A Rua Direita, em Mariana, MG: considerações sobre as relações entre patrimônios histórico-culturais e a atividade turística



  1. Introdução
  2. Um pouco da história da Rua Direita: elemento da construção da memória coletiva marianense
  3. A atividade turística em cidades históricas e a importância da Rua Direita para o desenvolvimento do Turismo Cultural em Mariana
  4. Considerações finais
  5. Referências

Introdução

O presente artigo busca construir uma reflexão acerca dos patrimônios histórico-culturais e a atividade turística, abarcando questões sobre esta ligação, fortemente visualizada através do turismo cultural. A fim de exemplificar esta ligação, será apresentado como estudo de caso o exemplo da Rua Direita em Mariana-MG, que se constitui ao mesmo momento enquanto patrimônio histórico-cultural e também importante atrativo turístico, uma vez que é um exemplar vivo e conservado do período barroco que encanta a tantos visitantes.

Através do conjunto arquitetônico no qual a Rua está inserida, conservando características artístico-arquitetônicas representativas do gosto construtivo predominante em Minas Gerais em fins do século XVIII, é construída uma forte ligação entre o passado e o presente na cultura e história do município. Ao mesmo tempo, a atividade turística local tem no conjunto um atrativo de destaque para o desenvolvimento do turismo cultural, segmentação da atividade que atualmente é destaque nas chamadas cidades históricas mineiras.

Destarte, a discussão é baseada na necessidade de se compreender a utilização turística de um patrimônio que pertence à determinada comunidade, e que, através da prática turística, passa a pertencer não apenas àquelas pessoas, mas também, mesmo que momentaneamente, aos seus visitantes.

Um pouco da história da Rua Direita: elemento da construção da memória coletiva marianense

O núcleo histórico de Mariana, cidade mineira do século XVIII, distante 102 km de Belo Horizonte, demonstra que a história da primeira cidade de Minas Gerais continua viva e dinâmica. A Rua Direita, parte integrante do núcleo histórico, é um dos mais belos exemplos do período colonial, através da construção de magníficos sobrados, marcos de uma época de ostentação e luxo. Pavimentada com pedras do "tipo pé-de-moleque", polidas pelo uso, envolve o visitante, a partir de um ponto de vista pitoresco, valorizando os monumentos que nela se encontram.

O início das construções das casas se deu a partir de 1753. No livro de Atas da Câmara (de 1751 a 1753), segundo Salomão de Vasconcelos, há um acordo determinando que todos os pretendentes à edificação do lado esquerdo da rua construíssem as casas "de maior nobreza, dando fundos para o Palácio". Essa é a razão de se ver até hoje todas as casas desse lado da rua de dois andares e de sacadas, enquanto as do lado oposto, dando fundos para a antiga praia, são, na maioria, baixas, de um só pavimento. O referido "palácio", mencionado no acordo, era, evidentemente, o do bispo, antiga sede do governo da Capitania de Minas do Ouro/São Paulo, à época do Conde de Assumar.

Atualmente, podem ser vistos exemplares de construção coloniais, quase todos ainda bem conservados. O sobrado de maior proeminência é a antiga residência do "Barão de Pontal", por suas belíssimas sacadas em pedra-sabão, obra de fina arte, atraindo a curiosidade do mais exigente artista, construído em 1752 por José Pereira Arouca. Atualmente, o sobrado pertence à Arquidiocese de Mariana. Além de outros belos casarões, merece destaque a casa onde morou Alphonsus de Guimarães, funcionando no local o museu com os pertences do poeta-simbolista que nasceu no município.

Considerada como um importante elemento da memória local, é expressão viva e repleta de fatos históricos, acontecimentos, procissões religiosas, ainda hoje utilizado por vivências culturais da população. Contribuindo, assim, para a construção da memória e identidade da cidade, o que dá aos moradores sentido, sentimento de pertencimento e auto-estima.

A memória de determinada população atua como uma operação ideológica, acarretando o desenvolvimento de um processo psíquico-social de representação de si próprio que reorganiza simbolicamente o universo das pessoas, das coisas. Segundo Pollak (1992, p. 204, apud BATISTA, 2006, p. 29), a memória se caracteriza como sendo "um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade de coerência de uma pessoa de um grupo em sua reconstrução de si". Elemento essencial para a construção da identidade de um povo, serve como elo entre a população em determinado tempo e seus antepassados. Compreender determinado patrimônio histórico-cultural como sendo uma maneira de representação do passado é uma tentativa de manutenção e compreensão da própria identidade de um povo.


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