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Quando o certo é errado e o errado é certo: reinações e peripécias de exu no Brasil (página 4)


Partes: 1, 2, 3, 4, 5

Concordando com a visão da autora, um participante da REUCA, enviou o seguinte texto: "aliás é dever de todos os médiuns oferecer-lhes luz, trabalhar com suas forças para a prática do bem.[154]."(Luz e Caridade –REUCA-2009)

Respondendo à pergunta: "Quem é Exu?" Um dos entrevistados dá sua versão da questão acima:

"Entidades que trabalham numa dimensão mais próxima a terra, são neutros, sua doutrina e forma de trabalhar depende muito da evolução da casa ao qual estao trabalhando, afinal se os médiuns e sacerdote forem ignorantes, estas entidades terão pbm (problemas) para evoluir."(E.W.)(grifo nosso)

3.1.4.1 – Enquetes: os preferidos

Em quatro enquetes[155]pesquisadas na internet, que perguntavam sobre a linha/entidade preferida, ou aquela com a qual mais se identificam/afinizam as pessoas. Como demonstrado abaixo, a linha de Exus ganhou nas quatro enquetes, secundada pela linha de Pretos Velhos em três e pela de Caboclos em uma.

A preferência demonstrada pelas enquetes é visível nos terreiros onde as giras de "Povo de Rua" costumam ser as mais concorridas e, em geral, as de maior duração. Isso é expressado claramente em uma das respostas: "(...)o trabalho destes espíritos é muito procurado nos Terreiros, quer ver uma gira cheia basta "bater" para Exu, mas isso tem explicação que nada mais é que a aproximação destes espíritos a nós encarnados." (Q1 - A.S./A.O.)

Uma das características mais perceptíveis com relação a essas entidades é a familiaridade respeitosa com que são tratadas por adeptos e consulentes ( que muitas vezes os denominam "compadres"). Isso deve entre outras coisas ao fato de Exus e Pomba giras terem uma imagem simbólica tão mundana, o que facilita a interação entre os encarnados e as entidades dessa linha, criando um clima que propicia confissões e exposição de pensamentos e atos que teoricamente não seriam verbalizados em outras situações.

É comum que Exus e Pomba Giras ouçam "confissões" sobre o que há de mais secreto no ser. Aquilo que a moral e o senso comum condenam ou inibem, pode ser dito sem medo a essas entidades o que não as impede de discordar ou orientar aquele que as consulta em outra direção.

Segundo os umbandistas pesquisados, os Exus e Pombagiras verdadeiros não aceitam negociação ou troca para fazer nada que seja considerado "contra a Lei Maior". Logo, deduzem os umbandistas, se algum feito dessas entidades puder ser considerado "errado" ou um "mal", isso deverá ser analisado pela perspectiva correta.

Como são Agentes do Karma, Executores da Lei seus atos devem ser analisados não a partir de uma perspectiva pequena e limitada relativa apenas às leis dos homens em determinado momento, local e cultura ou ao que os homens podem ver. E sim, a partir de uma perspectiva macro-universal que alcança todos os tempos – espaços - dimensões do universo e suas diversas culturas, correspondendo os atos de Exus e Pomba giras nesses casos diretamente aos ditames da Divindade. Por isso, consideram Exus e Pomba giras como justos , por cumprirem à risca os ditames da Lei do Karma.

Os maus comportamentos e exageros de alguns Exus e Pomba giras são considerados como resultante de erros e vaidade dos médiuns, falta de doutrina de ambos (médium e entidade) e também de fascinação ou mistificação.

Alguns autores encaram tais comportamentos como expressão de parte da personalidade do médium e de seu inconsciente[156]que fica reprimida no cotidiano sendo "liberada" através da incorporação da entidade[157]do animismo[158]e mesmo da mistificação[159]

" Exu é o mais humano dos mistérios de umbanda, porque assimila tudo o que seu médium vibra em seu íntimo. E se assim é , é porque Exu é "especular"( semelhante a um espelho) e reflete em si a natureza emotiva do médium, por meio da ele se manifesta quando incorpora."

Enfim, o Exu individual é um manifestador natural de um mistério da criação, mas que é "refletor especular" do íntimo e do emocional do seu médium."[160]

Segundo os umbandistas consultados e as pesquisas, os atos moralmente incorretos, assim como qualquer mal intencionalmente praticado, o é, sempre por um médium não doutrinado, um kuiumba ou um espírito trevoso a pedido de alguém também não doutrinado. Em suma, para os umbandistas em questão Exus e Pombagiras não são, não fazem e nem representam ou aceitam o Mal. São justos. Agem de acordo com a Lei.

Contrapondo-se aos resultados dos questionários, encontramos uma enquete segundo a qual esse pensamento não é tão generalizado assim, pois 41% responderam que "Exu faz o bem, mas também faz o mal", conforme demonstrado abaixo :

Orkut :

Comunidade: Exu Não é o Diabo ! (6.262 membros)

Enquete 538 votos. 25/07/2009

Exu Espírito ( bom ou ruim)

Exu só traz felicidade

17%

93

Exu faz o bem ,mas também faz o mal

41%

223

Exu só faz o mal

10%

53

Exu traz proteção.

31%

169

TOTAL

100%

538

Nos comentários dos votantes encontramos algumas explicações:

Resposta: Exu Faz o bem , mas também faz o mal.

"Depende de quem trabalha com ele ora quem faz o mau samos nois mesmos, se trabalharmos com a faixa vibratoria ruim atrairemos Exus ruins se nao atrairemos os bons Exus depende".( S. S. - 21/05/2011)

Resposta: Exu Faz o bem , mas também faz o mal/ Exu traz proteção.

"se você andar em seus trilhados certos sem falhas ele vai te tratar otimamente bem mais se vc andar errado ele pode te fazer coisas não para o seu mal mais sim para vc aprender Exu trata tanto uma coisa simples como ajudar a familia como fazer trabalho as pessoas mais Exu é mais bem do que mau com certeza". (V. M. - 21/11/2010)

3.1.4.2 – Palavras sobre Exu:

A palavra que mais aparece no questionário nº1 - sobre o que se pensa e como se entende Exu - é "guardião" com 58 citações, seguida por "protetor/proteção" com 36 e "justiça/justo" com 27.

Remetendo à ideia de "Lei" (13) e/ou "carma" (14), aparecem: "executor/execução" 17, "Agente" 12, "polícia/policial" 3.

Já "evolução" 28 e "evoluir" 23. "Caminhos", "caridade" e "magia" (e afins) 22 vezes cada. "Orientação/orientar" 20, com número idêntico para "energia".

Os termos referentes à defesa e descarrego 19. "Poder" aparece 18 vezes. "Limpeza/ limpar" 17. "Mensageiro", 15. "Amigo" tem 10 citações.

A palavra "entidade" aparece em 73 citações contra 21 da palavra "Orixá" - nem sempre se referindo ao Orixá Exu. "Esquerda" aparece 12 vezes e "neutro" apenas 4. Observe-se o quadro abaixo:

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Figura 2 palavras mais usadas para definir Exus na umbanda

3.2– Dos resultados Q2

Questionário 2 : Visa apurar e compreender como Exus, Pomba giras e demais entidades do "Povo de Rua" são tratados pelos terreiros. Foram feitas perguntas aos participantes de forma que dessem sua visão de como essas entidades são tratadas pelos seus templos. Assim estão presentes questões referentes à existência e periodicidade das giras, vestuário das entidades , autonomia das mesmas, permissão para beber, fumar e utilizar palavras de baixo calão, alteração ou proibição de determinadas cantigas, feitura ou não de assentamentos, e relação entre questões comportamentais e doutrinas.

3.2.1 – Giras: existência e periodicidade:

No que tange à existência e periodicidade das Giras de Exu nem um dos entrevistados indicou a ausência dessas entidades em seus terreiro. A resposta mais próxima a tal situação é que não há uma gira específica para o "Povo de Rua", sendo esses chamados apenas em caso de necessidade para realizar o descarrego ou o desmanche de alguma magia negra(4,35%). Não responderam à questão 8.69% dos entrevistados. Giras anuais e bimestrais alcançaram 4,35% cada. Os que declararam que são feitas apenas festas para tais entidades somam 13,04%. Giras mensais ocorrem nos terreiros dos quais participam 39,13% dos entrevistados, outros 17,40% realizam giras quinzenais e 8,70% o fazem semanalmente.

A partir de tais dados pode-se perceber a presença ostensiva ou não das entidades do "Povo de Rua" nos terreiros de umbanda. Somados os itens que de alguma forma marcam a presença de tais entidades obtém-se um total de 91,31% . Se ainda desse total forem retirados aqueles onde a presença é apenas festiva ou quase nula, obtém-se um percentual de presença contínua mínima mensal em 65,22% dos terreiros. Para uma entidade que nos primórdios da umbanda era profundamente rejeitada, parece que Exu não brincou em serviço, abriu caminhos de pertença e mais ainda de "reendeusamento",

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Figura 1 - Questionário 1 periodicidade das giras

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Figura 2 - Questionário 2 Periodicidade das Giras

3.2.2 – Vestuário :

Quanto ao uso de roupas brancas ou coloridas 39,13% dos entrevistados dizem que em seus terreiros, ambas são utilizadas pelos Exus. As tradicionais roupas vermelho-e-pretas ficaram em segundo lugar na prática dos terreiros com 26,08%. Templos que só permitem o uso de roupas brancas, brancas com forro colorido, ou somente escuras, obtiveram o percentual de 4,34% cada. Não responderam 8,69% dos pesquisados. Há que se considerar que os 39,13% que permitem ambas são aqueles em que há divisões entre sessões internas (onde em geral são utilizadas roupas brancas e mais simples) e externas, e entre médiuns desenvolvidos (que podem vestir suas entidades com roupas de fundamento) e aqueles considerados novos ou em desenvolvimento ( ou que ainda não "riscaram ponto"[161]) . Outros ainda somente permitem o uso de roupas de cor nas giras de Exus quando são giras festivas, oportunidade em que dependendo do entendimento do zelador/pai ou mãe de santo, todos ou somente alguns os médiuns poderão utilizá-las. Houve observações quanto à moderação das roupas: "Há liberdade quanto as roupas, mas desde que não extrapolem os limites do bom senso, nada indecoroso, tecidos inflamáveis etc."(K – Q2)

3.2.3 – Autônomos ou tutelados?

Foi perguntado se os Exus em suas giras são tutelados por outras entidades ou pelos dirigentes da casa ou se trabalham sozinhos. Lembrando que a questão tutelar pode existir de várias maneiras, por exemplo, em geral, em terreiros que Etiene Sales de Oliveira denomina como Umbanda de Preto Velho, independentemente de quais as entidades presentes sempre há um preto-velho "em terra"[162] "coordenando a gira"[163]. Por outro lado, existe terreiros onde especificamente para giras de Exus e de Crianças (por que são consideradas por alguns como seres imprevisíveis, bagunceiros e inocentes) uma das Entidades guias da casa um caboclo ou preto velho "fica em terra" "tomando conta da gira". A intenção da pergunta era exatamente a de perceber qual o grau de liberdade e confiabilidade que tais entidades vêm recebendo por parte dos terreiros umbandistas. Há uma diferença considerável entre ter um preto velho coordenando toda e qualquer gira independentemente dos espíritos que a ela sejam convocados e a tutela ocorrida apenas nas giras de Exus e/ou Crianças. A segunda opção demonstra certa desconfiança dos dirigentes ( materiais e espirituais) quanto à capacidade dessas entidades assim como a dos consulentes de manter-se dentro tanto da disciplina quanto da doutrina do terreiro em questão.

Como demonstra a tabela abaixo, em 43,46% dos casos exus trabalham com autonomia total. Se a tais números somarem-se aqueles em que os entrevistados disseram ser o Exu chefe do terreiro quem "toma conta" da gira (13,04%) alcança-se a um percentual de autonomia acima de 56%. Acrescendo o percentual obtido referente à Umbanda de Preto Velho, chega-se a 60%. Os resultados evidenciam a mudança lenta e gradual que vem ocorrendo no pensamento e no agir dos umbandistas em relação aos espíritos que compõem o "Povo de Rua" nos últimos 50 anos aproximadamente.

Para espíritos que nos primórdios da umbanda eram excluídos ou tratados apenas como representantes da Quimbanda, esta última composta por espíritos que "se comprazem na prática do mal"[164]. (BRAGA - sd), quer parecer que o "Povo de Rua" tem realizado um bom trabalho de penetração nas umbandas que não o aceitavam. Para isso contribuíram imensamente nos últimos 25 anos, principalmente as literaturas e doutrinas de autoria de Rivas Neto (Exu, o Grande Arcano) e Rubens Saraceni(Diversos)[165] . Saraceni publicou uma série de romances mediúnicos, obviamente com fins doutrinários, sobre diversos exus, que ele denomina "Guardiões". Além desta série possui ainda publicadas quatro obras doutrinário-teológicas sobre O Mistério Exu (2), e os Mistérios Pombagira e Exu-Mirim (1+1).

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Figura 3 A autonomia do 'Povo de Rua' na Umbanda

3.2.4 – Fumo, bebida e palavras de baixo calão

Dentre as características que marcam o arquétipo do "Povo de Rua" estão, além de suas figuras representativas das classes mais marginalizadas e sofridas, a ideia presente no senso comum de que estão sempre bêbados ou dispostos a embebedar-se, de que fumam desbragadamente, sendo desbocados e sensualizados ao extremo. Além disso, recai sobre o "Povo de Rua" a pecha da ambiguidade, a ambivalência, a inclinação para a maldade, "o desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção"(VERGER 1981). Em função dessa imagem generalizada, perguntou-se aos entrevistados como os templos aos quais pertencem lidam com as questões referentes ao fumo, bebidas e ao uso de palavras de baixo calão. No que diz respeito ao fumo e bebidas, é necessário compreender que para a maioria dos umbandistas tanto um quanto o outro são utilizados como componentes magístico-ritualísticos e, assim como as ervas, tem também a função de proteger médiuns e consulentes contra energias maléficas ou danosas.

A pesquisa demonstra em 56, 52% dos templos a bebida e o fumo são liberados, ficando em segundo lugar com 26,08% os templos onde tanto um como o outro são utilizados com moderação e, 4,34% dos entrevistados responderam que o uso de fumo e bebida são proibidos à estas entidades. Dos entrevistados 13,04% não responderam à pergunta.

No quesito referente ao uso de palavras de baixo calão (PBC), as posturas adotadas pelos terreiros parecem ser mais rígidas. É perceptível o trabalho de moralização dessas entidades ( e médiuns). Em 26,08% dos templos é liberado o uso de tal linguajar[166]e 17,39% dos templos permitem palavras de baixo calão com moderação. Na contramão da liberdade de expressão 21,74% dos templos não permite o uso de PBC e 17,39% consideram que o uso de semelhante linguajar é resultado da falta de educação e doutrina do médium ou de animismo ( praticado pelo médium ou por algum quiumba). A mesma porcentagem de pesquisados (17,39%) não respondeu a pergunta.

Do exposto acima é possível tirar algumas conclusões:

  • 1- Em razão de seu uso magico-ritual fumo[167]e bebidas são mais bem tolerados pelos umbandistas, mesmo porque outras entidades, ditas "de direita" os utilizam. Por outro lado, é difícil imaginar um caboclo ou um preto velho de Umbanda utilizando-se de palavras chulas ( não quer dizer que não aconteça, apenas é muito raro).

  • 2- Socialmente é mais "aceitável" beber e fumar - apesar das restrições que fumantes vem sofrendo em âmbito nacional e internacional - do que usar palavras de baixo calão em público, o que é considerado falta de educação e refinamento. Diriam alguns que falar palavrões "é coisa de gente vulgar". Enquanto beber e fumar são práticas sociais muito antigas ( bebe-se socialmente, fumam-se charutos na biblioteca após o jantar) não somente aceitas sem reservas até pouco tempo atrás, como anteriormente incentivadas por propagandas veiculadas pelos sistemas de comunicação de massa como imagens representativas do sucesso e do bem-estar[168]

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Figura 4 Consumo de bebida e fumo.

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Figura 5 Permissão para o uso de palavras de baixo calão.

As questões relativas ao exagero no consumo de fumo, bebidas e no uso de palavras de baixo calão perpassam a moralização a que as entidades componentes do "Povo de Rua" vêm sendo submetidas em prol de sua desdemonização, e da construção de uma nova imagem na qual certos setores umbandistas têm investido fazendo uso constante de uma espécie de marketing pró-Exus e Pomba giras.

Essa moralização alcança os pontos cantados - cantigas cuja finalidade é chamar, apresentar, explicar origens e comportamentos de entidades, louvar lhes os atributos e também despedi-las. Em muitas casas de Umbanda os pontos das entidades do "Povo de Rua" vêm sendo restringidos ou modificados com vistas a criar no público e nos médiuns uma nova imagem e um novo entendimento sobre essas entidades. Da mesma forma tais restrições visam melhor conceituar (ante o público e a si mesmos) os templos que assim procedem.

As censuras variam podendo dizer respeito à proibição da utilização de pontos do Candomblé – não foi possível definir a que pontos de candomblé o entrevistado estava se referindo, pois em princípio os pontos de Exu no Candomblé seriam aqueles tocados e cantados para o Orixá Exu, portanto em língua africana, o que, no entanto, não parece ser o caso. O mais provável é que o entrevistado estivesse se referindo aos pontos cantados em determinados Candomblés que abrigam os Exus e Pomba giras chamados de "catiços[169]ou "compadres", entidades que nem são os Exus de Umbanda ou de Quimbanda nem o Orixá Exu do Candomblé, mas um meio termo, um egun que foi aos poucos se infiltrando nos "Cultos de Nação", e que fala e canta em português, como os antigos Exus das Macumbas Cariocas. Não têm compromisso com a moralidade e os bons costumes, muito menos com as ideias cristãs-kardecistas presentes na Umbanda. Aproximam-se dos Exus de Quimbanda, mas também não são considerados como tais. Pelo perfil que apresenta o mais provável é que sua origem seja a macumba carioca.

São mais ou menos moralizados conforme a tendência e o entendimento do médium e do terreiro que frequentem. Os Exus e Pomba Giras encontrados dando consultas ou fazendo atendimentos em terreiros de candomblé diferenciam-se dos Exus e Pomba giras da Umbanda em seu comportamento e postura, assim como nas relações que mantém coma coletividade. Nota-se em relação aos mesmos, certo temor por parte dos adeptos e consulentes, visto não estarem os mesmos comprometidos com os ideais umbandistas. Por outro lado, a esses "Exus catiços" é possível fazer determinados pedidos que não seriam bem aceitos em terreiros umbandistas.

3.2.5 – Pontos cantados:

Voltando à umbanda e à pesquisa, os entrevistados responderam que os pontos são totalmente liberados em apenas 13,04% dos terreiros. Não responderam ou não sabem responder um total de 26,08%. O restante dos 60, 87% dos entrevistados afirma que existe algum tipo de restrição ou modificação nas letras dos pontos cantados para o "Povo de Rua", apresentando o item restrição/ modificação uma taxa de 47,82% contra 8,69% que afirmam só permitir que sejam cantados os pontos de raiz (aqueles dados pelas próprias entidades) e 4,34% que somente não permitem pontos de Candomblé. Diz um entrevistado: " (...) não cantamos pontos que falem do inferno ou coisa do tipo."(Q1 -F.R.R.)

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Figura 6 censura /corte/liberação de pontos cantados.

As modificações nos pontos acontecem para por um lado moralizar o ambiente, e lentamente implantar no senso comum dos terreiros uma imagem menos diabólica ou negativa dessas entidades. Por outro, visa aproveitar cantigas já existentes e bem conhecidas de frequentadores e através delas penetrar em seus inconscientes. Segundo informações tal prática também visa efeitos espirituais, a par com a teoria da atração e repulsão daquilo que se pensa e verbaliza[170]Para facilitar a compreensão, abaixo serão apresentadas algumas dessas cantigas modificadas e/ou proibidas:

Diz um ponto de Pombagira-Cigana originalmente:

Ô Ciganinha , ciganinha,

Da sandália de pau,

Onde ela bate o pé

Ela faz o bem,

Ela faz o mal .

O mesmo ponto modificado:

Ô Ciganinha, ciganinha,

Da sandália de pau. (bis)

Aonde ela põe o pé,

Ela faz o bem,

E não faz o mal. (bis)

Ponto de louvação a Santo Antônio[171]

Rodeia, rodeia, rodeia,

Meu Santo Antônio, rodeia. (bis)

Meu Santo Antônio pequenino,

Amansador de burro brabo.

Quem mexer com (nome do Exu ou Pombagira),

Tá mexendo com o Diabo.

Ou ainda outra variação:

Santo Antônio Pequenino,

Amansador de burro bravo,

Amansai meus inimigos,

Com setenta ( ou seiscentos) mil diabos.

O mesmo ponto modificado:

Meu Santo Antônio pequenino,

Amansador de burro brabo.

Amansai meus inimigos,

Prá que eu viva sossegado.

Outros pontos vêm sendo sistematicamente proibidos, por exemplo:

Bravo senhor, bravo,

Seu (nome do Exu) já chegou (bis)

Matou pai, matou mãe,

Matou padrinho, matou madrinha,

Matou um cego na estrada,

E um aleijado na linha.

Ou ainda:

Não mexe com ele,

Que ele é ponta de agulha. (bis)

Quem mexe com (nome do Exu ou PG),

Tá cavando a sepultura. (bis)

Variação:

Não mexa com ele, não

Que ele é ponta de agulha. (bis)

Quem mexer com (nome do Exu ou PG),

Ele mata, ele fura. (bis)

Por outro lado, uma das cenas mais belas e comoventes que se pode assistir em se tratando de Exus e Pombagiras doutrinados na umbanda, acontece na SEMAV - Sociedade Espiritualista Mata Virgem. Neste templo é possível ver determinadas ocasiões, quando o ambiente fica muito carregado e é necessário mais auxílio das forças divinas, as entidades do "Povo de Rua" incorporadas em seus médiuns ajoelharem-se ante o altar e cantarem:

"Foi, Foi Oxalá,

Quem mandou eu pedir,

Que mandou implorar,

Que as santas almas

Viessem ajudar

Exu (es)tá de joelhos na

Umbanda a trabalhar.

No GREOO - Grupo Espírita Obreiros de Oxalá, o mesmo ponto é cantado pelos Pretos-velhos com modificação no penúltimo verso que diz " Eu ( ou vovô) peço de joelhos". Aliás, pela letra o ponto parece ter sido adaptado no sentido Preto-velho - Exu.

3.2.6 – Assentamento:

Perguntou-se aos umbandistas se nos templos que frequentam o "Povo e Rua" é assentado[172]Responderam que sim 65,22%; sim , em alguns casos 8,69%; e não fazem assentamento 13,04% dos Terreiros. Os demais entrevistados não sabem ou não responderam.

Assentamentos de Exus podem ser realizados de diferentes maneiras, com os mais diversos materiais. Foram considerados como um tipo de assentamento: as quartinhas[173]os ferros[174]imagens moldadas em tabatinga[175]e afins. Acima de qualquer outra coisa esses índices demonstram que o "Povo de Rua" vem efetivamente, não só trabalhando como sendo levado muito à sério pelos umbandistas. Uma das finalidades dos assentamentos é ligar energeticamente a entidade ao seu médium, outra é proporcionar um ponto de energização tanto da entidade ( que recebe oferendas: velas, bebidas, flores, etc.) quanto do médium que ali se concentra em busca de energia e auxílio. E ainda outra é a de formar uma espécie de "escudo" protetor onde as energias negativas serão barradas e/ou desviadas.

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Figura 7 Assentamentos de Exus e PGs

3.2.7 – Questões comportamentais:

Perguntou-se aos entrevistados sobre o comportamento do "Povo de Rua" e sua variabilidade ou não, e em caso de variação comportamental em função de que isso se daria. Se por conta da entidade, do médium ou do terreiro onde estivesse.

Q1. Pergunta 8. "Você acredita que um mesmo exu possa apresentar comportamentos diferenciados conforme o médium e o terreiro em que esteja trabalhando?"

As respostas indicam que a maioria (77, 27%) considera que há mudança de comportamento da entidade tanto no que se refere ao local, quanto ao médium em que esteja "incorporada" a entidade. Tal resultado aponta ainda para outra questão, qual seja a da possibilidade de uma mesma entidade atuar em vários médiuns[176]Em segundo lugar com 13,63% das respostas é dito que "Exu" não muda, é sempre igual, quem modifica seu comportamento é o médium seja por liberalidade própria, por conta de animismo ou por influência de quiumbas. Essa resposta culpabiliza direta ou indiretamente os médiuns por quaisquer mudanças comportamentais ocorridas quando da incorporação das entidades. Por último e não menos importante, com 9,1% das respostas, há um "sonoro" não! Este é um indicador importante quando se pensa a partir do conceito de inconsciência mediúnica ou de possessão total do médium pela entidade[177]

Perguntou-se: "Até que ponto as doutrinas dadas pelas casas/templos, pode alterar o comportamento dos exus fora dela?" Visando apreender o pensamento dos umbandistas tanto com relação a importância atribuída à doutrina no cotidiano dos templos, quanto à capacidade dessa doutrina de "conformar" e "padronizar" o comportamento das entidades dentro e fora dos templos de origem. As respostas demonstram que 12% dos entrevistados entendem que Exu precise de doutrina contra 19% que acreditam que Exu não muda seu comportamento em função de doutrina . No entanto, se somados os que entendem que a doutrina é para todos (44%) aos que a direcionam para o médium (25%) obtêm-se mais um indício da responsabilização dos médiuns pelos atos das entidades. Retorna-se aqui à ideia de que o caráter, a doutrinação e o comportamento moral e ético dos médiuns interfere diretamente sobre os resultados das incorporações, e por analogia das consultas e magias.

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Tais resultados demonstram que o esforço realizado por intelectuais e teólogos umbandistas, nos últimos 30/40 anos, por uma modificação positiva na imagem simbólica de Exus e Pomba giras, está dando frutos. Ao menos no que tange aos quadros internos da Umbanda e àqueles que buscam aumentar seus conhecimentos através da leitura e diálogo com outros umbandistas.

Alguns fatores tem colaborado com essa "missão" de desdemonização, redefinição, repaginação e marketing positivo que vem sendo realizada com relação às entidades do "Povo de Rua", e, por tabela da própria Umbanda. Entre estes fatores encontram-se:

  • 1. O aumento nos índices de alfabetização e instrução da população, resultando no aumento do números de leitores e ou pessoas capacitadas para a leitura;

  • 2. Maior número e variedade livros sobre umbanda editados e disponibilizados tanto em papel quanto em forma de e-books;

  • 3. O desenvolvimento das telecomunicações com ênfase no uso da internet como meio que vem proporcionando a interação entre os umbandistas - seguidores ou não de alguma escola específica - dos mais diversos lugares do planeta;

  • 4. O surgimento de novas teologias e a revisão, atualização ou releitura das antigas[178]

  • 5. A necessidade da religião em geral e dos terreiros em particular de responder aos ataques das igrejas neopentecostais , mormente da IURD, que fazem de Exus e Pomba giras os principais culpados dos males do mundo, acusando-os de demônios, mas também utilizando-os como figuras principais de seus espetáculos de exorcismo e conversão

  • 6. A própria disputa[179]entre as escolas umbandistas para obter uma maior fatia do mercado religioso, editorial, teológico e pedagógico, e através deles, do poder a eles agregado[180]

  • 7. A necessidade de sobrevivência física e material dos terreiros[181]Devendo-se levar em conta que a maioria dos terreiros não possui renda, obtendo-a através de doações, das cotas pagas mensalmente por sócios. Mas também do que é arrecadado nas cantinas dos templos, em rifas e eventos que visam à manutenção dos templos.

3.3 – O outro lado: o não dito

Quando se trabalha com história oral é necessário levar em conta além das palavras e o como são pronunciadas, o silêncio. Muitos anos de observação e vivência em terreiros de Umbanda e Candomblé torna possível observar os silêncios, o outro lado: o não-dito.

Pesquisadores em geral sofrem determinados "pré-conceitos" e desconfianças por parte de seus entrevistados. Sobre essa questão Silva, refletindo sobre as dificuldades encontradas pelo pesquisador durante o trabalho de campo, no que tange a perguntas cujas respostas são silenciadas, incompletas ou mesmo desviadas da realidade, diz:

"(...) O que um entrevistado diz respondendo a uma pergunta muitas vezes permite que o entrevistador entenda por que ele se recusa a falar sobre certos temas. Para os pais-de-santo que já sofreram preconceito e discriminação social em razão de sua opção religiosa, ou temem contribuir para aumentar a imagem negativa que a sociedade ainda tem sobre sua religião, perguntas como o preço que cobram pelos rituais, se fazem trabalhos para o "bem" ou para o "mal", entre outras, são respondidas de forma cautelosa, especialmente quando ainda não se estabeleceu uma relação de confiança.,[182]

No caso desta pesquisa, percebeu-se em alguns casos, para além da boa vontade dos que gentilmente dedicaram uma parte de seu tempo e a responderam:

  • A desconfiança do entrevistado;

  • O posicionamento de alguns entrevistados com relação ao pesquisador como pessoa leiga, personagem externo ao culto, portanto "inculto" em relação ao mesmo; como demonstra o exemplo a seguir, retirado de um dos questionários:

"São nossos amigos, é a polícia do mundo espiritual. (...) gostaria de deixar claro alguns pontos para você:

1) Exús não são demônios( e que na verdade os chamados demônios nada mais são do que espíritos obsessores, inferiores, infelizes), e os exús de lei trabalham em favor da Umbanda.

2) Os exús são os executores da lei, são os soldados do plano espiritual, logo não tem nenhuma relação com demônios/obsessores.[183]" (C.G.)(grifo nosso)

  • A ideia de que pesquisadores ligados à Academia tenderiam a uma leitura de alguma forma comprometida com fatores alheios á religião ou se utilizariam das entrevistas e diálogos usando-os em seus textos em arranjos que desagradam ou dos quais discordam os entrevistados[184]

  • A manipulação de respostas buscando por um lado demonstrar saber, por outro, silenciar determinados assuntos inerentes ao tema. No entender de Silva é possível obter maior ou menor colaboração por parte do entrevistado conforme este se sinta mais ou menos confortável em relação ao tipo de uso que o entrevistador pretende dar às informações obtidas.

"(...) Em vários momentos desta pesquisa, ter conversado com meus interlocutores sobre o projeto em si, meus objetivos e o uso que eu pretendia fazer das informações obtidas mostrou-se revelador de como o conteúdo ou as ênfases do que é dito podem se modificar.[185]"

Vivendo em sociedade o ser humano tende a enquadrar-se minimamente pelo menos, no pensamento sócio-cultural-religioso dominante, ainda que possa discordar do mesmo, ele estará gravado em seu inconsciente e provavelmente gerará algum tipo de autocensura nem sempre consciente, porém efetiva para além da censura social. Essa autocensura funciona também quando se trabalha com a memória - cuja natureza por si só é seletiva - e com o que poderá ser publicizado de alguma forma. A maioria dos que responderam aos questionários não fugiu a regra.

Em suma: apesar de entreouvidos em muitos terreiros e da parte de muitos umbandistas, não foram citados os medos e os cuidados que os médiuns e adeptos têm ao lidar com o "Povo de Rua". Esse temor é superado pelo fascínio que tais entidades exercem. A doutrinação de médiuns, entidades e frequentadores, vem provocando alguma mudança nessa relação, no entanto, o temor de desagradar tais entidades está presente, quase palpável ao conhecedor do meio. Antigos adágios de origem candomblécista como o que afirma que "Exu dá com uma mão e toma com a outra"; "Exu dá com uma mão e toma com as duas", estão enraizados no inconsciente umbandista e ainda levará tempo para que o processo de desdemonização consiga desarraigá-los das mentes umbandistas e do senso comum. São no entanto silenciados ante o pesquisador , o outro, o estranho.

Profanidades sacralizadas Exus e os elementos componentes do "Povo de Rua" enquadram-se perfeitamente no conceito do sagrado, são: "terríveis e fascinantes" .

Os silêncios por parte dos entrevistados, quando propositais, fazem lembrar uma frase de Richard Bach:

"Viva de modo a nunca se arrepender se algo que você faça ou diga for publicado pelo mundo afora – mesmo que o que for publicado não seja verdade.[186]"

Conclusão

Ao longo desta pesquisa foi possível acompanhar transformações e ressignificações sofridas pelo Orixá Exu desde sua "descoberta" pelo colonizador cristão ainda em sua terra natal, a África, até sua atual fase como entidade na Umbanda.

No Brasil, sob o nome "EXU" foram agrupados Orixás, Nkisses, e Voduns, cujas características arquetípicas muito assemelhadas permitiram ao colonizador e mais tarde ao senso comum brasileiro essa generalização. Em verdade, embora generalizados publicamente sob o nome iorubano "EXU" , os Orixás, Nkisses, e Voduns que foram classificados nessa categoria não perderam sua individualidade ante seus adeptos. Terreiros adentro Exu e Elegbara continuaram a ser os mesmos, com as mesmas características individualizadas que já existiam dentro das nações de origem iorubana, dando-se o mesmo em relação aos Voduns Légba e Eleguá dos Ewe-Fon Daometanos (Djeje) e com Aluvaiá e Pambo Njila, Nkisses dos Bantos Congo-Angolanos , e outros[187]

Chegados ao Brasil em diferentes épocas a partir do Séc. XVI, alocados em pontos diferentes do país, os escravos reuniram o que lhes restou do conhecimento religioso e ritualístico, readaptando-os às novas condições[188]Desta forma foram sendo criadas novas religiões, que denominamos afro-brasileiras. Cada uma dessas denominações religiosas foi diretamente influenciada pelo Catolicismo (obrigatório) imposto pelo colonizador a todos. Daí surgindo não apenas o sincretismo arquitetado pelo colonizador cristão, mas também a bricolagem que caracterizará tais religiões. No transcorrer dos séculos somar-se-ão a influência católica outras influências religiosas, quais sejam: as de origem ameríndia, as orientalistas, e aquelas oriundas do Espiritismo Kardecista. A dupla religiosidade se fará presente ao longo do tempo, assim, ter-se-á: candomblecistas-católicos, umbandistas-católicos, umbandistas-espíritas, umbandistas-candomblecistas etc. Sem que a prática de uma religiosidade interfira na prática da outra. Sendo, na maior parte das vezes, consideradas em compartimentos separados e paralelos no entendimento daqueles que as utilizam[189]

O Termo "EXU" passou então a denominar todas as divindades africanas que se enquadravam em dado arquétipo, e em fins do Séc. XIX e início do XX, acabou por ser utilizado como denominativo genérico também dos espíritos dos mortos (eguns) cujo arquétipo se enquadrava no do Orixá africano de mesmo nome. Esses espíritos começaram a comparecer aos cultos afro-brasileiros, em especial às Macumbas Cariocas de onde não eram expulsos por sua condição de eguns (como ocorria nos cultos de origem jejê–nagô), mas aceitos como antepassados, dada a primazia do fundamento banto presente nas Macumbas Cariocas sobre os "purismos[190]apontados por Nina Rodrigues como característicos dos terreiros povos de origem jejê–nagô.

Nas Macumbas Cariocas esses elementos espirituais, transformaram-se em "entidades" cuja pertença foi inicialmente negada ou restritivamente aceita pela(s) Umbanda(s) (1908) e plenamente assumida pela(s) Quimbanda(s). Ambas provenientes das Macumbas. O mesmo ocorrerá com essas e outras entidades consideradas como eguns (caboclos, preto-velhos, etc.) pelos candomblés mais tradicionais, o que no entanto, não impedirá a falange do "Povo de Rua" de ser aceita, em terreiros menos apegados à tradição, à título de "Compadres" [191]

Cabe notar que apesar de enquadrarem-se razoavelmente no arquétipo trickster do orixá Exu, seu estereótipo representa os tipos nacionais mais marginalizados pela sociedade abrangente. Inicialmente são imaginados com as mais toscas e diabólicas figuras. Assim suas primeiras imagens são representações que possuem chifres, rabos, pés de bode, ou , no caso feminino, pouca a nenhuma roupa , posturas indecentes, etc. Em ambos os casos as representações acima são reflexos do imaginário europeu, fazendo referência aos demônios bíblicos (masculinos e femininos).

A Umbanda por influência de adeptos do Espiritismo Kardecista – este último relativamente bem aceito pela sociedade e pelo Estado – inicia seu processo de legitimação a partir da segunda década do séc. XX.

O projeto de legitimação da Umbanda embora sem negar a presença afro-indígena na ritualística, buscou oferecer origens mais antigas que as africanas à religião, e aproximá-la do Espiritismo Kardecista. O Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda (1941) além de buscar a legitimação pretendia também dar uma explicação pública e cientificista aos fenômenos umbandistas. E ainda, se não codificar, ao menos estabelecer uma doutrina que unificasse o culto[192]As origens "milenares" da Umbanda aparecem a partir das obras daqueles que Artur Cesar Isaia denomina como "intelectuais de Umbanda ". Esses senhores e senhoras buscaram através de uma visão evolucionista, legitimar a Umbanda aproximando-a de origens antiquíssimas tais quais as religiões de povos perdidos no tempo como os da Lemúria e Atlântida ou mais recentes como os povos egípcios e hindus.[193]" O projeto e o momento político, além do próprio preconceito de seus membros não eram em nada compatíveis com a figura demonizada de Exu. Sobre ele e seus companheiros do "Povo de Rua" nenhuma linha foi gasta nos textos dos congressistas de 1941. Silenciaram sobre Exu, mas não a Exu.

Em verdade, é preciso reconhecer que desde o inicio da Umbanda houve e ainda há muitas umbandas diferentes. Aquelas que se mantiveram mais próximas ao africanismo e às formas cultuais das antigas Macumbas aceitaram a presença e a pertença de Exu e do "Povo de Rua" como parte da Umbanda que praticavam. Outras escolas mais próximas ao pensamento Kardecista, cujos membros eram pertencentes às classes médias intelectualizadas e politizadas comprometidas com a legitimação da religião, afastaram, esconderam ou negaram a pertença dessas entidades à Umbanda. Entre umas e outras, variantes não faltam.

Outros motivos podem ser alegados: a imagem demonizada e Trickster dessas entidades que as faziam ( e talvez ainda façam) "perigosas" ante os olhos do público e de parte dos umbandistas; as incorporações dessas entidades em si, "fáceis demais", a tal ponto que, qualquer um, mesmo um "mau médium", poderia trabalhar com elas (Zélio de Moraes); o fato de terem sido vinculadas à ideia da magia negra; as imagens demonizadas que criaram para representar as entidades ( com chifres, pés de bode , rabo, ou seminuas), as letras de seus próprios pontos cantados e sua forma de apresentar-se, o desconhecimento de muitos sobre como tratá-las e controlá-las, etc. Tudo isso agiu contra a aceitação do "Povo de Rua" nos anos iniciais da Umbanda. Somem-se a isso, outros elementos presentes na primeira metade o séc. XX, os anos iniciais da Umbanda: a discriminação racial, social e religiosa ( principalmente contra negros e pobres) e a criminalização de seus membros, muitas vezes, acusados, presos e processados por prática de feitiçaria, curandeirismo, prática ilegal da medicina ( o que também alcançou os kardecistas da FEB), etc...

Outros fatores contribuíram para dificultar a vida dos umbandistas, principalmente àqueles de menor poder socioeconômico: os altos índices de analfabetismo, as distâncias, as dificuldades de comunicação, a prevalência da oralidade e do empirismo conjugadas a uma mitologia manipulável e ritualísticas quase individualizadas de terreiro a terreiro.

O não dogmatismo, a não codificação acabaram por prevalecer apesar de todas as tentativas dos intelectuais e teólogos umbandistas de codifica-la e unifica-la ao longo do seu século de existência. Embora diversas escolas de pensamento umbandistas tenham se formado neste período elas estão longe de conseguir entender-se entre si e mais distantes ainda de obter a codificação ou mesmo de conseguir que seu novo lema - um tanto mais modesto e realista – "a unidade na diversidade" se realize.

Nem o esquecimento silencioso a que foram relegados durante o I Congresso de Espiritismo de Umbanda ( e até hoje em diversos templos umbandistas), nem as tentativas de "embranquecimento" e "moralização" porque passou e ainda passa a Umbanda, nada disso impediu que Exus, Pombagiras, Exus-mirins e Malandros (as) permanecessem onde já estavam. Nem que penetrassem nos terreiros por frestas nem sempre bem vedadas. Aceitassem ser "tratados e cuidados" às escondidas ( muitas vezes, até dos próprios médiuns dos terreiros), ou se dispusessem a ser chamados somente quando muito necessários ou se fosse imprescindível sua presença para o bom andamento dos trabalhos. Assim, mesmo quando peremptoriamente negados, estiveram sempre presentes.

Senhores dos caminhos e encruzilhadas, do movimento, das comunicações, dos desejos. Capazes de passar pelas mais ínfimas fissuras, penetrando os ambientes mais improváveis. Ases em sambar "na lama de sapato branco/.../ salvando o verniz[194]Escorregadios, astutos, persistentes e acima de tudo necessários, os elementos formadores do "Povo de Rua", saíram do mundo das sombras. De diabos tornaram-se Guardiões da Luz. De malvados seres praticantes de Magia Negra passaram a Justos Executores do Karma, cumpridores da Lei. De rejeitados, excluídos, marginalizados, tornaram-se respeitáveis senhores que policiam o Astral Inferior resguardando a Ordem Universal em nome e por amor da Divindade Suprema.

As Pombagiras historicamente condenadas pelo moralismo vigente na sociedade, representantes primárias do requerimento dos direitos femininos ao desejo, ao amor, à liberdade, ao prazer, por isso taxadas como mulheres da vida, prostitutas, perdidas, pecadoras, hoje são entendidas de forma diferente. Seu poder sobre o desejo saiu do reduzido espaço referente à sexualidade e transformou-se em responsável pelo "fator estimulador"[195] do desejo construtivo atinente a todos os ideais a conquistar pelo ser humano e ao mesmo tempo pelo "fator punidor da Lei e da Vida"[196] no que tange aos desejos destrutivos. Sem desejo não há ação. Saraceni a faz Orixá da Umbanda e Guardiã dos Infernos Intimos e Internos (sentimentos negativos) do ser humano.

Por conta de tais mudanças na percepção umbandista sobre Pombagira ( e demais entidades do "Povo de Rua") houve queixas contra um conto de Reginaldo Prandi publicado na Folha de São Paulo por ocasião da homenagem ao centenário da Umbanda. O artigo "Coração de Pombagira", como responde Prandi aos queixosos, seu texto é um conto e não difere muito das histórias exemplares contidas em diversas outras obras umbandistas ou ouvidas pelos corredores e salões dos terreiros. Segundo o sociólogo: "O que acontece depois de sua morte, num plano espiritual, é outra coisa. Em alguns terreiros (em face da diversidade do campo umbandista) pombagiras podem ser "batizadas" à moda cristã e redimidas como figuras virtuosas"[197]). Prandi vai exatamente ao ponto: a remissão pós-morte. Essa remissão se realiza não somente para as Pombagiras, mas para todas as entidades do "Povo de Rua". O que há de diferente é a visão dos umbandistas com relação a essas entidades. Se suas histórias mais antigas apontavam para defeitos de caráter e abusos de sexualidade. Hoje apontam outros tantos erros, outras tantas razões para que se encontrem no patamar espiritual das Pombagiras. Umbandistas comprometidos com uma nova imagem que vem sendo construída para as Pombagiras, indignaram-se portanto, com a crueza da escrita do pesquisador. Prandi os relembrou das historia, do imaginário original sobre a entidade.

As mudanças da prática cotidiana são mais rápidas do que as das mentalidades, diga-se antes, que são as realidades cotidianas que forçam as mudanças nas mentalidades. Tal queixa dos umbandistas comprova o fato de que está havendo um lento e gradual processo de desdemonização de tais entidades, embora nem sempre os umbandistas o percebam de forma consciente. O processo de transição entre a antiga figura da Pombagira como a de uma mulher prostituída e má e a nova figura cujos erros foram diversos e nem sempre ligados a questões sexuais ou à maldade pura e simples e cuja remissão post-mortem é clara no imaginário de boa parte dos umbandistas, ainda levará tempo para ser assimilada pelo todo. Aqui também se pode perceber o silêncio como cooperador para o esquecimento dos arquétipos passados em benefício de novas visões arquetípicas criadas ( ou reveladas) para desdemonizar a entidade. O mesmo se pode dizer quanto a outras entidades do "Povo de Rua", passam pelo mesmo processo, cada qual sofrendo a adaptação necessária para seu enquadramento no imaginário como Guardião da Lei e da Luz nas Trevas, Executor do Karma, paralisador e frenador dos espíritos trevosos ou em processo de derrocada moral e espiritual.

Não satisfeitos com seu acolhimento na Umbanda e em alguns Candomblés, Exus e seus companheiros partiram em direção às Encantarias Brasileiras. Fizeram-se presentes no Jaré da Chapada Diamantina como "Exus caboclizados[198]no Terecô de Codó[199]nos Candomblés de Caboclo[200]nos catimbó-Juremas do Recife[201]Nesse ir e vir de entidades, Zé Pelintra faz um percurso curioso: de Mestre Juremeiro do Nordeste, na Umbanda no Rio de Janeiro virou Malandro Carioca, em São Paulo pode aparecer como Baiano ou Exu, e através da" umbandização" das religiões afro-brasileiras, retornou ao Nordeste. Agora além de Mestre Juremeiro, também como Exu.

O Kardecismo, ao menos o heterodoxo, vem se rendendo, e aos poucos, reconhecendo o e existência e a importância do trabalho desses guardiões (Exus). As entidades do "Povo de Rua", vêm aparecendo em romances kardecistas disfarçadas sob o nome de soldados, guardiões, há algum tempo. Agora surgem nas obras mediúnicas do autor espiritual Angelo Antônio psicografadas por Robson Pinheiro, conjuntamente com Caboclos e Pretos Velhos como Exus-Guardiões, cuja colaboração nos trabalhos dos Seareiros do Bem é reconhecidamente necessária e benéfica, garantindo proteção a encarnados e desencarnados contra espíritos trevosos e maus.

Os Exus e Pombagiras ouviram os clamores de pastores neopentecostais e gentilmente, se fizeram presentes (ou no dizer dos umbandistas: foram e são mistificados por quiumbas e espíritos trevosos), num eterno ir e voltar, incorporar para ser exorcizado, repetidamente, aumentando assim a massa de crentes em sua existência para bem ou para mal. Tornaram-se voluntariamente ou não, parte importantíssima da construção religiosa e do sucesso dessas Igrejas. É preciso observar então que é parte constituinte de seu arquétipo não deixar de atender aqueles que dele se lembram. E que em verdade, como não se busca juízo de valor sobre a entidade, também não se discutiu a veracidade de sua identidade, aceitando o olhar da cada seguimento religioso como válido para sua crença.

O que mantém os deuses vivos é que se lembrem deles. Um deus ( ou entidade) pode ser amado ou odiado, temido ou respeitado, chamado para a festa ou despachado para não perturbar, ele só não pode ser ignorado ou esquecido. Exu, agora como antes, no Brasil como na África, como bem contam suas lendas, quer é ser lembrado, cultuado. Tudo sabe da vida dos homens e da vontade dos deuses. Fala por uns aos outros. Tudo movimenta tudo intermedia. Só não aceita ser esquecido nem se conforma em ser rejeitado. Pode até ser tratado de forma nada lisonjeira, mas ainda assim, para ele, é: "Falem mal, mas falem de mim!"

A repaginação positiva das entidades do "Povo de Rua", não é nova. Faz parte de um processo que começou timidamente em meados do século passado. Se Matta e Silva os colocou como "Senhores da Quimbanda" e a esta como parte passiva da Umbanda, Rivas Neto os fez Guardiões Planetários, Agentes Magísticos e Senhores do Karma, Saraceni os alçou a "Orixás da Origem da Criação", Guardiões e Mistérios Divinos sustentadores dos pólos negativos das forças da Natureza. Sua candidatura ao orixalato aliás, foi prevista por Omolubá anos antes (1978).

Buscou-se saber o que pensam os umbandistas e como são tratadas no cotidiano dos terreiros essas entidades. Os resultados demonstram que o processo de desdemonização de Exu e seus companheiros do "Povo de Rua" vem obtendo êxito ao menos entre os umbandistas. Hipótese levantada referia-se à influência de fatores como a evolução educacional/instrucional, assim como à revolução tecnológica e a ampliação do acesso aos meios de comunicação de massa. Ficou comprovado que tanto o aumento do nível instrucional quanto o uso de ferramentas de comunicação como a internet, entre outras, tem um grande peso no processo de desdemonização.

Não obstante o fato de Exus e Pomba giras serem figuras demonizadas pelo senso comum e por outras religiões, para os umbandistas que responderam a pesquisa , assim como para a maioria dos que participam de redes sociais e grupos de discussão na internet, apesar de controversos , eles são considerados hoje, ao menos publicamente, como sendo espíritos em evolução ( como todos os outros) , porém nem demoníacos nem ligados ao Mal absoluto.

Para os entrevistados, são espíritos que na Umbanda exercem função de Guardiões da Lei e da Luz que trabalham nas Trevas. São executores do karma individual e coletivo. Agem independentemente da moral judaico-cristã ( ou qualquer outra) vigente , realizando apenas aquilo que lhes ordena a Lei Maior. Estão presentes em todas as religiões embora apareçam com outras nomenclaturas, permanecem em suas funções.

Bem e Mal para essas entidades assim como para os umbandistas que lidam com elas, devem ser relativizados e analisados a partir da "Lei de Causas e Efeitos", da "Lei do Retorno". Exus e Pombagiras são considerados justos em seus atos, por executarem o que dita a Justiça Divina. São amigos, leais, confiáveis. Riem, brincam, mas levam seu trabalho a sério. Abrem caminhos para os que têm merecimento e fecham passagens para aqueles que vindos das trevas pretendem perturbar a ordem. Paralisam, frenam aqueles que de alguma forma estejam indo contra os ditames da Lei Maior. Vitalizam, movimentam, energizam. São excelentes com trabalhos de magia, desobsessões, desmanche de magia negra (anti-goécia), e demandas. Exus e Pombagiras são: Ação!

Considerados como as entidades mais próximas aos seres humanos, ( mais terra-a-terra), por consequência mais aptos a compreender as falhas e erros das criaturas , a orientá-las, auxiliá-las em sua evolução espiritual e material, são por isso mesmo os elementos mais procurados para desabafos e confissões.

O aumento da produção e edição de livros e artigos sobre o assunto (e do acesso a eles), sejam eles de origem teológico-doutrinária ou acadêmica, assim como a construção de sites, a participação de umbandistas em grupos de debate na WEB e em comunidades específicas em sites de relacionamento como o Orkut, e mesmo a criação de redes sociais específicas para debater as religiões afro-brasileiras (RBU, REUCA, etc.) facilitaram o contato, a troca de informações e conhecimentos entre os umbandistas. O oferecimento de cursos presenciais e EAD, e a criação do site Sarava Umbanda e da lista de debates com o mesmo nome, da RBU- Rede Brasileira de Umbanda por Manuel Lopes [202], do Colégio de Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda ( Rubens Saraceni 1999) e da FTU- Faculdade de Teologia Umbandista ( Rivas Neto -2003), entre outros, complementam e confirmam o quadro referente a tal hipótese.

Questiona-se o motivo pelo qual o processo de desdemonização foi implementado. Conclui-se que a desdemonização do "Povo de Rua" é motivada por vários fatores, nem todos recentes. Entre os mais antigos deve citar-se a procura do público pelas Giras de Exus, que como visto, são aquelas que mais enchem os terreiros. O que aponta para questões de ordem financeira e mercadológica: maior número de assistentes nas giras significa também uma maior arrecadação das cantinas dos terreiros, maior propaganda do templo e consequentemente um provável aumento do números de adeptos e frequentadores, muitos dos quais se tornam "sócios" dos terreiros através do comprometimento do pagamento de uma quantia mensal conforme a possibilidade de cada um. Há entre os umbandistas e praticantes das religiões afro-brasileiras (em termos de senso comum) a ideia de que quanto mais cheio fica um terreiro melhor ele é, maior a sua eficácia em responder as demandas de seus adeptos e frequentadores. E o "povo de Rua" é reconhecidamente especialista em resolver demandas e trabalhar com energias mais densas e "pesadas".

Um terreiro cheio tem várias significações:

1 - Indica que aquela parcela de fiéis afeita a determinado terreiro:

a) não está no terreiro concorrente,

b) não abandonou a religião, e

c) não se converteu a outras religiões , principalmente às neopentecostais. O que em geral, cria problemas de relacionamento para os adeptos dos cultos afro-brasileiros da família do convertido.

2 – É indicador de "qualidade" dos serviços religiosos por ele oferecido. E, por conseguinte de prováveis propagandas boca-a-boca positivas.

Ora, a demonização do "Povo de Rua" é, portanto, uma barreira a ser derrubada para que as casas de Umbanda fiquem mais confortáveis para trabalhar publicamente com tais entidades sem que por isso sejam acusadas de praticarem o Mal , ou cultuarem o diabo. Em benefício de tal projeto em vários templos, são oferecidos cursos sobre temas relativos à religião e suas entidade e há preleções antes das giras com explicações sobre quem são as entidades de Umbanda e quais são suas funções.

Não se pode esquecer que a desdemonização passa por uma moralização, e por uma releitura dessas entidades e igualmente por uma relativização do olhar sobre seus erros passados. Em muitos autores o termo "revelação" se fez presente quando escreveram sobre Exus: Rivas Neto, Rubens Saraceni e Omolubá fazem "revelações" sobre essas entidades. O uso do termo "revelação" por si só já é um chamariz e um argumento de marketing utilizado pelos autores em suas obras. Mas nesse caso, especificamente, é usado com a pretensão de "tirar Exus das Sombras" "levantando os véus que encobrem" suas reais funções, clarificando e justificando sua existência, necessidade e utilidade.

É preciso também lembrar outros usos do termo "revelação[203]quando se trata de religiões. Existem as religiões reveladas (VER A EXPLICAÇÃO TÉCNICA), e o "Livros das Revelações", o Apocalipse Bíblico. E os autores umbandistas " revelam" a verdade sobre os Exus. Essas "verdades" reveladas caminham sempre e cada vez mais no sentido de desdemonizar Exus e de colocar-lhes em posições que os classificam como abnegados e justos servidores da Luz e da Lei, muitas vezes como seres iluminadíssimos.

Se São Paulo foi "O Melhor Marqueteiro Do Mundo[204](Og Mandino), os autores marqueteiros de Exus e Pombagiras estão seguindo-lhe os passos na medida do possível. Em nenhum dos questionários respondidos houve admissão de que essas entidades sejam consideradas, de alguma forma, o diabo ou demônios. Pelo contrário são defendidas convictamente e tidas como defensoras do Homem e da Lei Divina, atuando contra as entidades trevosas ou quiumbas, que mesmo estando em estágio evolutivo atrasado, ainda terão a eternidade para se regenerarem e dirigirem-se à Luz. Agentes do Karma protegem o homem de até de si mesmo quando lhes é permitido.

Se o Orixá Exu é o mais próximo ao ser humano, o "mais humanizado dos orixás". As Giras de Exu e de seus companheiros do "Povo de Rua" é aquela em que os humanos deixam cair suas máscaras sociais. É nas conversas e consultas com essas entidades (amigas, fiéis, compreensivas) que o homem se mostra "humano, demasiado humano", com todas as suas imperfeições e segredos que muitas vezes quer esconder de si mesmo.

Por isso suas giras e festas ficam tão cheias. Nelas a liberdade de ser o que se é parece estar presente, ainda que somente em um curto momento em que o consulente e a entidade parecem estar a sós.

Outra hipótese levantada é a de que a desdemonização dessas entidades, por extensão das religiões afro-brasileiras como um todo, seja uma resposta à demanda demonizadora e inquisitorial promovida pelas igrejas neopentecostais em especial a IURD. A esta hipótese pode-se responder igualmente de forma afirmativa. Cansados de serem acuados e demonizados, indignados com o "mau uso" realizado pelos pastores em relação às entidades, os umbandistas vem lutando para esclarecer a sociedade. Para umbandistas e candomblecistas quem se faz passar por Exus, Pombagiras e outras entidades e orixás de Umbanda e Nação nos templos neopentecostais são os eguns ( espíritos dos mortos ainda não doutrinados ou espíritos trevosos), nunca uma entidade ou orixá verdadeiro se sujeitaria a tal procedimento.

Alguns umbandistas conseguem perceber o bem que tais igrejas, apesar de praticando um "mau uso" dessas entidades, conseguem gerar sobre os espíritos de alguns aflitos, restaurando a esperança, ainda que através do temor. Esse grupo defende a ideia de que a função de tais igrejas é paralisar a queda moral, espiritual e física daqueles que incapazes de se regenerarem por amor e pela própria consciência necessitam de uma doutrina mais rígida e aterrorizante. Para que essa paralisação, essa frenagem na degradação moral seja possível, são auxiliados por guardiões/Exus, ou mesmo são guardiões/Exus encarnados especificamente para tais missões.

Como informado no início, não cabe juízo de valor sobre o assunto. Respeitadas a crença e o modo de ver o mundo de cada seguimento, o fato é que existem os Exus e as entidades componentes do "Povo de Rua". Que são vistos e tratados de forma diferenciada ao longo do tempo e espaço pela diversas denominações religiosas que de uma forma ou de outra com ele tiveram ou mantém contato mais ou menos intimo. No que diz respeito à Umbanda em seu relacionamento e entendimento diversificado com Exus e o "Povo de Rua", pode-se concluir que houve e ainda estão havendo modificações nesse relacionamento. As modificações apontam para desdemonização que vem sendo exercida através:

  • 1. Da repaginação imagética e arquetípica;

  • 2. Do uso do marketing positivo através de cursos, debates, palestras e outros meios de conscientização (direta e indireta) dos fiéis e da sociedade;

  • 3. Das mídias via sites, redes de relacionamento, comunidades específicas do Orkut, etc.

  • 4. Dos meios editoriais pelo lançamento de livros (romances mediúnicos ou teológicos) que divulgam e "revelam" novas visões sobre as entidades.

O curioso é notar que no processo de desdemonização do "Povo de Rua", as ditas "revelações" e os esclarecimentos sobre essas entidades acabaram por levar entidades cujo arquétipo inicial está reconhecidamente ligado à desordem a tornarem-se "Guardiãs da Lei e da Luz nas Trevas", "Executoras da Lei Divina" e, portanto, responsáveis pelo equilíbrio e a manutenção da ordem. Pode-se afirmar que seja uma inversão considerável na imagem do "Povo de Rua": de demônios desordeiros e maus a representantes do Alto, servidores da Lei Divina exercendo funções de manutenção da ordem, punição de desordeiros, abertura de caminhos para os merecedores e proteção de todos.

Enfim, pensando em continuidades desde o orixá Èsù africano à entidade Exu umbandista um longo caminho foi percorrido. Alguns quesitos arquetípicos permaneceram intocados : a alegria, o poder, a sedução, a força da comunicação, o axé, o dinamismo. Outros foram se modificando ou esmaecendo ao longo do tempo e no espaço: a característica iracunda, a falta de bom senso, a inconsequência, a irresponsabilidade, a sexualização excessiva expressa por sua faceta fálica.

Èsù/Exu orixá continua temível, amado e respeitadíssimo entre seus adeptos nos cultos de Nação. Como entidade umbandista, em geral, Exus e o "Povo de Rua" se submetem aos padrões doutrinários e comportamentais de cada templo, ao menos enquanto estão presentes nas giras. Tal submissão vem melhorando sua imagem ante os umbandistas e frequentadores de terreiros. Que propagandeiam sua nova condição de Guardião da Luz.

O que não mudou e sobre o que não se abre discussão é quanto ao imenso poder de Exu (orixá ou entidade). Mesmo entre as denominações neopentecostais que o caçam como demônio, é reconhecido como poderoso. Tão poderoso que enxotado, volta, para ser novamente enxotado e assim sucessivamente. Continua, portanto, senhor de um poder que pode ser afastado por pouco tempo, mas sempre retorna.

Conclui-se que o movimento de desdemonização de Exus é real, caminha lentamente, busca responder a demandas diversas que vão do mais interno à Umbanda, passando questões ideológicas, teológicas e materiais, e igualmente aparecendo como uma resposta aos demais credos e à sociedade abrangente.

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