Teoria da estruturação e ação coletiva: uma exegese sobre a obra de Anthony Giddens



  1. Introdução
  2. A teoria da estruturação
  3. A sociedade reflexiva
  4. Força ontológica e ação coletiva
  5. Bibliografia

Ao enunciar a teoria da estruturação, Anthony Giddens remete freqüentemente a exemplos de como ocorre a interação entre individuo e estrutura; entretanto, este autor não confere a mesma atenção a como os indivíduos, enquanto coletividade, agem em seu cotidiano. Neste artigo é promovida uma reflexão acerca das possibilidades de ação coletiva na teoria da estruturação, introduzindo o conceito de força ontológica como categoria implícita desta teoria.

I. INTRODUÇAO

Umas das questões mais instigantes na história da sociologia remonta à sua própria origem. Indagações que buscam os motivos pelos quais vivemos em sociedade, ou que procuram desvendar se há prevalência do individuo sobre o meio social, conferem dinamicidade aos debates em ciências sociais, tendo em vista o seu caráter histórico de conflito de idéias. Contemporaneamente, as concepções que predominam a respeito, por exemplo, das relações entre indivíduo e sociedade são interessantes, pois é a diferenciação das partes que gera a unidade do conjunto; porém, o contrário também é verdadeiro. Os indivíduos pactuam a vida em sociedade, mas esta não é apenas um somatório daqueles que a integram; mais que isso, é ela, em múltiplos sentidos, que dá origem ao indivíduo. Somos nós que fazemos a sociedade ao mesmo tempo em que somos humanos porque a sociedade assim nos faz.

Vale lembrar as palavras de Ira. J. Cohen , ao ressaltar que "se fosse uma questão simples reconciliar ação e coletividades em uma teoria social única, então a discriminação entre esses temas jamais seria cogitada" (COHEN: 1999, p. 394)

Anthony Giddens, sociólogo, se insere neste contexto que considera a articulação entre sociedade e indivíduo. Giddens aponta que seu objetivo é "estabelecer uma abordagem das ciências sociais que se afaste de maneira substancial das tradições existentes do pensamento social" (GIDDENS: 2003, p. IX – prefácio). Deste modo, do ponto de vista metodológico, realiza uma síntese entre a sociologia estrutural e o funcionalismo, de forma que conjugue estrutura e ação numa teoria só, intitulada de teoria da estruturação.

Um exemplo paradigmático desta teoria se encontra na obra Em defesa da Sociologia, na qual Giddens procura demonstrar como que o senso comum apropria conhecimentos das ciências sociais, de modo a relê-los e reinterpretá-los, conferindo-os uma nova roupagem. As ciências sociais, por sua vez, ao estudar o senso comum, promovem uma leitura das concepções deste senso, de modo a apropriá-las e reinterpretá-las à luz das teorias sociais. Em decorrência disto, temos um processo reflexivo, no qual as ciências sociais e o senso comum são, concomitantemente, construtores e produtos de uma mesma relação social.

O centro de análise desta teoria se funda na produção e reprodução da sociedade. Nos capítulos iniciais de A Constituição da Sociedade, percebemos que estudar um sistema social significa estudar as diversas maneiras pelas quais ele é produzido e reproduzido, interagindo com a contingência da aplicação das regras e recursos generativos em contextos impremeditados.

Neste sentido, o conceito de dualidade de estrutura constitui-se como peça-chave para a compreensão desta teoria; da mesma forma que o agente, individualmente ou em grupo, é fundamental. Cumpre dizer que, a grosso modo, o indivíduo recebe um patamar privilegiado na teoria da estruturação, pois é assegurada na sua consciência as condições e conseqüências de seus atos. Mesmo assim, Giddens foge da ingenuidade das correntes anteriores ao admitir que, inevitavelmente, não há conhecimento ou domínio completo das condições e, conseqüentemente, alguns resultados não são previstos. Assim sendo, rompe-se com o dualismo clássico de objetivismo/subjetivismo, existindo uma tensão reflexiva entre eles no plano social.

Tendo em vista esta situação limítrofe, a concepção de história está embasada na própria contingência da atividade humana. Criada e recriada pelas ações e atividades intencionais produzidas pelos indivíduos, a história não é um projeto premeditado, mas sim um simples resultado de esforços que buscam uma direção "mais consciente" das atitudes. A relação do tempo e espaço com a ação humana, neste sentido, simboliza a dinâmica da vida social. Em Giddens, é na conduta cotidiana das pessoas, quase sempre sem a preocupação reformista, que se moldam e se transformam as sociedades humanas. Interessante notar que esta assertiva é objeto de críticas por parte de autores contemporâneos: Giddens não estaria dando a devida atenção aos impactos da ação coletiva.


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