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Alterações morfólogicas de codornas poedeiras submetidas a muda forçada (página 2)

E. A. García; A. A. Mendes; C. C. Pizzolante; N. Veiga; T. K. Mattos

 

4. Material e métodos

O experimento conduzido no aviário de pesquisas da FMVZ – UNESP - Botucatu, utilizou 432 codornas em produção, com 50 semanas de idade no início do experimento, alojadas em uma bateria metálica medindo 1,00 m de comprimento, 1,76 m de altura e 1,10 m de largura, contendo seis andares onde foram colocadas 12 gaiolas metálicas medindo 96 cm de comprimento, 16 cm de altura e 38 cm de profundidade com três compartimentos.

Antes do início do período de jejum procedeu-se uma rigorosa seleção do lote eliminando-se as aves improdutivas e com problemas sanitários. Após a seleção iniciou-se um período de três dias de jejum alimentar, onde as aves receberam apenas água, além de terem redução no fotoperíodo, de 17 horas de luz para cerca de 13,30 horas de luz por dia. Neste período realizou-se uma pesagem diária para estimativa do peso vivo médio do lote, onde todas as aves foram pesadas em balança tipo prato com precisão de 10 gramas. Foram analisados o peso vivo, a percentagem de postura e a taxa de mortalidade antes do início do período de jejum e também diariamente durante este período. No início e no final do período de jejum foram abatidas, pesadas e sacrificadas individualmente, 2 aves por parcela, para retirada dos ovários, ovidutos e fígados, que foram pesados em balança tipo digital com capacidade de 500 gramas e precisão de 0,01 g para avaliação percentual do aparelho reprodutivo (ovário mais oviduto), aparelho digestivo, e fígado. A percentagem de extrato etéreo no fígado foi determinada através do método de Weende (AOAC, 1990).

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com quatro tratamentos (0, 1, 2 e 3 dias de jejum) e três repetições de 36 aves por parcela para avaliação do peso vivo e, de 2 aves por parcela para mensuração das características corporais.

Os resultados obtidos foram avaliados, através da análise de variância de acordo com Zar (1984). A comparação entre pares de médias foi efetuada através do teste de Tukey.

Os efeitos do período de jejum sobre as características físicas foram decompostos através de regressão polinomial ortogonalizada.

Os dados de natureza descontínua foram analisados através das estatísticas para dados não paramétricos, utilizando-se o método de Kruskal-Wallis citado por Zar (1984).

5. Resultados e discussão

As temperaturas mínimas, máximas, médias e a umidade relativa do ar obtidas durante o experimento foram de 19,45ºC; 26,20ºC; 17,83ºC e 80,25% respectivamente.

Os resultados médios de peso vivo, variação percentual do peso vivo, produção de ovos e mortalidade, obtidos durante o período de jejum de codornas poedeiras submetidas à muda forçada encontram-se na Tabela 1.

A análise de variância mostrou efeito (p<0,01) do período de jejum sobre o peso vivo, produção de ovos e mortalidade.

Durante o primeiro dia de jejum houve uma perda de peso corporal de 8,84%, ao passo que a perda de peso acumulada ao final do segundo dia do período de jejum foi 19,38% e, ao final do terceiro dia 25,64% do peso vivo.

Decompondo-se os efeitos dos períodos de jejum sobre o peso vivo através de regressão polinomial encontrou-se efeito linear (p<0,01). Na Figura 1 encontram-se a equação de previsão, o coeficiente de determinação e a reta que descreve os efeitos da variação dos períodos de jejum sobre o peso vivo.

A muda forçada quando efetuada em poedeiras comerciais, requer para sua máxima eficiência, uma perda de peso corporal de 25 % (Hussein, 1996). Para atingir esta perda de peso, as poedeiras comerciais necessitam de um período de jejum de aproximadamente 12 dias, dependendo da temperatura ambiente (Bell, 1988; Bell & Kunney, 1992; Garcia et al. 1996).

Hussein et al. (1988), trabalhando com muda forçada em codornas poedeiras através da adição de 0,3% de alumínio e 1,5 % de zinco encontraram redução no peso vivo de 24,10 e 28,60% para os tratamentos 1 e 2, respectivamente, ao final da primeira semana de tratamento. A redução no peso vivo ocorreu devido a uma inibição no consumo, provocada pela adição de alumínio e zinco à dieta.

A utilização de jejum alimentar por três dias com um dia de jejum hídrico foi utilizada por Zamprônio et al. (1996), com o objetivo de induzir muda forçada em codornas poedeiras. Os autores obtiveram neste período perda de peso de 31,81%. Esta maior perda de peso constatada, provavelmente pode ter ocorrido devido à adição do jejum hídrico ao alimentar, e ou devido à temperatura ambiental ter sido mais baixa que a constatada durante esta pesquisa.

A produção de ovos foi reduzida de 65,70% durante o período de produção para 27,14% no primeiro dia e 27,04% no segundo dia de jejum. No terceiro dia do período de jejum constatou-se uma redução drástica na percentagem de postura, a qual passou para 2,81% (Tabela 1).

A decomposição dos efeitos dos períodos de jejum sobre a produção de ovos através de regressão polinomial mostrou efeito quadrático (p<0,01), tendo-se estimado o ponto de mínima produção aos 4,26 dias de jejum. Na Figura 2 encontram-se a equação de previsão, o coeficiente de determinação e a curva de regressão quadrática dos efeitos da variação dos períodos de jejum sobre a produção de ovos.

Também Hussein et al. (1988) obtiveram após uma semana do início dos tratamentos, redução da produção de ovos de 77,14% no grupo testemunha para 14,10% no tratamento com alumínio e 2,10% no tratamento com zinco, mantendo-se o período de luz de 16 horas por dia. Em um segundo experimento os autores constataram que, mantidos os tratamentos e reduzido o período de luz para 8 horas diárias, a produção de ovos foi reduzida a zero no terceiro dia para as aves que receberam dieta contendo zinco e no quinto dia para aves que receberam dieta contendo alumínio. A redução no fotoperíodo parece realmente auxiliar na redução da produção de ovos durante o período de muda conforme demonstram os trabalhos de Hall et al. (1993).

Considerando-se que Hussein et al. (1988) obteve perda de peso de 24,10% aos sete dias de tratamento e que a produção de ovos nesta ocasião foi de 2,10%, ao analisar os resultados de nossa pesquisa, os dados obtidos indicam que a perda de peso aos três dias de jejum foi de 25,64%, sendo que neste período a produção de ovos foi reduzida para 2,81%, então pode-se inferir que uma perda de peso de 25% foi suficiente para reduzir a produção de ovos a níveis próximos de zero.

Observou-se aumento da taxa de mortalidade com o aumento no período de jejum. No primeiro dia de jejum a percentagem de mortalidade foi de 0,25%, no segundo dia 2,04% e no terceiro dia 4,60% (Tabela 1).

Decompondo-se os efeitos dos períodos de jejum sobre a taxa de mortalidade através de regressão polinomial encontrou-se efeito quadrático (p<0,01), tendo se estimado o ponto de mínima mortalidade aos 0,059 dias. Na Figura 3 encontram-se a equação de previsão, o coeficiente de determinação e a curva que descreve os efeitos da variação dos períodos de jejum sobre a taxa de mortalidade.

Em poedeiras comerciais, de modo geral, a taxa de mortalidade durante o período de muda não é superior a 1,25%, contudo, em codornas poedeiras estes índices são mais elevados conforme pode se observar nesta pesquisa. Também Cantor & Johnson (1984) comparando os efeitos do jejum às dietas de produção acrescidas de óxido de zinco e à dieta de produção, porém com ração restrita na mesma quantidade que as das aves que receberam óxido de zinco durante o período de muda, observaram que as aves submetidas ao jejum apresentaram elevada perda de peso e mortalidade, comparadas às demais.

Elevados índices de mortalidade durante o período de jejum de codornas submetidas à muda forçada foram também observados por Zamprônio et al. (1996). Os autores constataram mortalidades de 23,24 e 25,44% ao terceiro e sexto dias do período de jejum, respectivamente. Deve-se lembrar, no entanto, que os autores associaram o jejum alimentar ao jejum hídrico por um dia, e esta associação provavelmente foi a responsável pelo elevado índice de mortalidade.

Os resultados médios de algumas características físicas obtidos através da necrópsia de uma amostra de aves no início e no final do período de jejum podem ser observados na Tabela 2.

Analisando-se esta tabela observa-se que o peso vivo da amostra destinada à necrópsia passou de 130,76 g no início do período de jejum para 92,96 g no final deste período, ou seja, sofreu uma perda de peso de 28,91%. Esta redução no peso vivo amostral foi maior que a observada quando se analisou todo o lote conforme constata-se na Tabela 1. A redução do peso vivo do início para o final do período de jejum foi significativa (p<0,01).

A percentagem do aparelho digestório em relação ao peso vivo, no início do período de jejum foi de 9,94% e ao final deste período 8,66% ou seja, sofreu uma redução de 12,87%, evidenciando que o período de jejum estudado não foi suficiente para promover uma redução significativa no aparelho digestivo. A diferença encontrada entre as percentagens do aparelho digestivo entre o início e o final do período de jejum se deve principalmente ao esvaziamento gástrico.

Durante o período de jejum verificou-se uma redução significativa da percentagem de aparelho reprodutivo em relação ao peso vivo, o qual passou de 4,80% para 3,28% tendo sofrido, portanto uma redução de 31,67%. Esta regressão do aparelho reprodutivo ocorreu tanto no ovário quanto no oviduto.

Embora se tenha conseguido uma boa redução de peso corporal durante o período de jejum, não se conseguiu inteira redução no aparelho reprodutivo. Estes resultados são concordantes com os observados por Berry & Brake (1985) que através de seus estudos concluíram que a máxima taxa de involução do ovário e do oviduto é conseguida com o prolongamento do período de jejum após a obtenção de um peso corporal mínimo, obtendo-se desta forma prosseguimento e aceleração na taxa de involução do aparelho reprodutivo.

O período de jejum de três dias não foi suficiente para promover redução (p>0,05) da percentagem de fígado em relação ao peso vivo das aves experimentais. A percentagem de extrato etéreo no fígado passou de 34,07% no início do jejum para 16,68% no final deste período, ou seja, sofreu redução (p<0,01) de 51,04% neste período. Esta redução da gordura do fígado provavelmente ocorreu devido à mobilização destas reservas para sua utilização na obtenção de energia necessária para a manutenção durante o período de jejum alimentar.

A quantidade de gordura no fígado de galinhas poedeiras durante a muda forçada foi estudada por Garlich et al. (1984), que observaram que a quantidade de gordura no fígado de frangas com 19 semanas de idade e de galinhas durante o período de muda, as quais ainda não tinham iniciado a produção de ovos, foi semelhante e durante o período de produção de ovos a quantidade de gordura no fígado aumentou até atingir um máximo de 43%. Estes resultados diferem, em parte, dos encontrados nesta pesquisa, onde, a percentagem de extrato etéreo no fígado das aves em produção foi inferior à encontrada por Garlich et al. (1984).

A produção de ovos foi de 65,70% no período anterior ao jejum e após seu término foi reduzida para 2,81%. Estes dados são compatíveis aos de aparelho reprodutivo, onde se verificou que não houve completa redução do mesmo após o jejum de três dias.

6. Conclusões

Nas condições desta pesquisa pode-se concluir que:

Ao final do período de jejum de três dias obteve-se uma perda de peso de 25,64%, uma redução na percentagem de aparelho reprodutivo de 31,67% e uma redução da percentagem de postura para níveis próximos de zero, com índice de mortalidade relativamente baixo.

7. Referências bibliográficas

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Garcia EA1 Mendes AA2 Pizzolante CC3 Veiga N1 - arielmendes[arroba]fca.unesp.br

1- Profº Assistente Doutor do Depto. de Produção e Exploração Animal – FMVZ - UNESP

2 - Profº Titular do Depto. de Produção e Exploração Animal – FMVZ /  UNESP 

3 - Pesquisador Científico do Instituto de Zootecnia – Brotas

Depto. de Produção e Exploração Animal - FMZV/UNESP Caixa Postal 560 - Distrito de Rubião Junior 18.618-000 - Botucatu – SP.



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