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Efeito da restrição alimentar durante o final da gestação sobre o peso ao nascer de cordeiros Santa (página 2)

Luciana Castro Geraseev

Material e métodos

O trabalho foi realizado no Setor de Ovinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, MG. Utilizaram-se 100 ovelhas Santa Inês, as quais foram cruzadas com um macho da raça Santa Inês. Nessas ovelhas foi feito um tratamento para estimular a ovulação e depois feita a sincronização do cio em grupos de 10 ovelhas por dia. O cruzamento foi feito por meio de monta dirigida para que ocorresse o controle do estágio de gestação das ovelhas. Foi realizado um exame de ultrasonografia nas ovelhas com aproximadamente 60 dias de gestação para identificação do número de fetos que cada ovelha estava gestando, sendo então selecionadas 44 ovelhas gestando gêmeos.

Com 100 dias de gestação as ovelhas foram confinadas e divididas em dois grupos de 22 ovelhas: um grupo recebeu alimentação à vontade para satisfazer suas necessidades energéticas, e o segundo grupo recebeu alimentação restrita para satisfazer 60% das suas necessidades energéticas. O cálculo das necessidades energéticas foi baseado nas recomendações do ARC (1980), levando-se em consideração o peso da ovelha, o tempo de gestação e o número de fetos que cada ovelha estava gestando. A composição da dieta total e do concentrado oferecidos às ovelhas encontram-se nas Tabelas 1 e 2.

Com relação as fêmeas, foram avaliados o peso corporal das ovelhas submetidas ou não à restrição alimentar no início do experimento (cem dias de gestação) e logo após a parição, foram também avaliados a duração da gestação e a massa biológica produzida. A massa biológica produzida correspondeu ao peso total dos cordeiros produzidos pela fêmea em relação ao peso corporal da mãe.

Com relação aos cordeiros, foram avaliados o peso ao nascer dos mesmos, sendo que para tanto estes animais foram divididos de acordo com o sexo (machos e fêmeas). Assim, os tratamentos foram compostos por quatro grupos de cordeiros, um grupo de cordeiros machos que sofreu restrição pré-natal, outro grupo de cordeiros machos que não sofreram restrição, um grupo de cordeiros fêmeas que sofreu restrição pré-natal e um grupo de cordeiros fêmeas que não sofreu restrição.

Para a análise do peso ao nascer foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado, com o seguinte modelo matemático:

Resultados e discussão

O efeito da restrição alimentar sobre o peso corporal das ovelhas está demonstrado na Tabela 3. Aos cem dias de gestação não existia diferença entre o peso corporal das ovelhas dos dois grupos, entretanto, logo após a parição as ovelhas submetidas à restrição alimentar apresentaram um menor peso corporal comparadas com as ovelhas que não sofreram restrição, o que evidência o uso das reservas corporais destas ovelhas.

De acordo com Charismiadou et al. (2000), a restrição alimentar durante a gestação causa mudanças consideráveis no metabolismo das ovelhas. Segundo os autores, a partição dos nutrientes favorece o crescimento fetal em detrimento aos requerimentos das fêmeas gestantes, dessa forma, animais submetidos a um nível nutricional inadequado durante o terço final da gestação utilizam suas reservas corporais numa tentativa de manter o aporte de nutrientes adequados ao crescimento fetal, o que resulta em perda de peso das fêmeas.

Sibanda et al. (1999), trabalhando com cabras da raça Matebele recebendo dietas com diferentes níveis nutricionais durante o terço final da gestação, observaram que os animais submetidos a uma restrição de 60% das recomendações do ARC (1984) apresentaram menores pesos e scores corporais em comparação aos animais sem restrição.

Quanto ao tempo de gestação não houve efeito da restrição nutricional sobre esta variável, sendo o tempo de gestação médio das ovelhas submetidas à restrição nutricional de 148 dias e das sem restrição 145 dias. Estes resultados estão de acordo com os observados por Sibanda et al. (1999), entretanto, diferem dos encontrados por Ivey et al. (2000), que constataram uma redução no tempo de gestação das fêmeas submetidas à restrição alimentar durante o terço final da gestação.

Na Tabela 4, são apresentadas as médias de peso De acordo com Ferrel (1992), o peso ao nascer dos ao nascer dos cordeiros machos e fêmeas com e sem cordeiros pode ser reduzido em média 30% em

restrição alimentar pré-natal. Os valores médios encontrados para os cordeiros sem restrição (3,830 kg) foram superiores aos encontrados por Girão et al. (1999) que ao utilizar cordeiros Santa Inês observou valores médios de 3,39 kg para esta variável.

De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, verifica-se que os pesos ao nascer tanto dos machos quanto das fêmeas sem restrição foram superiores ao grupo de animais da restrição pré-natal, o que comprova o comprometimento do desenvolvimento destes últimos durante a gestação. Diversos trabalhos demonstraram a redução do peso ao nascer em cordeiros oriundos de ovelhas submetidas à restrição de energia ou proteína durante a metade e/ou final da gestação (HOLST et al., 1986; ROBINSON, 1982; SIBBALD & DAVIDSON, 1998; SILVEIRA et al., 1992).

conseqüência da restrição alimentar imposta as ovelhas durante o terço final da gestação. No presente trabalho, foi encontrada uma redução de 25,06% na média geral do peso ao nascer dos cordeiros da restrição pré-natal em relação aos cordeiros sem restrição.

A redução no peso ao nascer dos cordeiros é explicada pelo fato desta variável representar o resultado final do crescimento fetal, sendo este saldo do balanço entre

o potencial genético para o crescimento, refletido pela demanda de nutrientes do feto, e os limites impostos ao suprimento destes nutrientes pelo ambiente materno. Assim, durante o terço final da gestação, quando ocorre o maior desenvolvimento do feto, e, conseqüentemente, a maior demanda por nutrientes, restrições alimentares impostas às ovelhas gestantes limitam a expressão do completo potencial genético para o crescimento do feto (FERREL, 1992).

Para cada fonte de variação, valores seguidos da mesma letra, na mesma coluna, não diferem estatisticamente entre si (P<0,01) pelo teste F.

A importância desta variável em termos de produção animal consiste no fato do peso ao nascer estar intimamente correlacionado com a mortalidade perinatal e com o crescimento pós-natal. No Rio Grande do Sul, Oliveira & Barros (1982) observaram que 80% dos cordeiros que morreram devido ao complexo inanição/exposição ao ambiente pesavam menos que 3,5 kg ao nascer. De acordo com o autor, o incremento do peso ao nascer é um objetivo importante a ser considerado no aumento da produtividade da ovinocultura.

A grande redução observada neste trabalho no peso ao nascer dos cordeiros machos (30,5%) e fêmeas (17,8%) revela a importância da adoção de um nível nutricional adequado para as ovelhas gestantes, principalmente durante o final da gestação. Segundo Kemp et al. (1988), a restrição alimentar imposta durante a gestação pode afetar não só o peso ao nascer dos cordeiros, mas também sua composição corporal e conseqüentemente suas características de carcaça, ressaltando ainda mais a importância da adoção de um nível nutricional adequado para as fêmeas.

A importância da adoção de um nível adequado para as fêmeas no final da gestação fica ainda mais evidente quando consideramos a massa biológica produzida (Tabela 3). A análise deste fator revelou que a restrição alimentar diminuiu a eficiência de produção de cordeiros, resultando uma menor quantidade de produto (kg de cordeiro) produzido por kg de ovelha.

Quanto aos efeitos do sexo sobre o peso ao nascer, os resultados encontrados neste trabalho estão de acordo com os resultados obtidos por Girão et al. (1999) e Pereira et al. (1987), que também encontraram maiores peso ao nascer para cordeiros machos. Por outro lado, Kellaway (1973), estudando os efeitos do plano de nutrição, grupo genético e sexo sobre o crescimento de cordeiros Merinos e cruzados, não verificou diferença no peso ao nascer entre machos e fêmeas nos dois grupamentos genéticos.

Conclusões

A restrição nutricional imposta às fêmeas gestantes durante o terço final da gestação afeta o peso ao nascer dos cordeiros, revelando a importância da adoção de um nível nutricional adequado para esta categoria animal.

Referências bibliográficas

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Luciana Castro Geraseev2, Juan Ramon Olalquiaga Perez3, Rodrigo Palomo de Oliveira4, Fábio Arantes Quintão4, Bruno Carneiro e Pedreira5
lgeraseev[arroba]nca.ufmg.br

1 Extraído da Tese de Doutorado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Federal de Lavras.

2 Professora da Universidade Federal de Minas Gerais/Campus Montes Claros Cx. P. 135 Av.Osmane Barbosa, s/n Montes Claros, MG.

3 Professor da Universidade Federal de Lavras/UFLA Cx. P. 3037 37.200-000 Lavras, MG roperez[arroba]ufla.br

4 Alunos de Pós-Graduação da Universidade Federal de Lavras Cx. P. 3037 37.200-000 Lavras, MG. 5 Aluno de Pós-Graduação da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz brunopedreira[arroba]uol.com.br



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