ao mesmo tempo, a especialização do conhecimento contribuía para a formação e definição das bases epistemológicas e metodológicas de diversas disciplinas que buscavam se afirmar como ciências autônomas. Dentro das disputas sobre o estatuto das ciências humanas, que caracterizavam o ambiente universitário alemão do período, Weber desenvolveu tanto suas reflexões sobre epistemologia e metodologia como suas teorias a respeito do processo de racionalização das condutas de vida e a gênese do capitalismo moderno.

Para Weber, a crítica à filosofia da história não havia sido levada às últimas conseqüências. As correntes de pensamento predominantes, que iam dos historicistas aos positivistas e naturalistas, ainda não estavam totalmente livres das representações metafísicas, de modo que continuavam misturando conceitos e realidade em suas análises. Weber entendia que os conceitos eram somente meios intelectuais que ajudavam a compreender a realidade. Portanto, os conceitos teriam a característica de ser "tipos ideais", ou seja, desenvolvimentos tipicamente ideais de determinados agentes ou processos históricos; uma "utopia racional" que, devido a sua clara inteligibilidade e a sua falta de ambigüidade racional, serve ao pesquisador como uma ferramenta de grande valor heurístico em sua análise da realidade empírica.

Seja contra historicistas, positivistas, filósofos da história ou naturalistas, a crítica de Weber tocava uma questão fundamental: a relação com os valores. Não existe, para Weber, um conhecimento "puramente objetivo da realidade", no sentido de um conhecimento isento de premissas, "desligado de todos os valores, e ao mesmo tempo absolutamente racional."[3]. Em suma, a "objetividade científica" é, ela por si mesma, um conceito, historicamente condicionado, que reflete a influência das teorias positivistas/naturalistas e historicistas nos campos do saber, ao mesmo que também reflete, de modo indireto, a tendência à progressiva intelectualização em todos os campos das atividades humanas no seio da civilização ocidental moderna.


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