Reflexões acerca da relação entre turismo e cultura



  1. Considerações Iniciais
  2. Turismo cultural: cultura vendida enquanto mercadoria?
  3. Reflexões Finais
  4. Referências

Considerações Iniciais

O presente artigo pretende discutir a utilização turística de manifestações culturais, a partir de discussões sobre a apropriação da atividade em práticas sociais e culturais. Desta maneira, objetiva-se identificar como convivem e se interagem os elementos simbólicos, estéticos, sociais e culturais com a atividade turística, quando determinada comunidade passa a compartilhar momentos de singular importância dentro de sua dinâmica social com visitantes.

Tal objetivo será alcançado através de contribuições teóricas sobre utilização turística de bens culturais e simbólicos, além de discussões e revisões de literatura sobre temas como cultura, turismo cultural e suas especificidades.

Assim, busca-se compreender o turismo como um fenômeno econômico e social que pode ocasionar mudanças estruturais na sociedade, afetando de diversas formas grandes partes da população mundial, quando muitos grupos modificam aspectos de suas culturas ao entrarem em contato com todo o universo de novidades que são trazidas pela atividade.

No que se refere à cultura, Geertz (1989) afirma que o homem é um animal amarrado a teias de significados por ele mesmo. A cultura seria este emaranhado de teias e as conseqüentes análises que são construídas ao longo do tempo por seus componentes, compreendendo-a através de seu aspecto semiótico, que se constitui como uma ação simbólica repleta de significados.

Sodré (2001) acrescenta ainda que cultura é o conjunto dos instrumentos de que dispõe a mediação simbólica (língua, leis, ciências, artes, mitos) para permitir ao indivíduo ou ao grupo a abordagem do real. Os instrumentos ditos culturais são "equipamentos" coletivos ou grupais, postos à disposição de todos.

Warnier, em A mundialização da cultura, apresenta a cultura enquanto totalidade complexa que compreende as capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade, possuindo assim certas características. Dentre estas, destacam-se o fato de que nenhuma cultura poderá ser transmitida de forma independente à sociedade que a alimenta – a cultura é assim, socializada; as culturas são singulares, extraordinariamente diversas e localizadas – podendo, em alguns casos, ser mais social que espacial; toda cultura é transmitida pelas tradições reformuladas em função do contexto histórico; a língua e a cultura estão no coração dos fenômenos de identidade, entre outros inúmeros pontos que podem e são destacados e estudados na busca em se aprofundar e desvendar as suas particularidades.

Por sua vez, o turismo possui reconhecidamente força enquanto fenômeno social e econômico capaz de gerar impactos de diferentes magnitudes. A intensidade desses impactos costuma ser dividida em áreas nas quais o turismo tem influência: na economia local, regional, nacional ou mesmo internacional; no meio ambiente, seja ele natural ou artificial; e na esfera sociocultural, o que abrange fatores comportamentais dos turistas e da comunidade receptora e as inter-relações do turismo com as diversas tradições e culturas das regiões visitadas. Assim, a atividade turística produz inúmeras conseqüências nas comunidades, podendo ser divididas em aspectos positivos e negativos.

No primeiro grupo, destacam-se a valorização do artesanato local, da herança cultural, orgulho étnico, valorização e preservação do patrimônio histórico-cultural, intercâmbio cultural, troca de valores, vivência emocional e espacial, melhoria em infra-estrutura pública e geração de empregos e renda.

Já no grupo dos aspectos negativos estão a super utilização de sítios e localidades, falta de controle local sobre a dinâmica da atividade, trivialização ou perda de autenticidade, a fossilização das culturas, drogas, prostituição, especulação imobiliária, descaracterização do artesanato e arquitetura, vulgarização das manifestações culturais, autenticidade encenada, mercantilização, mudança nos costumes e valores, crimes, enfim (SWARBROOKE, 2000).

Entretanto, é preciso destacar, segundo Lickorish (2000), que tais considerações não devam ser generalizadas para determinada região, uma vez que as mudanças provocadas pela atividade turística são influenciadas por uma vasta gama de fatores, tais como o tamanho do país, a difusão geral da atividade, as crenças religiosas e culturais básicas, dentre outros. Não há como negar a importância e o destaque desta atividade para a manutenção das culturas de determinadas comunidades, ou ainda, para a sobrevivência de outras, que vêem no turismo uma fonte de renda e manutenção de bens culturais e patrimoniais.

É preciso ainda considerar que não se deve "culpar" o turismo por todos os problemas descritos acima, já que as comunidades estão ligadas às mudanças sociais que afetam todas as sociedades no atual processo de modernização. Assim, o turismo acelera o processo, mas não o cria.


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