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Estudos Avançados em Saúde e Exercícios - Suplementos (página 3)

Paulo Gentil

Partes: 1, 2, 3

 

L- Carnitina

Uma pequena explicação bioquímica 

Para a gordura ser "queimada" ela deve ser dissociada em ácidos graxos e glicerol. O glicerol é metabolizado pela mesma via que a glicose, já os ácidos graxos passam por diversas reações até serem metabolizados nos mitocôndrias. O primeiro passo para "queima" dos ácidos graxos é sua conversão em acil-CoA que deverá penetrar no mitocôndria, porém existe um pequeno problema: a membrana mitocondrial é impermeável a essa substância, o que impede sua entrada espontânea e conseqüente degradação. A Carnitina surge exatamente para solucionar esse impasse, se ligando ao radical acila da acil-CoA e levando-o para dentro do mitocôndria, onde há outra coenzima A (CoA) que o recebe e dá prosseguimento às reações. 

Na prática (para perda de gordura) 

Traduzindo, a Carnitina é quem realiza o transporte dos derivados da gordura para dentro dos mitocôndrias, onde eles serão oxidados. Ao tomar conhecimento destas reações, alguns entusiastas da indústria farmacêutica apressaram-se em produzir e vender Carnitina, afirmando que sua ingestão aumentaria a degradação de lipídeos e ajudaria a queimar a indesejável gordura localizada. Esses compostos receberam o sugestivo nome de Fat Burners (Queimadores de gordura). 

O que parece lógico no raciocínio linear é duvidoso e até certo ponto infantil na sistemática bioquímica. Tendo em visto que o catabolismo do tecido gorduroso possui um grande número de reações, catalizadas por diversas enzimas e reguladas por incontáveis fatores, seria demasiado simplista achar que a Carnitina sozinha influenciaria toda essa cadeia de reações sem que os outros passos fossem alterados. Outro ponto a ser colocado é o fato dos tecidos animais saudáveis já possuírem quantidades mais que suficientes de Carnitina para manter as reações em andamento, não sendo esse o motivo de maior ou menor queima de gordura. 

Analisando o uso de carnitina 

Para analisarmos a suplementação da carnitina devemos começar da ingestão em si. Em primeiro lugar deve-se ter em mente a enorme distância fisiológica entre a ingestão do suplemento e o aumento de sua concentração nos músculos. É um caminho tão longo e incerto que diversos autores afirmam que a suplementação de carnitina tem pouco efeito em sua concentração muscular (BASS, 2000; BRASS et al, 1994, VUKOVICH et al, 1994; BARNETT et al, 1994). Em condições normais a carnitina exógena é quase toda eliminada pela urina (OHTANI et al, 1984), e o pior de tudo é que esse pouco que porventura venha a cair na circulação, dificilmente entrará no músculo (BRASS, 2000). Além dessas questões fisiológicas, há outras ainda mais obscuras, como a qualidade dos suplementos. Em um estudo de 1993, MILLINGTON et al verificaram que a média de quantidade de carnitina nos suplementos analisados era apenas 52% do escrito nos rótulos!! Ou seja, se tomando a carnitina em si já e difícil que ela chegue no músculo, imagina tomando farinha... 

Mesmo que tomássemos a carnitina verdadeira e ela de fato chegasse ao músculo, ainda restaria um pergunta: por que tomar? Considerando que há pouca perda de carnitina (perto de 90% dela é reabsorvida pelos rins), concluiremos que deficiências na quantidade de carnitina são muito raras, sendo vistas apenas em algumas doenças hereditárias incomuns. Por esses e outros fatores não há como afirmarmos nada positivo em relação ao uso de uso de carnitina com fins estéticos. 

Na prática para performance 

Supôs-se também que a suplementação da carnitina ajudaria na performance das atividades de endurance por aumentar o consumo de gorduras e poupar o glicogênio muscular, porém não há nenhum estudo relacionando a falta de carnitina à fadiga. Além disso, deve-se ter em mente que o mecanismo de fadiga ainda não é totalmente compreendido, e a falta de glicogênio certamente não é o único fator envolvido. 

Apesar de estudos de longa duração terem verificado alterações enzimáticas sugestivas, os únicos casos onde se comprovou a melhora na performance de atividades físicas foram em condições patológicas como doenças renais (AHMAD et al, 1991), vasculares (BREVETTI et al, 1988) e síndrome de fadiga crônica (PLIOPLYS et al, 1997). 

Concluindo 

- Apesar de haver inúmeros estudos sobre o uso de carnitina, não é possível dizer que sua suplementação traz benefícios para pessoas saudáveis, sejam estéticos ou de performance (HEINONEN, 1996; BRASS, 2000). 

- O uso de carnitina embasa-se apenas em alguns estudos animais e in vitro (DUBELAAR et al, 1991; BRASS et al, 1993), não havendo possibilidades de extrapolação em humanos. 

- As pesquisas feitas usaram doses de até 5 gramas e continuaram sem obter resultados, portanto eu não recomendaria o uso deste aminoácido a menos que você se encontre em uma condição patológica.

Referências Bibliográficas

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HMB - Beta-hidroxi-beta-metilbutirato

Os efeitos anticatabólicos da Leucina e seu metabólito KIC tem sido propostos há mais de 40 anos. Atribui-se a eles diminuição da perda de nitrogênio e inibição do processo de degradação da massa muscular, porém isto nunca verificado com clareza, a menos em alguns casos patológicos de proteólise elevada. Alguns pesquisadores basearam-se em estudos feitos em animais para criar a hipótese que o ß-hidroxi-ß-metilbutirato (HMB) seja o responsável pelos efeitos anti-catabólicos por vezes encontrados com a Leucina e seus derivados. O HMB é um metabólito da Leucina naturalmente produzido pelo organismo, em quantidades médias de 200 a 400 mg por dia, podendo também ser obtido a partir da alimentação. No corpo humano cerca de 5% de toda Leucina é convertida em HMB.

Até hoje não se sabe ao certo como o HMB poderia funcionar, no entanto existem duas hipóteses básicas: 1) inibição direta do processo proteolítico; 2) o HMB pode ser similar e covalentemente ligado a estruturas da membrana destruídas sob estresse, o que diminuiria os danos celulares.

Existem muitos estudos acerca dos efeitos dos metabólitos da Leucina, porém uma boa parte deles foi feito em animais, usando-os com sucesso para aumentar o peso e melhorar sua resistência a doenças (KREIDER et, 1994; VAN KOEVERING et al, 1994; NISSEN et al, 1994).

Pesquisas em humanos destreinados.

Em 1996 NISSEN et al, usaram 3 diferentes doses de HMB (0, 1,5 e 3 gramas/dia) combinadas com duas quantidades diárias de proteína (117 e 175 gramas) em pessoas treinando musculação pela primeira vez. De acordo com os resultados, houve diminuição dos marcadores de degradação protéica com a suplementação de HMB, porém as alterações na massa magra e no percentual de gordura não foram significativas. É interessante notar uma "puxada de sardinha" na maioria dos estudos, principalmente os que têm a participação de NISSEN (ou seja, a maioria deles), no citado anteriormente, por exemplo, não houve alteração significativa na massa magra, porém ocorreu uma tendência de aumento, e os autores convenientemente apenas falaram que ocorreu a tendência, dando a impressão de resultados positivos. Também é importante frisar que a maioria dos marcadores de danos celulares não teve redução, porém os pesquisadores se prenderam somente aos marcadores que mostraram resultados positivos. Ainda assim, sem diferença significativa na composição corporal e na maioria dos marcadores de danos celulares, o estudo apresenta duas hipóteses de como o HMB promove sua "mágica" e conclui que a suplementação de HMB em pessoas submetidas a treinamento de força intenso resulta em ganho de massa magra e diminui o catabolismo. Uma observação minha: isto também ocorreu em pessoas que não tomaram HMB e realizaram o treino de força.

Em setembro de 200 foi publicado outro estudo que usou 3 gramas diárias de HMB ou placebo em mulheres submetidas a 4 semanas de treino de força. Com a suplementação, obteve-se uma tendência a redução nos níveis plasmáticos de creatina fosfoquinase (um indicador de danos celulares), com maiores ganhos de força e de massa magra. O grupo experimental ganhou em média 1,4 kg de massa magra e perdeu 1,1% de gordura, enquanto o placebo ganhou 0,9 kg de massa magra e perdeu 0,5% de gordura, sem, no entanto, haver diferença significativa entre os grupos (p = 0,08) (PANTON et al, 2000). Novamente aparecem tendências, sem nada poder ser afirmado.

Em 2000, GALLAGHER et al publicaram um estudo que mostra claramente a necessidade de termos cuidado com a interpretação de pesquisas. Houve três intervenções: sem suplementação de HMB; 38 mg de HMB por quilo de peso corporal e 76 mg/kg por dia. Trinta e sete homens destreinados terminaram o estudo de 8 semanas, que incluía a prática de musculação 3 vezes por semana. Os resultados foram curiosos:

- Não houve diferenças de força nos testes de 1 repetição máxima.

- Nos testes isocinéticos houve superioridade em algumas velocidades para a suplementação de 38 mg/kg e em outras para 76 mg/kg, enquanto no restante não houve diferenças entre os três grupos.

- Dois dias após o treino, os marcadores químicos de danos celulares eram menores nos grupos que suplementavam HMB.

- Não houve diferença nas alterações no percentual de gordura entre os grupos.

- O grupo que utilizou 38 mg/kg ganhou em média 1,9 kg de massa magra, enquanto os outros grupos não tiveram alterações.

A parte que intriga é que os níveis de HMB eram maiores quanto maiores fossem as doses ingeridas, sendo assim por que somente o grupo que ingeriu 38 mg/kg teve aumento da massa magra? Se o HMB realmente funciona, por que as doses maiores não produziram nenhum resultado? Se o HMB realmente funciona, por que os testes de força não foram consistentes?

Casos especiais e segurança

Pesquisadores do Centro Médico do Condado de Nassau, usaram a combinação de 3 g de HMB, 14 g de Glutamina e 14 g de Arginina para conter a perda de massa magra em pacientes com AIDS. Sessenta e oito pacientes foram recrutados nesse estudo de 8 semanas, medindo-se o peso corporal, a massa magra e a massa gorda. Ao final do estudo, os pacientes que receberam os suplementos ganharam +/- 3 kg de peso total, enquanto os outros ganharam 370 gramas, este ganho de peso do grupo experimental foi principalmente devido à massa magra (2,55 kg), ao contrário do grupo placebo que perdeu 0,9 kg de massa magra. Outro ponto importante foi um aumento de fatores imunológicos no grupo experimental. (CLARK et al, 2000).

Esta mesma dosagem de 3 gramas foi usada por VUKOVICH et al (1997) em idosos, verificando aumento de 1,5% na massa magra e diminuição de 4,1% na massa gorda ao final de 8 semanas.

Quanto á segurança, NISSEN et al realizaram uma revisão em 2000 e concluíram que até 3 gramas diárias são seguras, mostrando inclusive efeitos positivos no níveis de colesterol. GALLGHER et al (2000) também concluíram que a suplementação de HMB era segura após acompanharem por 8 semanas a utilização de mais de 6 gramas diárias e analisarem fatores enzimáticos relacionados à função hematológicas, hepática e renal. KREIDER et al (2000) e NISSEN et al (1996) usaram doses de 3 gramas diárias e também não encontraram efeitos colaterais com a suplementação de HMB.

Vida real

Vejamos agora os estudos em pessoas treinadas.

Em 1999, KREIDER et al, analisaram os efeitos da suplementação de HMB em homens treinados em musculação. No estudo foi testada a suplementação de 0, 3 ou 6 gramas de HMB juntamente com uma bebida carboidrato e proteína em 40 atletas. Os resultados não mostraram diferença nas alterações na composição nem na força entre os grupos. Apesar das concentrações séricas e urinárias de HMB subirem, os resultados não indicaram nenhuma diferença estatística nos marcadores de anabolismo/catabolismo, massa magra, massa gorda, percentual de gordura e força, Concluindo que a suplementação de HMB não produz efeitos positivos em pessoas treinadas.

No ano seguinte, o mesmo KREIDER participou de outra pesquisa em pessoas treinadas. A amostra era composta por jogadores de futebol americano que estavam habituados a treinar força. Durante o estudo foram administradas 3 gramas diárias de HMB. Novamente os resultados não mostraram mudanças significativas nos marcadores de anabolismo/catabolismo, composição corporal (peso total, percentual de gordura, massa magra...), força, e performance de sprint. Com estes resultados, os autores concluem que o HMB não produz alterações positivas na composição corporal, nem oferece vantagens ergogênicas para atletas bem treinados (KREIDER et al, 2000).

Em uma revisão de literatura, SLATER & JENKINS (2000) afirmam que o HMB pode ter efeitos em pessoas jovens destreinadas, porém não há material suficiente para generalizar os resultados para pessoas treinadas. Os autores alertam ainda para a necessidade de cautela diante da interpretação dos resultados das pesquisas devido à falta de rigor da maioria delas, e (observação minha) manipulação das pesquisas.

Concluindo

As doses de HMB usadas nos estudos são muito altas para a possibilidade (e não certeza) de se obter algum resultado. E veja que estou falando em possibilidades, pois os efeitos, quando encontrados, são reduzidos e foram verificados apenas em pessoas destreinadas ou em condições patológicas, sem comentar a estranha omissão de informações importantes e as conclusões incompatíveis com os resultados da pesquisa.

O uso de HMB para obter resultados estéticos por praticantes de musculação é uma prática de custo financeiro muito elevado e sem eficiência comprovada. Já ouvi muitos comentários sobre o envolvimento do dono da patente do HMB em algumas (para não dizer todas) pesquisas que mostraram resultados positivos desta suplementação. Mesmo que isto não seja verdade, a inconsistência dos estudos e suas falhas metodológicas não permitem que se promova o uso do HMB.

Referências bibliográficas

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BCAA

BCAA é a sigla em inglês para aminoácidos de cadeia ramificada (branched chain amino acids), constituídos por: Leucina, Isoleucina e Valina. A suplementação destes aminoácidos é muito comum entre atletas de endurance e praticantes de musculação, sendo impulsionada pela descoberta científica de que eles são prioritariamente oxidados durante atividades físicas. Atualmente existem algumas suposições quanto aos efeitos da suplementação de BCAA:

- os BCAAs competem com o triptofano na passagem pela barreira sangue-cérebro podendo, desta forma, atenuar a fadiga central.

- a suplementação de BCAA evitaria que se usasse a reserva muscular de aminoácidos, diminuindo o catabolismo e ajudando, assim, na hipertrofia.

Atividades de resistência

Os ácidos graxos, assim como o triptofano, são transportados pela albumina. Durante a realização de exercícios prolongados ocorre grande mobilização de ácidos graxos, que conseqüentemente se ligam a uma grande quantidade de albumina, deixando menos dela para carregar triptofano e aumentando a quantidade de triptofano livre. Como conseqüência, maiores quantidades deste aminoácido atravessam a barreira sangue-cérebro; no cérebro o triptofano participa da formação de serotonina, hormônio que causa sonolência. Os BCAAs agiriam competindo com o triptofano pela entrada no cérebro, permitindo que menores quantidades deste aminoácido entrassem, havendo, desta forma, menor formação de serotonina (BLOMSTRAND 2001). Porém fica uma pergunta: quem disse que a serotonina é prejudicial à performance? 

Um estudo dinamarquês comparou três situações: ingestão de carboidrato, carboidrato+BCAA e placebo na performance do teste de 100 km em indivíduos treinados. Neste estudo houve controle da alimentação, estado de treinamento e treinamento realizado antes do teste. Antes e durante o experimento os atletas eram alimentados com uma das três bebidas. Ao final do estudo, não houve diferença na performance entre as três situações, com os níveis de glicose e lactato se mantendo similares em todos os testes, apesar dos níveis de triptofano serem maiores no grupo placebo e os de BCAA maiores na suplementação destes aminoácidos (MADSEN et al, 1996). Um dado interessante deste estudo é que ele envolveu um jejum de apenas 4 horas, enquanto a maioria dos estudos a favor do BCAA envolve períodos superiores a 12 horas, o que é uma situação pouca prática (não conheço ninguém que passaria a metade do dia sem comer e se meteria a pedalar 100 quilômetros, ou que simplesmente correria até não conseguir mais). Sem falar que a ingestão de qualquer coisa deve ser, no mínimo, melhor que nada, após longos períodos de jejum.

Em 1995, VAN HALL et al conduziram uma pesquisa onde se suplementou triptofano ou BCAA em ciclistas. Quando se suplementou triptofano, a quantidade livre deste aminoácido aumento 20 vezes. No entanto não houve diferença entre os grupos (triptofano X BCAA) na perfomance de um teste até a exaustão a 70-75% do VO2máx. Como provar a teoria da competição com o triptofano se nem mesmo um aumento de 20 vezes a quantidade deste aminoácido prejudica a performance? Se fossemos estabelecer uma correlação linear, poderia-se inferir que os indivíduos estariam 20 vezes mais sonelentos, porém no estudo de VAN HALL não foi relatado nenhum caso de ciclistas dormindo durante o teste.

DAVIS et al (2000) parecem estar certos ao afirmar que apesar de haver uma base teórica aparentemente convincente, não há dados suficientes para comprovar os efeitos positivos da suplementação de BCAA na fadiga. Por mais que haja estudos em animais a favor do uso de BCAA em atividades de resistência, as pesquisas em humanos envolvem erros metodológicos que nos fazem questionar sua validade, desta forma com é difícil questionar HARGREAVES & SNOW (2001) quanto eles afirmam que o uso de BCAA não parece afetar a fadiga em exercícios prolongados. 

Extistem também outras propostas para o uso de BCAA em atletas de endurance. Pesquisadores brasileiros (dentre eles os autores do livro "Hipertrofia e Hiperplasia") realizaram um estudo para verificar os efeitos da suplementação de BCAA em fatores imunológicos, a hipótese é de que esta prática reverteria os efeitos negativos que as atividades extenuantes exercem nos níveis de glutamina, (fato verificado por MADSEN et al em 1996). Realmente isto foi verificado: ao final do Triatlo Internacional de São Paulo, os atletas que receberam a suplementação de BCAA mantiveram os níveis plasmáticos de glutamina constantes, já os que receberam placebo tiveram uma redução de 22,8%. Os autores ligam este benefício a um menor risco de infecções (BASSIT et al, 2000). (para saber mais sobre o assunto leia o artigo sobre Glutamina)

Musculação

Como os aminoácidos de cadeia ramificada são oxidados pelo músculo, supõe-se que sua suplementação atenue a degradação protéica que normalmente ocorre durante os processos de obtenção de energia. Desta forma, muitos praticantes de musculação têm usado BCAA para auxiliar no processo de ganho de massa muscular, por acreditar em uma diminuição do catabolismo. Nesse sentido, pesquisadores da University of Tasmania, verificaram que a suplementação de BCAA (+/- 12 g/dia durante 14 dias) atenua os níveis de indicadores de danos musculares durante o exercício prolongado (COOMBES & McNAUGHTON, 2000), porém falta saber o real significado deste resultado.

Mas, de fato, existem algumas evidências para o efeito anticatabólico dos BCAAs. BUSE deixou um grupo de ratos em jejum por dois dias e em seguida injetou, por seis horas, as seguintes infusões nos roedores: salina (placebo), glicose ou BCAA+glicose. De acordo com os resultados, os ratos que receberam os BCAAs tiveram melhor retenção de tirosina, indicando um papel do BCAA na manutenção da massa muscular (BUSE, 1981). Os resultados são interessantes, mas a generalização do protocolo para humanos é muito complicada: 1) se dois dias de jejum já é muita coisa para humanos, imagina para ratos! 2) imagina o que significaria na cronologia do organismo humano, o equivalente a seis horas de infusão de BCAAs!?! 3) a mistura de BCAA+glicose gerou um fornecimento de uma maior quantidades de calorias, o que, por si só, já pode influenciar o metabolismo. Desta forma eu acho que o estudo é um exemplo interessante, mas com suas limitações não deve ser parâmetro para os praticantes de musculação.

Um estudo publicado em 1975 por FULKS et al, verificou que os aminoácidos de cadeia ramificada tem efeitos anticatabólicos e anabólicos em preparações in vitro de músculos do diafragma de ratos (o que parece um pouco distante de nossa realidade). Outro estudo interessante foi feito 20 depois na Yale University School of Medicine, onde se comparou os efeitos da infusão de BCAAs e a de placebo em seres humanos em jejum (LOUARD et al, 1995), porém novamente há problemas com a generalização, pois a infusão durou 16 horas, e os indivíduos do grupo placebo ficavam em jejum enquanto os outros recebiam os BCAA no sangue. Realmente nesse caso eu tenho que dar o braço a torcer, em níveis de metabolismo, eu preferiria tomar BCAA na veia que passar 16 horas sem comer, porém, felizmente, essa não é uma escolha que tenhamos que fazer no dia a dia. Obviamente que ocorreria uma diminuição no catabolismo com a infusão de BCAA, pois o grupo experimental possuia nutrientes na circulação enquanto o outro, apenas uma infusão salina sem valor calórico.

Ao BCAA também são propostas alterações endócrinas positivas. Um estudo italiano procurou verificar o efeito de um mês de suplementação de BCAA nos níveis de lactato, GH e proteína receptora de GH (GHBP). Os níveis de lactato pós-exercício foram menores durante a suplementação, porém as diferenças entre os níveis de GH e GHBP pré e pós-tratamento não foram significativas. Mesmo assim, os autores sugerem que as alterações (não significativas) nos níveis de GH podem melhorar a atividade muscular através da síntese protéica (DE PALO et al, 2001). Mas não devemos nos esquecer que os efeitos do GH no ganho de massa muscular são mínimos quando usados em quantidades grandes (ver artigo GH - mitos e verdades), imagina com alterações não significativas!!!

Resumindo

Os estudos feitos com BCAA estão muito distantes de serem animadores. Em atividades de endurance os efeitos destes aminoácidos parecem ser eficientes em indivíduos destreinados realizando atividades até a fadiga, o que dificilmente ocorre em situações reais. Mas, conforme podemos concluir, o uso de BCAA não parece alterar a performance de indivíduos treinados. 

Em musculação, a situação é mais grave, pois não há nenhuma base para se usar a suplementação, nem teórica, nem prática. Mesmo em termos de ingestão calórica, a suplementação de BCAA teria pouca eficiência, pois as dosagens disponíveis nos suplementos do mercado são muito baixas, tanto que muitos estudos usaram infusão e não ingestão. Outro ponto bem lembrado por LIU et al (2001) é que, apesar de estudos in vitro terem mostrado que as deficiências de alguns aminoácidos de cadeia ramificada poderem prejudicar a síntese protéica, não há situações reais em que os níveis caiam a tal ponto em humanos, de modo que a concentração fisiológica de BCAAs é sempre suficiente para manter a relação anabolismo/catabolismo, sem que a suplementação seja necessária.

Referências bibliográficas

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  • MADSEN K, MACLEAN DA, KIENS B, CHRISTENSEN D. Effects of glucose, glucose plus branched-chain amino acids, or placebo on bike performance over 100 km, J Appl Physiol . 81(6): 2644-2650, 1996.
  • VAN HALL G, RAAYMAKERS JSH, SARIS WGM, WAGENMAKERS AJM. Ingestion os branched-chain amino acids and tryptophan during sustained exercise in man: failure to affect performance. J of Physiol 486(3):789-794, 1995

 

Whey protein (proteina do soro do leite)

Whey protein é o nome em inglês para a proteína do soro do leite. Apesar de defensor de nossa língua, tenho que admitir que o nome em inglês é um pouco mais comercial que lactalbumina ou proteína do soro do leite coalhado. É interessante notar que apesar do marketing em torno da lactalbumina (whey) ser relativamente recente, ela é conhecida há bastante tempo. 

O leite possui duas proteínas primárias: caseína (80%) e lactalbumina (20%). No processo de produção do queijo ocorre a separação do coalho e do soro do leite. Este soro do leite é então processado e purificado até que reste essencialmente o seu concentrado protéico. O processo de obtenção do concentrado protéico pode gerar dois tipos de lactalbumina:

- Isolada - aquece-se o soro do leite para matar os microorganismos, em seguida mistura-o a um combinado químico ao qual só as moléculas protéicas podem se unir, todas as moléculas (lactose, gordura, proteína desnaturada...) que não se uniram à celulose são descartadas. O composto restante é então lavado em uma solução salina que remove as cadeias de celulose, em seguida a solução é filtrada de modo a restar somente a proteína pura. Isto faz com que o isolado de proteína tenha 90 a 95% de pureza, com pouca ou nenhuma quantidade de lactose, gordura e proteína desnaturada.

- Concentrada - após o aquecimento do soro do leite, ele é filtrado em uma superfície que retém apenas a proteína e a gordura, eliminando grande parte da lactose e da água, por não envolver processos químicos artificiais, este método é mais natural, mas em compensação fornece uma menor concentração de proteína pura (25-89%), com quantidades de gordura, lactose e minerais mais significativas que a forma isolada.

Outro processo pelo qual a lactalbumina passa é a hidrolização, daí vem o nome hydrolized whey protein, o que em bom português significa que molécula da proteína do soro do leite coalho foi quebrada em partículas menores na presença de água. Esta quebra em partículas menores tem a finalidade de melhorar a digestão e absorção do composto.

Comparada com as outras fontes de proteínas conhecidas, a obtida do soro do leite é realmente superior, conforme mostra a tabela abaixo:

Tipos de proteínas

PDCAAS

AAS

PER

BV

Lactalbumina

1.00

1.14

3.2

100

Ovo

1.00

1.21

3.8

88 -100

Caseína

1.00

1.00

2.5

80

Proteína de soja concentrada

0.99

0.99

2.2

74

Proteína da carne

0.92

0.94

2.9

80

Canned Kidney Beans

0.68

NA*

NA*

49

Wheat Glúten

0.25

0.47

NA*

54

[Comparação dos valores de digestibilidade corrigida pelo valor dos aminoácidos (PDCAAS), taxa de eficiência protéica (PER), valor biolóico (BV) e valor de aminoácidos (AAS) entre diferentes tipo de proteína. Fonte: http://www.wheyoflife.org/facts/proteinchart.html]

Porém todo este entusiasmo comercial ao redor da proteína do soro do leite não significa necessariamente que ela proporcione as melhores respostas fisiológicas em nosso complexo sistema metabólico.

Como já vimos no artigo Ingestão de proteínas, não se deve atribuir à suplementação de proteína o milagre de potencializar a hipertrofia ou o ganho de força, assim sendo, consideraremos que o aspecto quantitativo esteja definido e não nos preocuparemos com "quanto tomar". Nesse caso poderemos nos preocupar com o aspecto qualitativo das proteínas, a pergunta é: quais as vantagens de utilizar proteína do soro do leite (whey) ao invés de nossa fonte normal?

Ao exaltar as qualidades da proteína do soro do leite os fabricantes fazem parecer que esta fonte de proteína é ideal e que preferencialmente você deve ingeri-la ao invés das proteínas menos nobres, como a caseína e a carne. Porém, além da vantagem para o bolso de quem vende, não se pode verificar grandes benefícios com a ingestão freqüente de lactalbumina.

O fato de ter uma digestibilidade maior e fornecer picos de níveis de aminoácidos mais elevados e rápidos, parece muito interessante dentro de uma perspectiva simplista, mas também pode ser contraproducente na dinâmica fisiológica. Como vimos no artigo Alimentação pulsátil de proteína nosso corpo tende a aumentar sua taxa de degradação à medida que a oferta de nutriente aumenta.

Na Universidade de Londres foi realizado um estudo comparando os efeitos da ingestão de lactalbumina com a de caseína. De fato a proteína do soro leva menos tempo para realizar o trânsito gastrointestinal e fornece um pico de aminoácidos mais rápido. Ao final de 100 minutos havia mais aminoácidos no sangue das pessoas que ingeriam lactalbumina. Passados 300 minutos os níveis de aminoácidos permaneceram elevados com a caseína, porém já haviam retornado aos valores basais em pessoas que ingeriam lactalbumina. Ou seja, com o whey o aumento da aminocidemia é rápido, elevado e transitório, isto levou a um maior estímulo da síntese protéica sem alterar o catabolismo e elevou consideravelmente a taxa de oxidação. Já com a caseína o aumento foi mais lento, suave e contínuo, causando ligeiro aumento da síntese e oxidação protéica, com redução do catabolismo. O saldo final foi um melhor resultado para o grupo que ingeriu caseína (BOIRIE et al, 1997).

A interpretação deste resultado é a seguinte: para que gerar um aumento tão abrupto nos seus níveis de aminoácidos se seu corpo não vai "dar conta do recado"? A resposta fisiológica à proteína do soro do leite é uma faca de dois gumes: aumenta o anabolismo, mas aumenta também a oxidação sem alterar o catabolismo. No final das contas acaba sendo melhor ingerir a boa, velha e, principalmente, barata caseína.

Um detalhe é que este estudo foi feito em repouso e sua aplicação é essencialmente para as pessoas que andam para todos os lados com seu shake de whey, ou melhor, com sua batida protéica à base de lactalbumina, substituindo ou incluindo ela em suas refeições diárias. Nesse caso, as potenciais vantagens do suplemento acabam se transformando em desvantagens. Outra prática sem fundamentação convincente é ingerir estes suplementos no café da manhã, acreditando-se haver uma janela de oportunidade, que ainda não foi verificada, o que existe pela manhã é um alto indicie de catabolismo, gerado pelo jejum prolongado, que poderá ser revertido com extrema facilidade através de uma refeição a base de carboidratos, tendo em vista o efeito antagônico que a insulina exerce no cortisol.

Porém no caso de refeições pós-treino a situação se altera um pouco, pois há um pico de síntese protéica algumas horas após o treino. Neste sentido, pode ser interessante elevar sua aminoacidemia para fornecer matéria-prima ao processo de construção tecidual, nesse caso, sim, a proteína do soro do leite poderia ser interessante. Cuidado para não interpretar a informação de maneira extrema, não está sendo dito que caso você não ingira proteína seu corpo será incapaz de anabolizar, apenas sugere-se que uma maior disponibilidade de aminoácidos poderá ajudar. 

Concluindo, ingerir constantemente proteína do soro do leite ao longo do dia não oferecerá nenhuma vantagem adicional, podendo até ser fisiologicamente prejudicial, além do obvio prejuízo econômico. Mais uma vez está claro que sairia muito mais barato e seria muito mais seguro contratar um bom nutricionista do que confiar em pessoas gananciosas e torrar dinheiro em suplementos "milagrosos".

Referência bibliográfica

  • BOIRIE Y, DANGIN M, GACHON P, VASSON MP, MAUBOIS JL, BEAUFRERE B. Slow and fast dietary proteins differently modulate postprandial protein accretion. Proc Natl Acad Sci U S A. 1997 Dec 23;94(26):14930-5.

 

Estimuladores da liberação de hormônio do crescimento - secretagogues (arginina e ornitina)

Por que usar "estimuladores de GH"?

A utilização de suplementos que aumentem a secreção natural de Hormônio do Crescimento foi iniciada há alguns anos e vem ganhando um número crescente de adeptos. No entanto, a única explicação para se utilizar estas substâncias é a desinformação.

Já está cientificamente comprovado que não há relação de causa e efeito entre os níveis de GH e os ganhos de força e massa muscular (veja mais no artigo GH – mitos e verdades), além disso, o hormônio do crescimento é extremamente pulsátil e situações simples, como ficar em apnéia, já aumentam consideravelmente seus níveis. Ou seja, a promessa de estimular a liberação de GH, por si só não tem fundamento e não consiste em algo raro ou fisiologicamente significante. Resumindo, há dois motivos básicos para não gastar dinheiro com estimuladores de GH:

1 – os níveis de GH não são fisiologicamente relacionados aos ganhos de força e massa muscular

2 – há maneiras mais baratas e fáceis de se elevar os níveis de GH

Arginina e Ornitina

A teoria do uso de arginina como suplemento provavelmente se originou em um teste clínico comumente utilizado para analisar a resposta de GH, o qual induz um aumento significativo e reprodutível nos níveis deste hormônio através da infusão de arginina. A partir deste procedimento clínico, deu-se um salto gigantesco e se passou a afirmar que o uso oral de arginina promove efeitos anabólicos.

Um dos estudos mais citados pelos vendedores de suplementos foi feito em 1982 por BESSET et al, onde se verificou que a administração de altas doses de aspartato de arginina por 5 dias resultou em um aumento significativo do pico de hormônio do crescimento durante o sono.

Em um estudo anterior, ISIDORI et al (1981) haviam verificado que a ingestão concomitante de 1200 mg de arginina e 1200 mg de lisina promovia um aumento significativo nos níveis de GH em homens jovens, no entanto, para infelicidade dos vendedores de arginina, a ingestão da mesma quantidade de arginina isoladamente não produziu efeitos significativos.

A única evidência encontrada a favor dos suplementos a base arginina e ornitina vem de um estudo de 1989, onde ELAM et al analisaram os efeitos da suplementação de arginina + ornitina (1 g/dia de cada) durante 5 semanas em homens participantes de um programa de treinamento de força e encontraram resultados favoráveis em termos de força e massa muscular durante a suplementação.

Apesar de algumas referências positivas, o acúmulo de referências posteriores mostrou que a suplementação de arginina e ornitina era ineficiente e poderia até mesmo ter efeitos deletérios na liberação de GH, além de alguns efeitos colaterais.

FOGELHOLM et al (1993) administraram, por quarto dias, um combinado de L-arginina, L-ornitina, e L-lisina (2 g/dia de cada) e analisaram os níveis de GH e insulina em levantadores de peso. Os resultados mostraram que os picos de GH e insulina eram similares com a ingestão dos suplementos ou placebo, concluindo que os aminoácidos não afetavam a variação fisiológica dos hormônios, questionando seu valor ergogênico. No mesmo ano, LAMBERT et al (1993) compararam a concentração sérica de GH em fisiculturistas durante quatro situações: 1) placebo; 2) 2,4 g arginina/lisina; 3) 1,85 g ornitina/tirosina e 4) 20 g de BovrilR. Os resultados mostram que as concentrações de GH não são alteradas por nenhum dos suplementos.

Em 1994, WALBERG-RANKIN et al analisaram os efeitos de 10 dias de suplementação de arginina (0,1 g/ kg corporal) em pessoas submetidas a uma dieta hipocalórica e um programa de treinamento de força. De acordo com os resultados, o aminoácido não promoveu melhoras na composição corporal, balanço nitrogenado, resposta de GH ou força.

Quanto à ornitina, os resultados não foram muito diferentes. Em um estudo de BUCCI et al (1990) foram testadas doses de 40, 100 e 170 mg/kg de ornitina em fisiculturistas e verificou-se que somente a dose mais alta (cerca de 14 gramas para uma pessoa de 82 quilos) produziu um aumento significativo na concentração de GH, ainda assim, a elevação foi menor que a encontrada durante o sono, levando os autores a questionarem a significância de um aumento tão pequeno e curto. Outro grave problema é que a ingestão de doses tão elevadas causou cólicas estomacais e diarréias em todos os indivíduos testados.

GATER et al (1992) avaliaram e compararam os efeitos da suplementação de arginina/lisina (132 mg/kg de massa magra), Exceed (1 lata e meia) e placebo, na composição corporal, força e níveis de IGF-1 de jovens praticantes treinamento de força. Ao final de um período de 10 semanas, os autores não encontraram diferenças nos ganhos de força, massa muscular e níveis basais de IGF-1 entre o grupo que recebeu arginina/lisina e o grupo que recebeu placebo.

Esses insucessos fizeram com que FREIDEL & MOORE (1992) fossem bem diretos ao afirmar que:

"É questionável se aminoácidos em doses toleráveis podem promover uma resposta de hormônio do crescimento, e se o aumento no hormônio do crescimento será significativo em termos de estímulo de IGF-1 ou trará qualquer benefício na composição corporal ou efeito ergogênico em pessoas normais. A conclusão razoável tirada dos dados disponíveis é os que atletas não devem gastar dinheiro algum nesses suplementos".

É interessante ver que a ineficiência desses suplementos já foi comprovada há mais de 10 anos, mas ainda há propagandas insistindo no contrário. Mais recentemente, diversos estudos seguiram comprovando a ineficiência dos "secretagogues de GH".

SUMINSKI et al (1997) compararam 4 situações: 1) placebo + treinamento de força; 2) arginina e lisina (1.500 mg de cada) + treinamento de força; 3) placebo e; 4) arginina e lisina (1.500 mg de cada). Os resultados não mostraram diferenças nos níveis de GH após o treinamento de força realizado com ou sem a ingestão dos aminoácidos (situações 1 e 2), mas houve aumento nos níveis basais do hormônio após a ingestão de arginina e lisina em repouso (situações 3 e 4).

Posteriormente, MARCELL et al (1999) mostraram resultados menos animadores ao usar a arginina isoladamente. Neste estudo, os autores investigaram o efeito da suplementação oral de arginina (5 gramas) em jovens e idosos, em repouso e durante treino de força. De acordo com os resultados, a suplementação de arginina não resultou em aumentos da concentração de GH em repouso e poderia, inclusive, prejudicar sua liberação durante o exercício resistido.

Novamente, em 1999, houve uma posição oficial sobre o tema. Desta vez, WILLIAMS (1999) publicou um artigo intitulado "Fatos e falácias de supostos suplementos ergogênicos de aminoácidos" onde relata que os dados indicam que a suplementação de arginina, ornitina ou lisina, separadamente ou combinadas, não aumentam o efeito do exercício sobre o GH, força ou potência.

No ano seguinte, WIDEMAN et al (2000) verificaram que a infusão de arginina não produziu melhoras na performance de um teste de 30 minutos. Apesar deste estudo mostrar que a infusão de arginina gera uma ligeira elevação de GH durante o exercício, não há nenhum estudo comprovando que isto ocorra com o uso oral dos aminoácidos.

É comum se consumir arginina, lisina e ornitina antes dos treinos de força por acreditar que isso acentuaria a liberação de GH e, supostamente, aumentar os ganhos de força e massa muscular. No entanto, a quantidade de aminoácidos a ser ingerido para que se tenha tal efeito produzem dores de estômago e diarréia. De acordo com CHROMIAK & ANTONIO (2002) não há nenhum estudo cientifico adequadamente conduzido que mostre que a suplementação oral de aminoácidos antes de treino de força seja capaz de induzir a liberação de GH, assim como não há provas que tais suplementos promovam melhores resultados em termos de força e massa muscular. A dupla de autores concluíram sua revisão de forma clara, afirmando que "o uso de aminoácidos específicos para estimular a liberação de GH por atletas não é recomendado".

Considerações finais

É interessante ver como as empresas manipulam as informações e distorcem a ciência pra promover suplementos ineficientes e levar consumidores desavisados a gastar seu dinheiro inutilmente.

No caso dos secretagogues de GH há diversos erros. Os erros já começam na proposta, pois é muito fácil elevar transitoriamente os níveis de GH em dezenas de vezes de forma natural (apesar dos suplementos não o conseguirem), além disso, as evidências atuais são bem claras ao afirmar que, mesmo o uso de GH exógeno, é ineficiente em promover ganhos de força e massa muscular (veja mais em GH – mitos e verdades). No entanto, ainda há quem venda (e quem compre) suplementos que prometem elevar as quantidades de hormônio do crescimento.

Para completar a seqüência de erros, os suplementos nem ao menos mostram cumprir a promessa de elevar os níveis de hormônio do crescimento sem causar efeitos colaterais. Ou seja, falham ao não promover um aumento no GH e, mesmo que o conseguissem, isto não se reverteria em benefícios de força e massa muscular. Isto que dizer que: mesmo que estes suplementos "funcionassem", eles "não funcionariam".

Referências bibliográficas

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  • FREIDEL RJ & MOORE RJ. Ergogenic aids: clenbuterol, Ma Huang, caffeine, L-carnitine and growth hormone releasers. NSCA Journal Vol.14 n.4 pp:35-44, 1992
  • GATER DR, GATER DA, URIBE JM, BUNT JC. Impact of nutritional supplements and resistance training on body composition, strength and IGF-1. J Appl Sports Sci Res. Vol.6 n.2 pp:66-76, 1992.
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  • LAMBERT IL, HEFER JA, MILLAR RP, MACFARLANE PW. Failure of commercial oral amino acid supplements to increase serum growth hormone concentrations in male body-builders. Int J Sport Nutr. Vol.3 n.3 pp:298-305, 1993
  • MARCELL TJ, TAAFFE DR, HAWKINS SA, TARPENNING KM, PYKA G, KOHLMEIER L, WISWELL RA, MARCUS R. Oral arginine does not stimulate basal or augment exercise-induced GH secretion in either young or old adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. Vol.54 n.8 pp:M395-9, 1999.
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  • WILLIAMS MH. Facts and fallacies of purported ergogenic amino acid supplements. Clin Sports Med. Vol.18 n.3 pp:633-49, 1999.

 

Creatina x Câncer

Inicialmente não parecia haver necessidade de se preocupar quanto ao alarde do possível efeito carcinogênico atribuído a creatina, dada a freqüência com que este tipo de noticias surgem. Porém os efeitos do posicionamento francês tomaram proporções monstruosas, no mundo inteiro se comentou e ainda comenta-se o assunto. Portanto houve necessidade ser dado o MEU posicionamento sobre o assunto.

Câncer

Muito se ouve falar sobre câncer, mas pouco realmente sabe-se sobre suas causas, para esclarecer um pouco a questão, será dada uma explicação rápida e superficial.

O câncer é causado por mutações e/ou atividades anormais da célula, que desregulam seu crescimento e mitose, fazendo com que as células cancerosas não tenham limitações no desenvolvimento e se espalhem com facilidade, competindo com as células saudáveis pelos nutrientes.

Apesar da incrível precisão com que as células são formadas e das diversas medidas de segurança tomadas pelo corpo para evitar a produção de células mutantes, pode ser que uma em alguns milhões ainda venha com defeito. Ainda assim, apenas uma pequena fração destas células mutantes poderá gerar câncer, tento em vista sua baixa capacidade de sobrevivência, controle de feedback e ação do sistema imunológico. Para o desenvolvimento de um câncer são necessárias ocorrências simultâneas de determinadas mutações (efeitos combinados de oncogenes). Portanto o aparecimento do câncer é a combinação de muitos fatores aliados a uma circunstância apropriada.

Alguns fatores que podem aumentar a probabilidade de câncer são:

- radiação.

- substâncias irritantes.

- hereditariedade.

- alguns tipos de vírus.

- substâncias químicas (onde querem incluir a creatina)..

A origem do tumulto

O posicionamento da AFSSA (Agence française de sécurité sanitaire des aliments) publicado em 23 de janeiro de 2001 fala sobre a possibilidade de se encontrar impurezas na creatina e sugere um risco potencial de câncer, alegando falta de estudos epidemiológicos em longo prazo. Na verdade este famigerado trabalho não passa de um texto "anticientífico" com quatro páginas escritas por alguém sem muito conhecimento no assunto, repleto de erros e afirmações questionáveis. Textos como esse podem ser encontrados em milhares de páginas na internet e revistas como Boa forma e cia, não há nele requisitos que sugiram credibilidade, ou ao menos originalidade. Todo o furor foi gerado pela divulgação que se deu ao assunto, não se sabe ao certo quem começou, mas sabe-se que fez bastante estrago.

Creatina e câncer

Apesar de tentativas incompreensíveis e inacreditáveis de relacionar este peptídeo ao câncer nenhum deles deve ser levado a sério, dada a falta de evidências Na verdade existem alguns estudos sugerindo um efeito positivo da creatina no combate ao câncer (JEONG et al, 2000; KRISTENSEN et al, 1999; SCHIFFENBAUER et al, 1996; ARA et al, 1998 e MILLER et al, 1993).

- JEONG et al (2000) usaram ciclocreatina (substância análoga a creatina) para tratar o câncer no fígado induzido por substâncias químicas, como resultado obtiveram inibição da gênese das células cancerosas.

- KRISTENSEN et al, (1999) relatam que, tanto a ciclocreatina quanto a creatina, têm mostrado efeito inibitório no crescimento de tumores. Os autores realizaram um experimento com a finalidade de verificar estas afirmações e obtiveram resultados positivos com ambas substâncias, sendo que a quantidade total de creatina nos tecidos obteve a melhor correlação com a inibição do tumor.

- SCHIFFENBAUER et al, (1996) afirmam que a ciclocreatina inibe tanto o crescimento quanto à proliferação de tumores, verificando este efeito em carcinomas no ovário humano.

- ARA et al, (1998) usaram análogos de creatina e fosfato de creatina após implantações de tumores e encontraram efeitos positivos com estas substâncias, além de alterações hormonais favoráveis.

- MILLER et al, (1993) verificaram os efeitos da ciclocreatina e da creatina na proliferação de tumores. Neste estudo o uso de creatina chegou a inibir o desenvolvimento de tumores em mais de 50%!

Considerações finais

Em primeiro lugar, o posicionamento da AFSSA não deve ser levado em conta, fica o alerta para tomarmos cuidado com o sensacionalismo de matérias escritas de forma irresponsável e sem bases. O autor cometeu vários erros graves: não explicou de onde tirou a teoria e não deu nenhuma referência suportando-a, além disso, não há no texto nenhuma referência dos estudos nem dos especialistas que o posicionamento francês afirma existirem. Um alerta do posicionamento francês que não pode ser negado é o risco de encontrarmos impurezas dentro dos suplementos de creatina, por isso a necessidade de testes por órgãos específicos, de preferência governamentais.

Tendo em vista a dificuldade em afirmar como, quando ou porquê o câncer se desenvolve não há como assegurar que o uso de creatina será seguro em todas as circunstâncias. Mas posso dizer com certeza que não existe suporte suficiente para ligar a suplementação de creatina ao desenvolvimento de células cancerosas. Como dito em outro artigo (ver "Creatina"), a creatina é um dos suplementos mais estudados da história e se alguém disser que não existe pesquisa suficiente sobre o tema, ou é pessimamente informado ou deve estar procurando no lugar errado. 

Resumindo, a creatina tem sido usada há mais de dez anos e, pelo que se sabe de fisiologia, bioquímica e mecanismos de atuação deste peptídeo, é improvável que seu uso possa levar a produção de células cancerosas, pelo contrário existem evidências que ela pode ajudar a combater o desenvolvimento de tumores.

Referências bibliográficas

  • ARA G, GRAVELIN LM, KADDURAH-DAOUK R, TEICHER BA Antitumor activity of creatine analogs produced by alterations in pancreatic hormones and glucose metabolism. In Vivo 1998 Mar-Apr;12(2):223-31
  • JEONG KS, PARK SJ, LEE CS, KIM TW, KIM SH, RYU SY, WILLIAMS BH, VEECH RL, LEE YS. Effects of cyclocreatine in rat hepatocarcinogenesis model. Anticancer Res 2000 May-Jun;20(3A):1627-33
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  • MILLER EE, EVANS AE, COHN M. Inhibition of rate of tumor growth by creatine and cyclocreatine.Proc Natl Acad Sci U S A 1993 Apr 15;90(8):3304-8
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Paulo Gentil
Presidente do Grupo de Estudos Avançados em Saúde e Exercícios; 17/05/2001
www.gease.pro.br


Partes: 1, 2, 3


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