A Internet – a geração de um novo espaço antropológico



  1. Da razão crítica
  2. Do espaço público
  3. Da virtualização
  4. Da territorialidade
  5. Da memória
  6. Da geração de espaços do saber
  7. Do desenvolvimento da humanidade
  8. Bibliografia

"Os espaços antropológicos são mundos de significação
e não categorias coisificadas que partilham entre si objectos corporais."
(Lévy, 1997:186).

A comunicação reticular sustentada nas Redes e Serviços Telemáticos, das quais a Internet é a mais conhecida, gerou a possibilidade de criação e desenvolvimento de um novo espaço público, uma Nova Ágora que apresenta como característica fundamental o facto de ser um híbrido, digamos um Fórum Híbrido em que "o sujeito vive a possibilidade de ambivalência entre o local e o global, entre o eu e o anonimato, entre o eu e o outro do pseudónimo, entre a pertença e o desenraizamento, entre o ser produtor e consumidor de conhecimentos á escala global, entre a nacionalidade e o cosmopolitismo, etc.." (Silva,1999:62).

A Internet é simultaneamente real e virtual (representacional), informação e contexto de interacção, espaço (site) e tempo, mas que altera as próprias coordenadas espacio-temporais a que estamos habituados, compactando-as, ou seja, o espaço e o tempo na rede existem na medida em que são construção social partilhada. Esta construção é estruturada pelos laços e valores socio-políticos, estéticos e éticos que tipificam este novo espaço antropológico.

Este novo espaço com áreas de privacidade -um novo mundo virtual ou mundo mediatizado -é um suporte aos processos cognitivos, sociais e afectivos, os quais efectuam a transmutação da rede de tecnologia electrónica e telecomunicações em espaço social povoado por seres que (re)constroem as suas identidades e os seus laços sociais nesse novo contexto comunicacional. Geram uma teia de novas sociabilidades que suscitam no-vos valores. Estes novos valores, por sua vez, reforçam as novas sociabilidades. Esta dialéctica é geradora de novas práticas culturais.

Trata-se de um novo tipo de organização socio-técnica que facilita a mobilidade no e do conhecimento, as trocas de saberes, a construção colectiva do sentido, em que a identidade sofre uma expansão do eu baseada na diluição da corporeidade, ou seja, o que se perde em corpo ganha-se em rapidez e capacidade de disseminar o eu no espaço-tempo. Assiste-se, assim, a uma aceleração do metabolismo social. Geram-se as chamadas comunidades virtuais (Rheingold,1996; Soares,1999) que se sustentam na partilha intelectual e na convergência da pluralidade e riqueza dos conhecimentos que emanam dos sujeitos. Nestes novos espaços sociais geram-se novas solidariedades, novos excluídos, novos mecanismos de participação, novas formas de democracia, de negociação, de decisão, de cooperação, de afectividade, de intimidade, de sociabilidade que potenciam a emergência de sujeitos colectivos ou de inteligências colectivas conectivas (Lévy,1997; Kerckhove,1998).

As redes e serviços telemáticos geram no-vos espaços de encontro, novos espaços antropológicos, há que questionar em que medida esses novos espaços representacionais (re)criam as identidades e as práticas culturais.

1. Da razão crítica

Existe a necessidade de um pensamento crítico para analisar as transformações promovidas pelos media, nomeadamente a Internet, para que o discurso sobre esta realidade social não seja apenas o discurso utopicamente redentor, tão comum nos últimos tempos.

A razão crítica continua a ser o instrumento adequado para reflectir sobre a realidade. Contudo, não poderá ser a razão crítica fundada no pensamento da modernidade, a razão crítica de tipo cartesiano, que apesar de levar a crítica ao seu estado hiperbólico não a estende a si própria. Há, por-tanto, necessidade de re-pensar a razão crítica porque é necessário descentrá-la da razão racional-instrumental e do modelo estritamente ocidental. É necessário re-fundar a razão crítica numa pluralidade de saberes que não têm como único modelo a racionalidade lógico-matemática, mas racionalidade(s) que entretecem razão e emoção, lógico e lúdico, ociental-oriental. Sem esquecer a importância da ambiência afectiva no desenvolvimento da segurança ontológica (Damásio,1995).

"Caída a ideia de uma racionalidade central da história, o mundo da comunicação generalizada explode como uma multiplicidade de racionalidades "locais" minorias étnicas, sexuais, religiosas, culturais ou estéticas -que tomam a palavra, finalmente já não tacitamente aceites e retomadas pela ideia de que só existe uma única forma de humanidade verdadeira a realizar, não obstante todas as peculiaridades, todas as individualidades limitadas, efémeras, contingentes. Este processo de libertação das diferenças, diga-se de passagem, não é necessariamente o abandono de toda e qualquer regra, a manifestação bruta do imediato." (Vattimo,1991:16-17).


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.